Covid-19: nos municípios com baixo IDH, ritmo de vacinação foi mais lento, diz novo estudo da Fiocruz
A Atenção Primária em Saúde (APS) — a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) — foi determinante para atenuar as desigualdades na cobertura vacinal do Brasil contra a Covid-19. É o que aponta um estudo publicado na revista científica The Lancet Regional Health – Américas. Segundo a pesquisa, municípios com baixo ou médio Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tiveram uma menor cobertura vacinal em relação àqueles com alto IDH, mas que essas diferenças foram atenuadas por conta da presença da atenção primária.
A análise aponta também que quanto mais rápido os municípios imunizaram suas populações, mais cedo controlaram a pandemia, com progressão mais lenta nas taxas de óbitos por doses de imunizantes aplicadas.
Segundo o Ministério da Saúde, “a Atenção Primária é desenvolvida com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, ocorrendo no local mais próximo da vida das pessoas. Há diversas estratégias governamentais relacionadas, sendo uma delas a Estratégia de Saúde da Família (ESF), que leva serviços multidisciplinares às comunidades por meio das Unidades de Saúde da Família (USF), por exemplo. Consultas, exames, vacinas, radiografias e outros procedimentos são disponibilizados aos usuários nas USF”.
O trabalho foi liderado pelo médico e pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza, em colaboração com pesquisadores da PUC-Rio, do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor).
— Tendemos a achar que todos os municípios vacinaram da mesma forma, mas na realidade que vimos no estudo foi que os municípios mais pobres, aqueles com IDH mais baixo, tiveram maior dificuldade e demoraram mais para conseguir atingir uma cobertura vacinal adequada nos primeiros meses de vacinação — explica Bozza.
Durante este intervalo, 200.740.725 doses de vacina contra a Covid-19 foram administradas no país: 63,8% dos adultos haviam tomado a primeira dose e 31% estavam com as duas, sendo que mais de 90% daqueles com 60 anos ou mais tinham o esquema vacinal completo. Segundo o estudo, a cobertura da primeira dose foi diferente entre os municípios com IDH alto, médio e baixo, com 72, 68 e 63 doses por 100 habitantes, respectivamente.
Ao considerar a estrutura da Atenção Primária associada à vacinação e ao IDH, os pesquisadores perceberam que este foi um fator determinante: municípios com baixo IDH, mas boa cobertura da atenção básica tiveram melhores índices de imunização e, por consequência, conseguiram reduzir mais rápido as taxas de óbitos por doses aplicadas, quando comparadas com outras cidades com índice de desenvolvimento humano menor. Ter uma boa estrutura de Atenção Básica fez municípios mais pobres ter taxas de vacinação semelhantes aos mais ricos.
— Em municípios de IDH alto já não faz tanta diferença ter uma boa cobertura da Atenção Primária. E não é que não seja importante, mas para os municípios mais pobres, a presença da Saúde da Família garante a cobertura vacional. Durante a pandemia discutimos muito sobre a importância de ter uma boa estrutura hospitalar, com suporte de UTI. Nosso estudo mostrou que a Atenção Básica foi um fator protetor para garantir o processo de vacinação e para garantir o controle da pandemia — afirma o pesquisador.
— A presença da vacina nas comunidades é fundamental porque, às vezes, essas populações mais vulneráveis não têm o recurso para se locomover. Então, você garantir, especialmente nas comunidades mais pobres, essa presença das Unidades de Saúde da Família, conseguimos alcançar altas coberturas vacinais. Essa proximidade com a população é fundamental.