Olivia Newton-John lutou contra a imagem de moça bem-comportada
É difícil definir Olivia Newton-John em poucas palavras. Até mesmo sua nacionalidade não era muito clara —descendente de galeses e judeus alemães, ela nasceu no Reino Unido em 1948, foi criada em Melbourne, na Austrália, e alçada ao estrelato mundial a partir dos Estados Unidos, na década de 1970. Foi também neste país onde morreu, aos 73 anos de idade, na manhã desta segunda-feira, em seu rancho no sul da Califórnia.
Em cinco décadas de carreira, Olivia Newton-John circulou por diversos estilos musicais. O pop adocicado dos primeiros anos a aproximou da música country americana. Em 1978, ela se tornou uma celebridade mundial, ao estrelar a versão para o cinema do musical “Grease – Nos Tempos da Brilhantina”, ao lado de John Travolta.
Depois enveredou pelo rock e pela disco music e chegou a gravar um disco só com canções de ninar. Influenciados por seu ativismo, seus trabalhos tardios têm uma pegada mais motivacional.
A voz límpida e o visual “clean”, aliados a uma vida pessoal livre de escândalos, fizeram com que Olivia Newton-John fosse identificada pelo público com Sandy, a moça bem-comportada que interpretou em “Grease”. Refletindo a trajetória de sua personagem na tela, ela também lutou para ser percebida como uma mulher sexy e contemporânea, dona de seu próprio nariz.
Mas seu maior conflito foi contra o câncer. Descobriu um tumor na mama em 1992, no mesmo fim de semana em que seu pai morreu. O primeiro tratamento foi bem-sucedido, mas a doença voltou a se agravar pelo menos três vezes, atingindo os ossos. Ela se engajou então no ativismo, liderando campanhas de conscientização e arrecadando fundos para diversas organizações.
Olivia Newton-John começou a cantar profissionalmente aos 14 anos, no grupo vocal Sol Four, mas logo engatou uma carreira solo. Bonita e afinada, virou presença constante na TV australiana. Foi nos bastidores de um programa que conheceu John Farrar, que seria o produtor de seus maiores sucessos, e Pat Carroll, com quem formaria uma dupla —anos mais tarde, Farrar e Carroll também se casariam.
O duo Pat & Olivia se transferiu para o Reino Unido no final da década de 1960. Por problemas de visto, Pat Carroll voltou para a Austrália. Mas a britânica Newton-John conseguiu ficar e representou seu país natal no Festival Eurovisão da Canção de 1974 —o mesmo vencido pelo grupo sueco Abba, com a canção “Waterloo”.
Já com diversos sucessos nas paradas britânicas, Olivia Newton-John foi gravar em Nashville, a capital da música country dos Estados Unidos, encorajada por Helen Reddy, uma cantora australiana que fizera antes o mesmo percurso.
Os puristas torceram o nariz, mas o público adorou. Mesmo cantando com um nítido sotaque australiano, Newton-John emplacou um hit atrás do outro no gênero que, podemos até dizer, ajudou a criar —uma mistura de pop e country, cujo maior nome atual é Taylor Swift.
São dessa fase algumas de suas músicas mais conhecidas, como “Sam” e “Please Mr. Please”. Mas o estouro em nível global só veio em 1978, com “Grease”. A trilha sonora do filme é, até hoje, um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos. Dois duetos com Travolta se tornaram clássicos –”You’re the One That I Want” e “Summer Nights”, aquele do pegajoso refrão “tell me more, tell me more”.
O sucesso de “Grease” fez com que Newton-John estrelasse outro musical no cinema, “Xanadu”, massacrado pela crítica e ignorado nas bilheterias. Mesmo assim, a trilha do longa rendeu a ela seu maior hit até então, “Magic”.
Na virada da década de 1980, a cantora estava decidida a mudar de imagem. Seu álbum “Physical” embarcou na onda da ginástica aeróbica, uma febre da época, e antecipava nas letras a sensualidade explícita de Madonna, que surgiria pouco tempo depois.
O megaestrelato não durou muito, mas Olivia Newton-John permaneceu ativa no showbusiness, lançando álbuns e participando de séries e filmes para a TV. Também emprestou seu nome e sua fama a diversas causas, inclusive a do uso medicinal da maconha, que fumava para aliviar suas dores.
Até o momento, no entanto, nada se sabe sobre sua condição de saúde nos últimos tempos. A família não divulgou a causa de sua morte.