Caso Flordelis: Nora da pastora diz que Anderson descobriu plano para envenená-lo em cena digna dos ‘Trapalhões’
Primeira a depor no terceiro dia de julgamento da ex-deputada Flordelis dos Santos de Souza, Luana Vedovi Rangel, uma das noras da pastora, detalhou como descobriu um plano dentro da casa para matar o pastor Anderson do Carmo. Luana relembrou que soube pela própria vítima, que encontrou uma mensagem planejando o crime em seu Ipad, e levou os promotores e plateia aos risos ao afirmar que os envolvidos pareciam os humoristas do antigo programa de TV “Os Trapalhões”.
De acordo com as investigações, o texto do plano para matar Anderson foi escrito por Flordelis e enviado pela filha afetiva Marzy Teixeira, para Lucas Cézar dos Santos de Souza, filho adotivo da ex-deputada. Luana contou que Marzy relatou a ela que o texto foi escrito por Flordelis deitada em sua cama.
— Um dia, deitada na cama, Flordelis escreveu no Ipad (do pastor Anderson do Carmo) e disse para mandar para o Lucas. Mandou a mensagem para o Lucas e por algum motivo não apagou. Parece os Trapalhões, na verdade. Por algum motivo, não apagaram a mensagem do Ipad dele e ficou em tudo que é lugar. No celular, Ipad, e-mail. E ele viu.
Luana afirma que quando soube da mensagem, logo desconfiou de Flordelis, uma vez que a ex-deputada “profetizava” que Anderson morreria, mas não teve coragem de falar para a vítima de sua suspeita. Luana é esposa de Wagner Andrade Pimenta, o Misael, um dos filho afetivos da pastora. Ele prestou depoimento nesta terça-feira.
— Ninguém podia falar da Flor para ele. A Flor era a rainha da vida dele. Eu nunca podia falar para o pastor que era ela (que estava envolvida), porque a Flor ficava dizendo que o pastor ia morrer, que Deus ia levar ele. Ele está atrapalhando a obra de Deus, ele não passa deste ano. Eu não podia dizer que era a Flor, porque eu que ia morrer — afirmou.
Fotos: Relembre a trajetória de Flordelis
Ainda de acordo com Luana, o pastor desconfiou do envolvimento de Marzy e disse que daria “uma coça” nela.
— Para ele, tudo ele conseguiria resolver do jeito dele. Ele só me mandou para eu tomar cuidado com a Marzy — acrescentou.
Flordelis é acusada de ser mandante da morte do marido, em 2019. Além dela, são julgados três de seus filhos — Simone dos Santos Rodrigues, André Luiz Oliveira e Marzy Teixeira, além de uma neta, Rayane dos Santos.
‘Flordelis: questiona ou adora’: série documental analisa todos os ângulos do assassinato do pastor Anderson
O plano descoberto no Ipad do pastor é uma das principais provas no processo. O texto encontrado por Anderson foi enviado pelo aparelho a pelo menos dois filhos — Carlos Ubiraci e Adriano dos Santos Rodrigues. Em seu primeiro depoimento à polícia, Marzy confirmou que mandou mensagens para Lucas, pedindo que ele matasse o pastor, mas alegou que Flordelis não tinha conhecimento de seu plano. Lucas também confirmou que recebeu de Marzy propostas para matar Anderson, mas afirmou não ter aceitado.
Adriano foi condenado a 4 anos, 6 meses e 20 dias pelos crimes de uso de documento falso e associação criminosa armada. Ele foi solto em maio deste ano. Já Carlos foi condenado a 2 anos, 2 meses e 20 dias de prisão apenas por associação criminosa armada em abril deste ano. Ele foi absolvido das acusações de envolvimento no assassinato de Anderson e em tentativas anteriores de matar a vítima. Carlos foi solto no mês seguinte ao julgamento após conseguir liberdade condicional.
Lucas admite ter auxiliado o irmão Flávio dos Santos Rodrigues na aquisição da arma, mas mudou de versão sobre saber ou não que ela seria usada para matar o pastor. Filho adotivo de Flordelis e de Anderson, ele foi condenado a sete anos e seis meses de prisão por participação no crime, mas o Tribunal de Justiça aumentou a pena para nove anos.
Luana afirma que Marzy ainda relatou a ela que, após o pastor ter descoberto o plano para matá-lo, Flordelis procurou Marzy e ofereceu dinheiro para que ela assumisse tudo e ficasse um tempo fora.
— Ali, a Marzy disse para mim que a mãe dela (Flordelis) não a amava, que só queria usá-la.
Em determinado momento do depoimento de Luana, um dos advogados de Flordelis, Rodrigo Faucz, pediu à juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce para deixar registrado que se tratava de mais uma testemunha de “ouvi dizer”. A promotora Mariah Paixão interrompeu, pedindo a Faucz para deixar os jurados decidirem. A magistrada determinou que o depoimento prosseguisse.
Luana também é importante testemunha na acusação de que Flordelis estava tentando matar Anderson envenenado. Ela relatou ter visto algumas vezes a sogra e Marzy colocando remédio em bebidas consumidas pela vítima. Segundo ela, a justificativa era de que estavam dando para ele medicações prescritas por seu médico.
— Tudo que ele comia, vomitava. Já estava até acostumada. Já era algo que a gente estava se habituando com o pastor — afirmou, acrescentando que a vítima perdeu muito peso em razão dos episódios.
Assim como Misael, Luana afirma ter sido informada por Carlos Ubiraci e sua esposa, Cristiana Rangel, que Flordelis estava tentando envenenar Anderson, e recomendaram que eles não comessem nada na casa.
O julgamento dos cinco réus entrou no terceiro dia nesta quarta-feira. Nos dois primeiros dias, seis testemunhas de acusação foram ouvidas. Ainda restam sete testemunhas chamadas pelo MP e assistente de acusação, além de outras 13 das defesas, incluindo assistentes técnicos. Ainda não há previsão de término do julgamento.