POLÍTICA

Fábio Faria diz que se ‘arrependeu’ por levantar suspeitas sobre inserções em rádios: ‘Quando escalou, eu saí’

O ministro das Comunicações, Fábio Faria, se diz arrependido de ter levantado suspeitas sobre falhas nas inserções em emissoras de rádio após o tema “escalar” e passar a ser usado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro de pedir o adiamento das eleições.

Um dos coordenadores da campanha do candidato à reeleição, Faria disse que seu objetivo, ao convocar uma entrevista coletiva de imprensa na segunda-feira apontando um suposto boicote, era tentar um acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para compensar os eventuais prejuízos na propaganda de Bolsonaro. Segundo ele, as falhas eram do partido por perceber tardiamente o problema, e não do tribunal.

— Entrei nesse tema para resolver inserção via inserção, para tentar mediar um acordo entre o TSE e a campanha. Quando esse assunto escalou, eu saí. Eu me arrependi porque o assunto escalou. Se fosse o tema só a inserção, tudo bem. Mas como entraram em outro assunto. Ele não escalou só por isso (inserções), escalou pela denúncia do funcionário do TSE e pediram adiamento (das eleições) — disse o ministro ao GLOBO.

Faria cita o caso do servidor Alexandre Gomes Machado, que foi exonerado pelo TSE e procurou a Polícia Federal para prestar um depoimento na madrugada da quarta-feira. Aos investigadores, ele alegou que perdeu o seu cargo após ter informado seus superiores sobre uma suposta falha na veiculação de inserções em rádios de Bolsonaro. A Corte, porém, informou que a demissão foi motivada por “indicações de reiteradas práticas de assédio moral, inclusive por motivação política”. Segundo a Corte, essas denúncias serão “devidamente apuradas.”

A operação da campanha de Jair Bolsonaro que levantou suspeitas sobre a não veiculação de inserções de propaganda do candidato à reeleição criou uma crise no QG bolsonarista.

Nos bastidores, tanto o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, quanto o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, cacique do PP, demonstram contrariedade com a mais nova investida contra o TSE. Segundo aliados, em caso de derrota de Bolsonaro no domingo, os dois expoentes do Centrão não devem embarcar numa eventual batalha para contestar o resultado das urnas. Nenhum deles participou da reunião convocada às pressas pelo presidente na noite de quarta-feira no Palácio da Alvorada para tratar sobre o tema.

Outro ponto de discórdia na campanha de reeleição a presidente da República é que a coletiva em que Faria e o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten levantaram as suspeitas não contou com o aval de Valdemar, que não teria sido consultado sobre a empreitada. Cabe ao partido pagar as empresas que estão sendo contratadas para fazer as auditorias. Há ainda o temor que nova ofensiva contra o TSE possa atrapalhar até mesmo a aprovação das contas dos partidos.

Foi o próprio ministro das Comunicações quem convocou a entrevista coletiva em frente ao Palácio da Alvorada pela redes sociais na segunda-feira à noite para tratar o que chamou de “fato grave”. Na ocasião, Faria afirmou que teve uma reunião “informal” com o presidente do TSE , Alexandre de Moraes, sobre a auditoria contratada pela campanha e que esperava que o tempo de inserções fosse reposto.

Moraes, contudo, rejeitou a ação por ausências de provas e inconsistências feitas no levantamento apresentado pela campanha de Bolsonaro. Determinou, ainda, apuração sobre possível “cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana”.

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