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Alta de preço faz milho verde sumir das festas juninas e julinas e deixa pamonha e outros pratos mais caros

Acabou não só o milho e a pipoca, como diz o ditado, mas também o curau e até a pamonha. A alta no preço do milho, uma das grandes estrelas das festas juninas (e julinas e agostinas), tem impactado os festejos, deixando barraquinhas mais vazias e tornando “salgados” alguns dos doces mais tradicionais desta época do ano.

Na inflação geral, que bateu 11,89% em junho — décimo mês com o índice em dois dígitos —, foram justamente os alimentos e a alimentação fora de casa que mais pesaram. Neste mês, o preço do grão até teve uma redução tímida, de 0,55%, mas a alta acumulada nos últimos 12 meses já é de 25,46%.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, não analisa o preço do milho in natura, versão mais utilizada nos quitutes juninos. Mas a carestia do grão seco já é um sinal de que o ingrediente está mais caro. É o que explica o economista André Braz, coordenador da pesquisa de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV).

– Esse grão já vem subindo há um tempo em função da guerra entre Rússia e Ucrânia, não porque a Ucrânia produz milho, e sim porque o conflito cria muitas instabilidades nos preços das commodities, como o milho e também a soja e o trigo – afirma.

Mas não são apenas fatores externos que explicam o motivo de o milho ter ficado mais caro. Fenômenos climáticos, como a falta de chuvas, também impactam no preço. E outro ingrediente presente em muitas das receitas juninas também faz parte dessa conta: o leite, cujo litro chega a ser encontrado por mais de R$ 10 em mercados do Rio:

— A safra do milho não foi comprometida, mas a procura aumentou, e com isso, o preço sobe. O milho é amplamente usado como alimentação dos animais, principalmente nessa época, em que o tempo está mais seco. Sem pastagem, o grão é mais usado na ração, o que impacta o preço do leite e também a oferta para o varejo, que diminui – explica Braz.

Produção de pamonhas dobra de preço

Na Igreja do Divino Espírito Santo, no Estácio, a organização da tradicional festa, sempre no mês de agosto, vive um impasse: é que a alta nos custos pode acabar inviabilizando as pamonhas, carro-chefe da Barraca do Milho, que todos os anos vende também curau e bolo aos frequentadores, além das espigas cozidas.

O empresário Lucas Miranda faz parte do grupo que organiza a quermesse. Ele conta que, em 2019, ano em que a última festa aconteceu, foram comprados quatro sacos de milho e 24 litros de leite para produzir cerca de 150 pamonhas, além de cozinhar cem espigas. O custo, que na época foi de R$ 320, agora pode passar dos R$ 650.

— Neste ano, há uma discussão enorme se vamos fazer pamonha ou não, porque na receita leva muito milho e muito leite, que também está absurdo de caro. Até é viável fazer, mas a questão é que o preço que seria repassado para o público ficaria muito salgado. Costumávamos vender a pamonha a R$ 5. Pelo cálculo que fizemos, teríamos que colocar a partir de R$ 15 para cobrir todo o gasto — diz.

Para quem vive exclusivamente do milho, o preço tem exigido mudanças no orçamento. Trabalhando na Feira de São Cristóvão há 32 anos, a empreendedora Sandra do Nascimento, de 48, toca uma barraca especializada em milho, vendendo papa, pamonha, espigas cozidas e assadas e até suco. Com medo de aumentar os preços dos produtos, e acabar perdendo clientes, a saída encontrada por ela foi tirar da margem de lucro metade da alta dos custos.

– Nesta época do ano, o milho fica mais caro, mas neste ano está pior. Até maio, pagava de R$ 20 a 25 na saca. Hoje já está saindo por R$ 50. E, além de estar mais cara, a saca está menor. Costumava comprar o pacote com 45 ou 50 espigas. Hoje só tem 35, no máximo 40 unidades — conta Sandra: — Tive que ter um jogo de cintura muito grande. As pessoas estão com pouco dinheiro. Não podemos fazer o repasse total. Tive que fazer quase meio a meio, e assumir metade da alta tirando do meu lucro. Foi o jeito que deu para equilibrar.

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