Prefeitura tomba imóvel do restaurante La Fiorentina, no Leme
Palco de momentos memoráveis da cena cultural carioca, o restaurante La Fiorentina, no Leme, acaba de ter seu imóvel tombado pelo prefeito Eduardo Paes. O decreto estabelece que qualquer intervenção física no bem deve passar antes pelo crivo do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro. A medida leva em consideração a importância histórica e cultural do La Fiorentina, inaugurado em 1957, e o fato de a casa compor o skyline da orla de Copacabana, que integra o Sítio Paisagens Cariocas, reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial.
Além disso, para a prefeitura, o restaurante é um dos responsáveis pela conservação e preservação, no seu trecho da orla, do paisagismo de Burle Marx no calçadão de Copacabana, o maior mosaico de pedras portuguesas do mundo, também tombado pelo município. O endereço sempre foi ponto certo da boemia intelectual do Rio, incluindo artistas do teatro, TV e cinema. Ficou para a história a frase do cineasta Anselmo Duarte após vencer a Palma de Ouro em Cannes com “O pagador de promessas”: “Ganhar a Palma de Ouro é fácil. Difícil é fazer sucesso na Fiorentina”.
Sócio do restaurante, Omar Peres, o Catito, lembra que a Fiorentina chegou a fechar as portas, sem data de reabertura, no auge da pandemia. Mergulhada numa profunda crise, por pouco, a casa não deu adeus em definitivo. O drama ali movimentou artistas e intelectuais, que fizeram um abaixo-assinado com cerca de dois mil nomes pedindo seu tombamento. Catito diz que uma dívida cobrada na Justiça contra ele ameaçava fazer do restaurante uma agência bancária ou de automóveis.
– Para a gente e para o Rio o tombamento muda muita coisa. Porque aquilo lá não é um simples restaurante: é uma referência cultural da cidade. Agora, ninguém mais pode tocar no prédio. Há um banco que tenta tomar o imóvel para transformá-lo em agência de automóvel – afirma o empresário. – As colunas autografadas estão preservadas. Ninguém mais pode mudar o layout da casa.
Um fato inesquecível no La Fiorentina foi a celebração dos 80 anos de Tônia Carrero, que era habituée. Nas paredes, assinaturas famosas, como de Fernanda Montenegro, Pelé, Erasmo e Roberto Carlos, fazem do local um ponto turístico. No cardápio cheio de história, o mais pedido é o “filé ao porre”, um simples prato com filé mignon, arroz, feijão e batata frita, que promete curar qualquer ressaca. Hoje em dia, vivendo uma maré mais tranquila, o negócio, para alegria dos boêmios, tem fechado de madrugada, depois das 2h.
O tombamento, por enquanto, tem caráter provisório, porque antes de virar definitivo precisar passar por um processo administrativo dentro da prefeitura. O decreto considera que a Câmara aprovou medida semelhante em relação ao imóvel, sendo que o projeto de lei acabou vetado por inconstitucionalidade. O La Fiorentina já fazia parte do cadastro dos Negócios Tradicionais e Notáveis da cidade.