CULTURA E EDUCAÇÃO

‘Atualidade que dá relevância à série não nos alegra’, diz Elisabeth Moss, estrela de ‘The handmaid’s tale’

A ficção de “The handmaid’s tale” continuará mordendo os calcanhares da vida real em 2022, garante sua maior estrela, Elisabeth Moss, a June Osborne. A quinta temporada estreia no próximo domingo, na Paramount+. A série promete mostrar os desejos expansionistas dos governantes da (antes apenas) insular Gilead. É a possível ampliação do mal, da opressão e do obscurantismo.

A quarta temporada, também disponível na plataforma, terminou com a morte do Comandante Fred Waterford (Joseph Fiennes). Para escapar à prisão, ele fez um acordo com o governo canadense. Serviria de moeda numa troca de presos políticos. June, entretanto, achou pouco. E armou um plano para interceptar o carro que o levaria para casa. E, nesse meio do caminho, aplicou a Lei de Talião. Torturou e matou o antigo algoz. Isso significa que a vingança via olho por olho, dente por dente vai pautar a nova temporada? Em entrevista de Los Angeles, Elisabeth Moss diz que não aposta numa June saciada depois do seu gesto violento:

— Acho que a justiça com as próprias mãos não a deixará satisfeita. É só olhar com cuidado para os fatos. Ela acha que fez a coisa certa quando matou Fred, por razões pessoais. Só que não adianta abater uma pessoa. Isso não resolve o problema. Nem faz com que Gilead desapareça. Aquele regime continua existindo e agora com muito mais força até. Ela então enxerga que seu desafio é maior.

— June pode ter saído de Gilead, mas Gilead está nela. E não só nela. Também muito presente no mundo. Está ganhando poder e influência em outro lugar. Não acredito que o tema central da temporada seja a vingança. Estamos falando do fortalecimento do pensamento totalitário.

A atriz evita se aprofundar nos paralelos possíveis entre o romance distópico escrito em 1985 por Margaret Atwood e a realidade política dos Estados Unidos hoje. Perguntada sobre a força da direita republicana mesmo pós-governo Trump e o revés nas conquistas das mulheres com a revogação do direito ao aborto pela Suprema Corte, ela escorrega, com uma resposta genérica.

— O alcance da literatura de Margaret Atwood é imenso. Esse enredo se passa num futuro distópico e é ficção, mas tem grande conexão com a realidade, certo? Ele trata de questões contemporâneas — diz a atriz. — A série aborda temas relevantes, mas elas não ganharam centralidade agora, com essa produção para o streaming. Essa história também tinha muita pertinência em 1985, quando foi escrita. Margaret é uma das figuras mais inteligentes e sábias do planeta. Emprestou esse brilho a essa obra. A gente só seguiu os passos dela. Estamos fazendo essa série há meros cinco anos. E contando a história de apenas uma mulher, June, e do círculo dela. Só. Mas a força do livro em que ela se baseia ultrapassa a cronologia. Ele fala de um pensamento, de algo maior. Há muitos e muitos anos que situações assim de opressão acontecem.

Ela segue:

— Entre a equipe e o elenco costumamos dizer que toda essa atualidade que dá relevância à série não nos alegra. Não temos nenhum prazer em lucrar em cima disso. Preferiríamos que não estivesse acontecendo. Mas está, não é mesmo? Posso dizer que nossa série deu a muitas pessoas um lugar, um espaço e uma voz. Sobretudo, a quem não tem essa voz.

— O patriarcado no futuro distópico de “Handmaid’s” tem conexões com a trama realista no passado de “Mad men” (ambientada na década de 1960). Eu sou mulher e também vivo num mundo majoritariamente masculino e machista. Com minhas personagens, acontece a mesma opressão. Pessoalmente, tenho interesse em interpretar uma mulher que enfrenta as mazelas do patriarcado.

Indagada se é feminista, se entusiasma:

— Sim! Sim! Sim!

E sobe ainda mais um tom na alegria ao ser perguntada sobre Wagner Moura, com quem protagonizou a série da Apple TV+ “Iluminadas”. Para ela, o ator é carinhosamente “Wag”:

— Fico contente que você tenha mencionado isso. Tive a melhor experiência nessa série com Wag. Já conhecia e admirava seu trabalho, então o convite para a série foi uma daquelas oportunidades que a profissão oferece. Mas, mais do que colegas, viramos amigos. Engraçado porque eu tenho 40 anos e a essa altura do campeonato você acha que não vai mais conhecer alguém e sentir que será amiga dessa pessoa até morrer. Foi assim com ele. Nunca estive no Brasil, mas morro de vontade de conhecer. Por favor, Brasil, me convida! Estou louca pra ir.

E June, para aonde ela vai agora?

— Ela está tentando se entender como mãe, como mulher, como ser social, num cotidiano “normal”. Não sei se conseguirá.

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