Campanha da Fundação do Câncer e de universidades alerta sobre riscos do cigarro eletrônico
A Fundação do Câncer e a Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP) vão promover uma grande campanha para alertar os jovens sobre os perigos do cigarro eletrônico. A partir desta segunda-feira (29), Dia Nacional de Combate ao Fumo, peças publicitárias serão exibidas em faculdades privadas de todo o Brasil, até novembro.
A campanha “Cigarro eletrônico: parece inofensivo, mas não é” foi motivada por uma pesquisa do Ministério da Saúde, que aponta que mais de 2 milhões de pessoas, principalmente jovens entre 18 e 24 anos, já usaram os dispositivos para fumar (DEFs). Além disso, pesquisa recente do Covitel, desenvolvida pela organização global de saúde pública Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com apoio do Instituto Ibirapitanga, Uname e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco/Fiocruz), mostrou que um em cada cinco jovens, também na faixa de 18 a 24 anos, usa o produto.
“Foi por esse motivo que encampamos essa parceria com a Fundação do Câncer. As faculdades, centros universitários e universidades de todo o país têm um papel social importante de esclarecimento e mobilização para que os jovens não adquiram esse hábito que pode trazer inúmeras consequências para a saúde”, explica Elizabeth Guedes, presidente da Associação Nacional das Universidades Privadas (ANUP), que congrega 247 instituições de ensino superior, atingindo três milhões de jovens do País.
Em julho desse ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o Relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR), proibindo a comercialização, importação e a propaganda de todos os tipos de dispositivos para fumar. Apesar disso, o uso dos DEFs cresce em baladas, restaurantes, jogos e em rodas de amigos.
“O cigarro eletrônico é potencialmente perigoso para a saúde, ao contrário do que a indústria tabageira propaga”, ressalta Luiz Augusto Maltoni, cirurgião oncológico e diretor executivo da Fundação do Câncer, cuja sede fica no Rio.
Alfredo Scaff, epidemiologista e consultor médico da Fundação, explica que esse aumento do uso está relacionado ao formato e às substâncias colocadas nesses dispositivos, como sabores e aroma, para atrair usuários e passar a ideia de modernidade. “É uma enganação a propaganda de que o cigarro eletrônico é menos prejudicial que o cigarro tradicional, já que contém muito mais nicotina e outras substâncias muitas vezes desconhecidas, levando a malefícios e dependência química”, observa.
São muitos os perigos para quem usa. De acordo com especialistas do InCor/Universidade de São Paulo (USP), os usuários têm 42% de chance a mais de infartar. Isso porque, os dispositivos contêm mais nicotina, substância altamente viciante, do que o cigarro tradicional (que, por lei, deve conter 1mg por cigarro) e o sal presente na substância é mais nocivo para a saúde. Além disso, têm 50% mais risco de terem asma e maior possibilidade de ter pneumonia.
O uso de tabaco também está ligado a pelo menos 20 tipos de câncer, segundo a União Internacional para Controle de Câncer (UICC). Vale lembrar que o tabagismo não engloba somente o uso do cigarro comum, mas também a utilização de cigarros eletrônicos, “vapes”, “e-cigarette”, “pod” e tabaco aquecido.
Além disso, os e-líquidos, usados nos vaporizadores, contêm quantidades significativas de produtos químicos tóxicos, um vaporizador de 1.500 tragadas equivale a 5 maços e os DEFs contêm metal, plástico, baterias e circuitos. Por fim, os cigarro eletrônicos também acendem um alerta para o meio ambiente, já que seus resíduos não são biodegradáveis e os cartuchos ou dispositivos descartáveis geralmente se decompõem em microplásticos e produtos químicos, poluindo ainda mais os cursos d’água.
“A indústria de produtos fumígeros impulsiona pessoas a usarem os DEFs alegando que o uso deles diminui a dependência do cigarro comum, servindo supostamente como uma alternativa para as pessoas pararem de fumar. Mas a realidade mascara que o cigarro eletrônico é extremamente prejudicial à saúde, elevando o risco de infarto, asma, pneumonia e câncer”, afirma o epidemiologista Scaff.