Polícia identifica site que organiza e pede recursos para atos antidemocráticos
Um domínio na internet foi identificado pela Polícia Civil de Goiás como um dos organizadores de atos antidemocráticos que pedem um golpe de Estado das Forças Armadas após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais.
O endereço do site foi identificado pela polícia em faixas distribuídas com os dizeres “Intervention in Brazil” (intervenção no Brasil, em inglês), no acampamento de manifestantes inconformados com a derrota de Jair Bolsonaro (PL) próximo a um quartel militar em Goiânia (GO).
As informações foram enviadas pelo órgão ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, no processo em que trata desses protestos.
“Este endereço eletrônico dá acesso a uma página da web, que fornece acessos a grupos em apps [aplicativos] como Telegram, WhatsApp, solicita doações e também fornece informações a respeito das paralisações existentes no país”, diz o documento produzido pela Polícia Civil de Goiás.
O relatório também diz que o local dos protestos em Goiânia tem estrutura montada com banheiros químicos e barracas de suporte que fornecem, de forma gratuita, refeições, águas e refrigerantes.
Ainda de acordo com o documento, o acampamento é coberto por grandes tendas “que servem de abrigo para os voluntários que ali prestam serviços, além dos manifestantes existentes no local”.
“Em tais barracas, haviam cartazes solicitando doações através de Pix, sendo possível levantar informações dos responsáveis pelo recebimento”, relatam os policiais.
A ferramenta eletrônica —identificada com a mensagem S.O.S. Forças Armadas Acampamento Goiás— disponibiliza ao menos 18 canais em que o internauta pode se informar sobre os movimentos antidemocráticos.
No primeiro link, há um mapa com o endereço do acampamento na cidade, seguido por links para dois grupos de articulação no aplicativo de mensagens Telegram.
Também há uma petição online para a coleta de assinaturas pela intervenção, que pede nome e CPF e um link de acompanhamento virtual das manifestações antidemocráticas que bloqueiam vias públicas pelo país
Além disso, há um endereço para uma “vaquinha” para a arrecadação financeira do movimento, com um número de Pix para doações.
“Ajude intervencionistas na porta do quartel para termos banheiro químico, água, comida, para todos. Ajudaremos também os irmãos caminhoneiros”, diz.
Também consta no material um vídeo com uma fala antiga de Bolsonaro para induzir que ele estaria apoiando abertamente os protestos.
No arquivo, o presidente diz: “Pessoal fala que eu devo tomar uma providência, eu tô aguardando o povo dar uma sinalização”. O material é publicado com a legenda: “Ele deu o recado”. É mostrado também o site da produtora de filmes Brasil Paralelo e a página oficial no Instagram do Exército brasileiro.
Em encontro na semana passada com Moraes, procuradores-gerais de Justiça dos Ministérios Públicos de São Paulo, Santa Catarina e Espírito Santo disseram ao ministro que integrantes dos atos antidemocráticos fazem parte de “uma grande organização criminosa com funções predefinidas”.
O procurador-geral de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Mario Luiz Sarrubbo, disse após a reunião que há um movimento organizado, capitaneado por empresários, para que estas manifestações aconteçam.
Nesta sexta-feira (11), Moraes determinou que a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e as Polícias Militares dos estados adotem medidas imediatas para a desobstrução de vias públicas bloqueadas por manifestantes bolsonaristas em protestos antidemocráticos.
O ministro também pediu às forças de segurança que identifiquem os veículos responsáveis por estas ações e que seja aplicada multa de R$ 100 mil por hora aos responsáveis.
Os atos continuam. Está prevista para esta terça-feira (15) uma mobilização de caravanas com ônibus de graça até Brasília, anunciadas nas redes sociais e por grupos bolsonaristas para reforçar o protesto antidemocrático em frente ao quartel-general do Exército.
O objetivo, segundo as convocatórias, é levar um grande público para o QG no feriado da Proclamação da República e inflar as manifestações que já duram mais de dez dias.
Mais de cem caminhões chegaram a Brasília na quarta (9) e outros veículos são esperados até o feriado, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
Como mostrou a Folha, empresários de diferentes estados bancaram a ida de caminhões para Brasília para engrossar o protesto em frente ao quartel-general.