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Glocal Experience: soluções possíveis e sustentáveis para uma realidade desafiadora

Para os quatro pilares que, de 13 a 17 de julho, nortearam os debates da Conferência da Glocal Experience — água, clima, energia e resíduos —, lideranças de diferentes setores propuseram respostas viáveis para uma realidade desafiadora. Quando o tema foi saneamento, por exemplo, lembrou-se que, só no Brasil, são 6 milhões de pessoas sem acesso sequer a um banheiro, o que revela a urgência de um pacto para mudanças.

Nesse rumo, representantes das concessionárias de saneamento do Rio concordaram não só com investimentos em obras, mas também num trabalho de mobilização nas comunidades, onde a falta de esgotamento sanitário e as dificuldades de abastecimento de água são mais evidentes.

No que se refere ao lixo, para além do aumento da reciclagem, Julia Luchesi, coordenadora de projetos na Manuia Brasil, propôs modificações na forma de consumir:

— São necessários muitos esforços para redesenhar as maneiras como os produtos são entregues. Soluções a granel e refis têm sido utilizadas.

Sobre os mais diferentes assuntos, novas regulações e políticas públicas mais comprometidas e com melhor governança dos projetos também foram citadas como fundamentais. No que se refere à transição energética para fontes mais limpas e renováveis, destacaram-se os potenciais do Brasil. O alerta, porém, foi de que essas possibilidades têm de ser bem aproveitadas.

— Acho importante focar na energia dos oceanos, uma vez que temos grande conhecimento da nossa costa — disse Suzana Kahn, engenheira e professora da Coope/UFRJ. — Mas é preciso uma estratégia.

Sandro Yamamoto, diretor técnico da Associação Brasileira de Energia Eólica, destacou que, nesse processo transitório, devem ser reduzidos obstáculos para investidores:

— O grande desafio é a segurança jurídica, para poder investir sem surpresas.

Por fim, sobre as mudanças climáticas, foram reivindicados múltiplos protagonismos, dos povos da Amazônia à população das grandes metrópoles. E uma saída que já se mostrou factível para modificar os cenários, apontaram os palestrantes, é o mercado de carbono.

Além disso, tornar a agenda ESG (sigla em inglês para environmental, social and governance) imperativa nos conselhos das empresas foi uma das proposta de Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável.

Paralelamente à Conferência, o evento na Marina contou com uma Expo, que juntou, entre outros, artistas de influência nacional, como Leandra Leal, MV Bill e Regina Casé, e empreendedores pioneiros em segmentos como moda e produção visual.

Conheça algumas das propostas apresentadas pelos palestrantes

Água

ESGOTO: Universalizar o saneamento (hoje são 5.336 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento despejadas por dia na natureza) para reduzir poluição de rios, lagoas e oceano.

COMUNIDADES: Garantir investimentos em saneamento nas favelas, ao mesmo tempo em que se contém a ocupação irregular do solo.

DESPERDÍCIO: Reduzir as perdas na distribuição de água, que hoje chegam a 40% na média nacional.

ENGAJAMENTO: Ampliar aportes em educação ambiental para, desde cedo, mobilizar as pessoas a entenderem saneamento como um direito.

Clima

AQUECIMENTO GLOBAL: Foco na redução da emissão de carbono, ao passo que se fortalece o mercado de créditos de carbono para acelerar a transição para uma economia “net zero” (saldo entre emissões e remoções de carbono igual a zero).

PROTAGONISMO: Trazer quem vive nos territórios, como os povos indígenas da Amazônia, para participar e ser corresponsável nos debates sobre clima.

PRESERVAÇÃO: Encontrar a melhor equação entre economia, geração de renda e emprego com conservação das florestas.

Energia

TRANSIÇÃO: Promover uma transição energética justa, garantindo acesso a energia limpa e renovável, como as fontes eólica e solar, além da biomassa.

NOVA MATRIZ: Capacitar trabalhadores da indústria fóssil para atuar na renovável, além de envolver as comunidades nas decisões sobre energia.

VEÍCULOS: Com o transporte público responsável por mais de 30% das emissões de poluentes nas cidades, promover soluções sustentáveis e escaláveis para veículos que utilizem energia mais limpa.

Resíduos

RECICLAGEM: Investir na reciclagem dos resíduos sólidos (apenas 4% deles são reaproveitados hoje no Brasil), valorizando cooperativas e associações de catadores.

EMPRESAS: Setor privado deve assumir responsabilidades enquanto gerador de resíduos, que deve ser tratado como um valor, em vez de algo que pode ser jogado fora. Empresas também devem realizar a logística reversa dos resíduos, não deixando apenas para o consumidor a destinação do lixo.

EMBALAGENS: Além de reduzir o consumo de embalagens, com soluções como refis, desenvolvimento de alternativas sustentáveis, com produtos que possam de fato serem reaproveitados (20% do que se põe nas embalagens hoje não têm como ser reciclados).

PARCERIAS: Ampliar a simbiose industrial, quando empresas se organizam em parcerias sustentáveis, com intercâmbio, por exemplo, de resíduos, água e energia, com intuito de reduzir os impactos da atividade.

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