Em pleno inverno, proteção contra gripe é baixa; quem se vacinou no início do ano não está mais protegido
Uma importante vacina do Plano Nacional de Imunizações (PNI) não chegou a 75% do público-alvo da campanha pelo segundo ano consecutivo, e desperta a preocupação de especialistas. A proteção contra o vírus Influenza, causador da gripe, chegava a ser considerada um hábito consolidado na população brasileira, porém em pleno inverno o país patina com cobertura de apenas 61,3% — distante da meta de pelo menos 90% preconizada pelo Ministério da Saúde e observada na média dos últimos dez anos.
No total, são cerca de 21,2 milhões de pessoas em maior risco de agravamento da doença que não buscaram os postos de saúde neste momento em que o vírus da gripe circula como em períodos pré-pandêmicos.
— Nos últimos dois anos, por conta de todos os cuidados com a Covid-19, tivemos números bem menores de influenza. Mas o vírus voltou com a retomada da rotina, praticamente na mesma proporção do período pré-pandemia — alerta o pesquisador em saúde pública da Fiocruz Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.
A situação ganhou outro complicador após surto incomum de gripe provocado no ano passado por uma cepa nova do vírus Influenza: a H3N2, chamada de Darwin. A chegada no momento em que o país entrava no verão pegou a população despreparada, pois a imunidade da campanha realizada no início do ano, para o inverno, já tinha caído.
Por isso, houve um esforço para que as pessoas se imunizassem novamente, especialmente os que não tinham recebido a vacina, para prevenir os desfechos mais severos da doença. Porém, a formulação do imunizante aplicado então não era a mesma oferecida agora, de fato adaptada para a variante Darwin.
A médica e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, ressalta que ter se vacinado há menos de um ano não significa que a pessoa esteja liberada de uma nova aplicação. Embora a campanha seja sempre anual, a proteção conferida pela vacina não dura 12 meses:
— A vacina da gripe protege por um período de quatro a seis meses. Então, quem se vacinou no final do ano passado, ou mesmo no início deste ano, não está mais protegido. Por isso, a campanha aconteceu agora, e é importante tomar quem ainda não procurou os postos de saúde nos últimos meses.
A vacina tem um papel central em reduzir a circulação da doença e, principalmente, os casos graves, explica Marcelo Gomes.
— Se negligenciamos a vacinação, como vem acontecendo, ficamos em risco. Isso acontece porque nós naturalizamos muito a gripe, mas ela é um motivo muito grande de internações, especialmente em populações de crianças pequenas e idosos — ressalta.
A situação é ainda mais delicada pelo fato de o país estar já há mais de um mês no inverno, quando as baixas temperaturas levam ao acúmulo de pessoas em locais fechados e ao consequente aumento nos casos de doenças respiratórias. Além disso, a campanha nacional para vacinação contra a influenza teve fim no dia 24 de junho. Com isso, embora o imunizante ainda esteja disponível nos postos, não há mais iniciativas de comunicação que incentivem a busca pela vacina.
Os grupos prioritários, com mais risco de desenvolver quadros graves da doença, incluem crianças de até 5 anos, idosos, trabalhadores da saúde, gestantes, puérperas, indígenas e professores, que somam 54,8 milhões de brasileiros. Porém, apenas 33,6 milhões receberam a aplicação — uma cobertura de 61,3%.
Fora dos postos, clínicas particulares também oferecem vacinas contra a gripe. Na rede privada, o imunizante é quadrivalente, ou seja, conta com quatro subtipos do vírus. São eles o Influenza A H1N1 e A H3N2 e os dois do Influenza B. Já nos postos de saúde, o imunizante é trivalente, com um subtipo do Influenza B, além dos mesmos do A.