Jardim de Alah terá plano de recuperação pela iniciativa privada
RIO – Inaugurado em 1938, com projeto em estilo Art-déco do arquiteto francês Alfredo Agache, o Jardim de Alah, localizado entre Ipanema e o Leblon, já foi um point da cidade. Na década de 1950, famílias se divertiam brincando de pedalinho nas águas do canal. Em meio a um cenário de abandono nos últimos anos — chegou a servir como canteiro de obras para a implantação da linha 4 do Metrô – o espaço de 85 mil metros quadrados terá um projeto de revitalização para tentar atrair mais frequentadores. A prefeitura lança até setembro uma concorrência para que a iniciativa privada explore a área. Quem ganhar o contrato, válido por 35 anos, terá que reurbanizar o parque, implantando vagas subterrâneas de estacionamento, mas mantendo a gratuidade de acesso ao público.
A ideia da prefeitura, ainda vista com reserva por moradores e frequentadores da área que dizem desconhecer o projeto, é que a área passe a servir de fato como uma área que se integre com a Lagoa Rodrigo de Freitas e os bairros do Leblon e Ipanema. Por isso algumas premissas já estão definidas. Uma delas é a construção de uma rua apenas para pedestres ligando as duas partes do Jardim de Alah. Com as vagas subterrâneas, as áreas que hoje servem de estacionamento seriam incorporadas ao parte.
O espaço também manteria uma área delimitada para o lazer de animais de estimação (”parcões”) que pode permanecer no mesmo local ou ser remanejado. Inicialmente, a prefeitura estima que a reformulação leve pelo menos 180 dias a partir da assinatura do contrato. As obras a cargo da iniciativa privada são estimadas entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões.
— Em contrapartida, o vencedor da concessão terá 7 mil metros quadrados da praça para desenvolver atividades comerciais além do espaço para estacionamento. Podem ser restaurantes, bares e áreas reservadas para shows e eventos pagos — explicou o secretário municipal de Coordenação Governamental, Jorge Arraes. — Será uma licitação de preço (valor oferecido à prefeitura pelo contrato) e técnica (o plano para ocupação do espaço), o plano final de ocupação será decidido na licitação — disse Arraes.
As orientações para o edital de concessão constarão de estudos desenvolvidos por dois grupos que por iniciativa própria desenvolveram planos para revitalizar a área, que serão homologados nesta terça-feira. O município decidiu que na modelagem incorporar as sugestões de duas propostas distintas. O primeiro projeto é da Magus Investimentos enquanto que o segundo reuniu quatro empresas lideradas pela Accioly Participações, do empresário Alexandre Accioly.
Arraes diz que o próximo passo será apresentar o projeto em audiências públicas. A prefeitura estuda implantar o modelo em outras áreas públicas da cidade.Um estudo está nesse sentido está sendo elaborado para o Parque da Catacumba (Lagoa).
A proposta não é consensual entre os frequentadores. Integrante do Grupo de Proteção ao Jardim de Alah, a gerente de projetos Karin Morton, lembra que em 2000, o ex-prefeito Marcelo Crivella chegou a anunciar um plano para revitalizar o espaço. A proposta previa que moradores da região arcariam com o custo de recuperar e manter o espaço, mas mantendo as características existentes. Na época, a estimativa seria que as intervenções custariam R$ 2 milhões:
— Isso foi pouco antes do início da pandemia, por isso, o projeto não andou. Ocupar o lugar com bares e restaurantes não é o que queremos. O que a gente quer são mais árvores, menos quiosques e respeito a um bem tombado O Jardim de Alah fica no entorno de um espaço residencial. Mais atividades econômicas vão gerar barulho e outros transtornos. Essa é uma área verde importante para a cidade, que merece ser recuperada, mas sem descaracterizá-la — defendeu Karin.
O economista Sérgio Besserman, por sua vez vê a proposta com simpatia, embora seja contrário a implantação de um estacionamento subterrâneo, gerando trânsito na região. Para ele, isso não faria sentido, na medida em que uma das estações da Linha 4 (que leva o nome do Jardim de Alah) atenderia perfeitamente ao público que frequentasse o local.
— Há anos, o Jardim de Alah é um dos ativos menos usados do Rio de Janeiro. Toda grande cidade turística tem uma referência urbana, uma espécie de passarela pública. Paris, por exemplo, tem a Champs Élissé; enquanto que Nova York, a Quinta Avenida. O Rio não tem algo assim: o turista que vai a Copacabana, por exemplo, visita a área pela praia; e não pela Avenida Atlântica. O Jardim de Alah tem tudo para ser esse elemento ao servir de passarela ligando a Lagoa às praias de Ipanema e do Leblon.
Besserman avalia que uma reformulação da área para atrair mais gente seria importante para a localidade:
— O que provoca sensação de insegurança é que hoje não há atrativos que atraiam público e movimentem o local. Do jeito que está, o Jardim de Alah só serve como banheiro para cachorros. Independentemente do modelo de ocupação, um dos projetos esteja relacionado com a economia criativa (como artes cênicas, teatro e música ao vivo) — disse Besserman.
A presidente da Associação de Moradores do Alto Leblon, Evelyn Rosenzweig, é cautelosa ao avaliar o projeto:
— Minha família frequenta o espaço há mais de 50 anos. Infelizmente, o poder público jamais teve competência de conservar a área como ela merece: limpo e conservado voltaria a atrair frequentadores. Em princípio, acho a proposta muito ousada para um espaço residencial. É preciso que a população conheça melhor o projeto. Mas algo que já sou contra desde agora é a proposta de ter estacionamento subterrâneo. Estimula mais carros na rua quando o que se quer é o contrário.