Mais do que buscar inspiração em novas estéticas, “D” vem da necessidade constante e insaciável do compositor de exercitar sua criatividade. “Sem isso não sou nada. Tenho que compor, tenho que dizer as coisas periodicamente para me sentir vivo, para me sentir. Acho que vou compor sempre.”
Isso não é novidade para o alagoano –na verdade, ele mantém a mesma toada desde que deixou Maceió no começo dos anos 1970 para tentar a vida no Rio de Janeiro. Em quase 50 anos de carreira, Djavan chega ao 25° álbum, isto é, com uma média de dois por ano, produtividade que ele mantém mesmo com um cancioneiro tão consolidado.
É como se, durante todos esses anos, Djavan estivesse aperfeiçoando seu estilo único, resultado de uma certa de estranheza que o acompanha desde que trocou o passe refinado no meio de campo das categorias de base do CSA, seu time de futebol do coração —junto ao Flamengo—, pelo violão. No fim dos anos 1960, quando os Beatles abriram sua cabeça para os acordes perfeitos —em oposição à dissonância da bossa nova—, ele passou a integrar a banda LSD (Luz, Som e Dimensão), que fez fama em Maceió e rodou Alagoas.
“Já sentia um desconforto enorme de ter que conviver com aquela musicalidade, que eu já julgava aquém do que eu pensava. Eu pensava diferente da maioria e o que me restou foi realmente vir pra cá”, ele diz.
Já no Rio, mostrou as músicas em que estava trabalhando quando saiu do LSD. “Fui ao [radialista] Adelzon Alves, que falou ‘sua música é estranha, não é a música que eu trabalho’”, diz. “O [produtor da Som Livre] João Mello me ouviu, achou estranho. Outro produtor me ouviu, achou estranho também, mas disse que isso era meu trunfo. Até que chegou ao João Araújo, que era o presidente [da gravadora]. Ele disse que meu som não estava pronto, mas ia ficar me usando como cantor.”
Foi com “Fato Consumado”, composta para o festival Abertura, promovido pela Globo em 1975, que ele deu início à trajetória solo —sem nunca ficar “normal”. “A estranheza da minha música foi decantada em boa parte da minha vida”, diz. “Depois, com o tempo, as pessoas foram entendendo do que se tratava. Se eu tocava diferente, cantava diferente, harmonizava diferente. Não poderia escrever igual a ninguém. E isso resultou em críticas homéricas, de que eu era nonsense. Tive paciência de esperar que o tempo curasse essas distorções.”,
Djavan virou alvo de críticas, por músicas como “Açaí” e “Obi”, pela poesia que busca sentido aglomerando palavras e expressões pouco comuns, e nem sempre conectadas da maneira mais imediatamente compreensível. Para o artista, independente da interpretação mais instantânea de suas letras, há um forte componente estético na sua maneira de escrever, em como as palavras soam juntas.
“É o desafio de você mexer no formato, entende? Não basta fazer uma letra, você quer jogar com novas palavras, dar sentido ao que aparentemente não tem. É uma maneira de você se desafiar”, diz. “Essa música, ‘Obi’, também foi muito criticada na época, mas tive um prazer imenso de reunir essas palavras e dar um sentido que era simplesmente a beleza. Não queria outra coisa —só que fosse belo, bonito.”
Djavan acabou se tornando um dos autores mais populares da música brasileira, mesmo trilhando um caminho bastante único —ele estava nas trilhas de novela, mas não fazia parte de nenhum movimento; era grande vendedor de discos, mas não estava escalado no Rock in Rio, não teve um “Acústico MTV”. Nessa onda, ele também teve poucos e raros parceiros —Chico Buarque, Caetano Veloso, Stevie Wonder e Aldir Blanc são alguns—, mas em “D” abriu exceção a um nome especial para ele.