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Vacinação de crianças contra a hepatite B tem queda histórica no Brasil

Não é novidade que houve queda na cobertura vacinal no Brasil de forma geral nos últimos anos. Entretanto, pesquisadores do Observa Infância, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), alertam para a queda histórica na vacinação de bebês contra a hepatite B.

De acordo com estudo feito em parceria com o Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto (Unifase), a sequência de baixas na proteção de crianças menores de 1 ano contra a doença vem desde 2019. Em 2021, o índice chegou a 76% e, em 2022, dados preliminares apontam para um índice de 75,2%. A região Norte é a mais afetada. Em 2021, apenas 63,4% foram imunizadas contra a doença. Em 2022, dados preliminares indicam leve aumento para 67,5%. No entanto, o índice ainda é considerado extremamente baixo. A meta estipulada pelo Ministério da Saúde para o imunizante é 95%.

— Vimos uma queda na cobertura de todas as vacinas em crianças de até 5 anos, mas a da hepatite B foi mais acentuada e isso nos trouxe preocupação, porque a queda na vacinação vem seguida do aumento da incidência de uma doença que pode ser muito grave — diz a pesquisadora Patricia Boccolini, coordenadora do Observa Infância.

Ainda segundo Bocconlini, a queda na cobertura vacinal já vinha acontecendo no país antes da pandemia, mas o quadro foi agravado nos últimos três anos.

— No âmbito da pandemia, vimos a questão do distanciamento social como um complicador porque pais e responsáveis pararam de levar seus filhos aos postos de saúde. Tem também a questão do aumento da vulnerabilidade alimentar de muitas famílias nos últimos anos, que faz com a vacinação se torne uma preocupação secundária — explica a pesquisadora.

Já os motivos para a diminuição da vacinação contra a hepatite B fora do cenário da pandemia são os mesmos dos demais imunizantes: falsa sensação de segurança de alguns pais que acham que a doença não representa mais um risco para seus filhos; desinformação; aumento do número de vacinas com multidoses no calendário infantil; medo de reações adversas; e horário de funcionamento dos postos.

O esquema vacinal contra a hepatite B é constituído por quatro doses. A primeira deve ser administrada na maternidade, nas primeiras 12 a 24 horas de vida do recém-nascido. Depois disso, a criança deve tomar outras três doses aos 2, 4 e 6 meses de idade. É importante ressaltar que a criança só estará protegia após completar todas as doses.

Exceto pela injeção recebida na maternidade, as outras vacinas contra a hepatite B são combinadas. Ou seja, protegem contra várias doenças por aplicação. Para crianças mais velhas, adolescentes e adultos que ainda não se vacinaram, a recomendação é de três doses com intervalo de um mês entre primeira e a segunda, e de cinco meses da segunda para a terceira.

A hepatite B é uma doença infecciosa causada pelo vírus B da hepatite (HBV), que ataca o fígado. O infectologista Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, gerente médico do Sabará Hospital Infantil, explica que é comum a pessoa se infectar e não desenvolver sintomas. Naqueles que desenvolvem sintomas agudos da infecção, os mais comuns são: pele e olhos amarelados, urina mais escura, náusea, febre e dor de barriga. No entanto, 70% dos casos se curam espontaneamente.

O problema são os outros 30% em que a doença evolui para a forma crônica, onde pode haver cirrose e até mesmo câncer de fígado. Se identificada antes de evoluir para essas consequências mais graves, a hepatite B crônica tem tratamento, mas não cura.

— O medicamento ajuda a reduzir atividade do vírus e pode prevenir a insuficiência hepática. Mas exigem uso contínuo. A pessoa precisará tomar remédio a vida toda — diz o infectologista.

Pré-natal é fundamental

A hepatite B também é considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST). Mas a doença também pode ser transmitida pelo contato com sangue e secreções. Isso significa que uma mãe contaminada pode passar o vírus para o bebê durante a gravidez, no momento do parto ou, até mesmo, durante a amamentação da criança.

Por isso, atualmente, o imunizante é recomendado não apenas para o bebê ao nascer, mas também para a mulher, durante a gestação. A vacinação no nascimento é importante justamente para prevenir a hepatite crônica, que acomete 90% dos bebês contaminados ao nascer.

— Essa é uma doença viral, silenciosa, que a mãe pode ser portadora e não saber. Se contaminada intra-útero, a criança pode ter uma hepatite fulminante. Se a transmissão ocorrer no momento do parto, que é o mais comum, ela pode ter uma hepatite crônica e até um câncer de fígado. Além de grave, isso é um absurdo porque existe uma vacina gratuita e altamente eficaz — afirma a infectologista pediátrica Ana Lucia Lyrio, professora do curso de Medicina da Uniderp.

Por isso, os especialistas ressaltam a mães e pais que, além da vacinação, um bom pré-natal da gestante, com a realização de exames para a detecção da doença, é fundamental para o combate à hepatite B e suas consequências na criança.

Poucos efeitos colaterais

A preocupação com os efeitos adversos é um dos fatores que fazem com quem os pais não vacinem seus filhos. Todas as vacinas em uso atualmente são seguras, mas Oliveira Junior ressalta que a vacina de hepatite B é “extremamente segura”.

— É uma vacina que faz parte do calendário vacinal brasileiro há 20 anos. Esse imunizante não é feito com vírus vivo nem inativado. É uma vacina extremamente tecnológica, feita com engenharia genética, e com pouquíssimo efeito colateral — pontua o médico, explicando que os principais eventos adversos são dor, endurecimento, inchaço e vermelhidão no local da aplicação.

Para contornar esse cenário e aumentar a cobertura vacinal, não há uma única estratégia. É preciso haver um esforço conjunto que passa por comunicar claramente que os benefícios das vacinas superam os riscos e que se doenças imunopreveníveis desapareceram, é justamente devido ao sucesso da vacinação. É importante também a participação das escolas, desde ensinar a importância da prevenção por meio da vacinação para as crianças até funcionar como um local de vacinação, e a ampliação da atenção primária e dos horários de atendimento dos postos de saúde.

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