Romário, Clarissa Garotinho e Daniel Silveira disputam voto bolsonarista no Rio
Uma presença inusitada surpreendeu os trabalhadores que chegavam à Central do Brasil na semana passada, antes mesmo do amanhecer: candidato ao Senado, Romário (PL) havia deixado a cama às 3h30 para panfletar e pedir votos no local. O Baixinho — que lidera as pesquisas de intenção de votos com certa folga — partiu para o corpo a corpo com eleitores e endureceu o discurso conservador, a despeito da vida boêmia pela qual ficou conhecido fora das quatro linhas. Convertido evangélico, ele assinou uma carta-compromisso com o eleitorado religioso na última semana, seguindo a estratégia já adotada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Se antes esteve distante do “bolsonarismo raiz”, Romário agora se apega a velhos nomes da política, diante de uma ameaça com sobrenome famoso. Clarissa Garotinho (União), que também é evangélica, busca se associar ao presidente da República e acirra o discurso em busca desse eleitor. Em suas inserções na TV e rádio, além de peças publicitárias compartilhadas na internet, a parlamentar pede a castração química de abusadores sexuais e ressalta que é casada e defensora dos valores da família. E, se Romário se aliou a Otoni De Paula, que é pastor da Assembleia de Deus, em busca do voto religioso, Clarissa se associou ao Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus e que tem o ex-prefeito da capital Marcelo Crivella como principal nome no estado.
Presença disputada
Popular em vários segmentos pela carreira nos gramados, Romário chegou a ser escanteado entre os bolsonaristas que procuravam um nome mais conservador para concorrer ao Senado. Na convenção do PL, realizada no mês passado, o senador chegou a ser vaiado quando foi anunciada a sua chegada ao palco, enquanto o deputado federal Daniel Silveira (PTB) foi recebido como estrela pela claque do presidente.
Mas, se antes ele precisava recorrer a peladas pelo interior para reunir eleitores, o jogo parece ter virado a seu favor. Diante do desconhecimento do governador Cláudio Castro, de quem é correligionário, Romário passou a ser tratado como estrela em caminhadas e atos de campanha.
Quando anunciado em carros de som, o ex-jogador tem sido ovacionado pelo grande público e às vezes é cicerone de Castro em locais de grande circulação, como os calçadões de Duque de Caxias e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, além do Mercadão de Madureira. Nessas agendas, cabe a ele apresentar o governador aos eleitores e puxar Castro para fotografias. Em seus discursos, os dois reforçam a parceria, enquanto integrantes da campanha repetem em caixas de som que aquela vai ser na política uma dupla tão afinada quanto a formada por Romário e Bebeto na Copa do Mundo de 1994.
Mas o fato de se mostrar em sintonia com Castro não confere a Romário exclusividade nas agendas com o governador. Clarissa Garotinho, que acumulou atritos com titular do Guanabara neste ano, tem participado de atos de campanha e dividido o palanque conservador de Castro. Ela reforça o compromisso com os valores religiosos e garante que vai legislar de acordo com a vontade de Bolsonaro, caso os dois sejam eleitos. A fala, é claro, se trata de uma alfinetada em Romário, que não é visto como um nome do bolsonarismo. De olho nesses eleitores, a candidata não poupou o ex-jogador, na última semana, ao afirmar que ele não seria ligado ao conservadorismo e não defenderia as bandeiras pela defesa da mulher.
Bola dividida
Um exemplo disso ocorreu na última semana, durante caminhada pelo Centro do Rio, quando os dois se encontraram e o mal-estar foi inevitável. Clarissa e Romário discursaram para o eleitorado. A filha do ex-governador Anthony Garotinho (União) pregou contra os estupradores — bandeira de Bolsonaro, quando era deputado —, enquanto Romário relembrou seus feitos no Congresso e reforçou a intenção de conduzir um mandato coerente com os valores de seu partido, que também é o de Bolsonaro.
Um terceiro nome na disputa pelo posto de candidato bolsonarista ao Senado é o deputado federal Daniel Silveira (PTB). Ele publicou um vídeo com duros ataques a Romário. Silveira, que buscar viabilizar a sua elegibilidade, diz que o senador “não entregou nada de trabalho” nos oito anos no cargo e aponta um suposto oportunismo eleitoral do agora rival. Segundo ele, Romário virou um bolsonarista de ocasião por causa da corrida eleitoral e afirmou que o senador vivia na “bebedeira e na orgia”.