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Integrantes da campanha avaliam que Ciro erra e perde votos para Bolsonaro ao atacar Lula

Na semana em que o Datafolha indica uma tendência de migração de votos de Ciro Gomes (PDT) para o presidente Jair Bolsonaro (PL), integrantes da campanha do pedetista avaliam que ele tem errado nos movimentos na corrida ao Palácio do Planalto. O ex-ministro opta por intensificar os ataques ao petista, de quem já foi aliado, e fazer acenos à direita, numa tentativa de crescer entre os antipetistas.

O crescimento de Bolsonaro concomitantemente à queda do pedetista sinaliza, porém, que é o presidente quem vem conseguindo avançar junto aos brasileiros que rejeitam Lula. Dois personagens que participam das decisões da campanha ouvidos na condição de condição de anonimato, atribuem ao presidenciável a opção pelo caminho tomado até aqui.

Pesquisa do Datafolha divulgada na sexta-feira traz Lula na dianteira com 44%, estável, à frente de Bolsonaro, que oscilou de 32% para 34%, e Ciro, com atuais 7%, dois pontos percentuais a menos do que no levantamento da semana anterior.

A postura adotada pelo pedetista tem por objetivo conquistar votos entre o eleitorado mais conservador e antipetista — sentimento que a campanha avalia ainda ser forte em 2022. Para isso, o ex-ministro tem lembrado com frequência dos casos de corrupção envolvendo Lula e o PT e chegou a dizer, em entrevista ao Programa Pânico, que o Brasil poderia virar um “país pobre e socialista” caso o ex-presidente se eleja.

Historicamente, tanto Lula quanto Ciro são identificados com o espetro da esquerda.

Em diversas ocasiões, uma delas há cerca de duas semanas, o presidenciável foi aconselhado a moderar o tom em relação ao ex-presidente, justamente para evitar a fuga de eleitores para Bolsonaro. Os pedetistas, no entanto, afirmam que os apelos tiveram pouco resultado.

A estratégia usa como base pesquisas que mostram Ciro como segunda opção de voto tanto de eleitores do Lula quanto do Bolsonaro — o próprio Datafolha mostra que o pedetista é o mais citado como “plano B” por maioria dos entrevistados. Entretanto, de acordo com os aliados ouvidos pelo GLOBO em caráter reservado, Ciro parece estar perdendo seus eleitores mais alinhados com a direita, ao invés de atrair os do presidente.

Embora seja uma tendência, não é possível afirmar que tenha acontecido essa transferência direta de voto de Ciro para Bolsonaro, visto que ambos oscilaram dentro da margem de erro.

Crescimento como Plano B

Ao se analisar o recorte da segunda opção de voto dos eleitores do pedetista, contudo, há um aumento daqueles que tinham o presidente como “plano B”. Esse índice saltou de 24%, segundo sondagem do início de setembro, para 30% na pesquisa atual, chegando próximo ao patamar daqueles que afirmam ter Lula como segunda opção, 33%. Em 18 de agosto, os entrevistados que preferem Ciro mas votariam em Bolsonaro como segunda opção somavam 20%.

De acordo com aliados do pedetista, dificilmente Ciro mudará de postura. Ele deve continuar os ataques a Lula, mesmo que isso cause a migração de eleitores ciristas para Bolsonaro.

Um dos motivos que os aliados alegam para que Ciro mantenha o tom elevado contra Lula é a mágoa que o pedetista sente do ex-aliado desde 2018. Ciro queria que Lula o tivesse apoiado naquele ano, já que o ex-presidente estava impedido de concorrer por questões judiciais. Esse sentimento tem aumentado nos últimos meses, sobretudo em consequência das novas ofensivas do PT de virar o voto de eleitores não convictos de Ciro, numa cartada para tentar vencer em primeiro turno.

Até o momento, o ex-ministro gastou quase metade do valor que declarou ter desembolsado na última eleição, em 2018. Naquele ano, o valor total gasto foi de cerca de R$ 24 milhões. Agora, Ciro já usou R$ 10 milhões dos R$ 16 milhões que recebeu de fundo eleitoral do partido.

Ele, no entanto, tem quase metade das intenções de voto que tinha na disputa passada, neste mesmo período. Enquanto Ciro aparece agora com 7%, em 10 de setembro de 2018 tinha 13%, segundo pesquisa Datafolha da época.

A avaliação negativa aos passos de Ciro extrapolou os limites da campanha. Um dos principais entusiastas do pedetista no meio artístico, o cantor Tico Santa Cruz afirmou em suas redes sociais que está inclinado a aderir ao chamado voto útil em Lula no primeiro turno.

Nas postagens, Santa Cruz fez críticas ao que considera a estratégia do pedetista de ter ido para o “tudo ou nada”, com ataques mais incisivos contra Lula. Em suas mensagens, o cantor deixou claro que ainda considera Ciro o melhor candidato, mas afirmou já não acreditar mais em suas chances de vitória ou de ir ao segundo turno.

“Vamos aguardar e, se necessário for, como está aparentando, pensar sim, em fazer o voto útil para nos livrarmos desse desgoverno o quanto antes!”, justificou.

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