Menina baleada no Tabajaras deve voltar para casa até sexta-feira; pai luta para tirar trauma dos irmãos
Depois do susto a sensação agora é de alívio para os pais da menina Maria Júlia da Silva Gomes, de 1 ano e 8 meses, baleada dentro de casa, na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, durante um tiroteio ocorrido no último dia 10. A criança, que está internada numa enfermaria do Hospital Miguel Couto, no Leblon, passou por duas cirurgias – vascular e ortopédica – , ambas bem-sucedidas e deve voltar para casa até sexta-feira.
Segundo o pai, o mototaxista Júlio César Pereira Gomes, de 30 anos, a informação foi confirmada pelos médicos. Até a semana passada a menina estava no CTI. O mototaxista contou que a filha está tomando antibióticos, por conta de uma pneumonia, mas passa bem.
— Me sinto muito mais aliviado. As coisas só vão melhorar e quando ela for para casa tudo vai voltar ao normal — disse.
O mototaxista contou que os médicos disseram que a filha, que chegou a ter risco de amputar uma das pernas, não ficará com sequelas. O principal desafio agora será tranquilizar os três irmãos da menina que ficaram abalados, após o ocorrido. Júlio contou que a mais nova, de 5 anos, não consegue mais ir ao banheiro sozinha, por medo. Os são dois meninos de 10 e 12 anos, Maria Júlia é a cacçula.
— Ela me pergunta se também vai levar tiro e eu tento conversar com ela para distrair. Explico que (o que aconteceu à caçula) foi uma fatalidade e que não vai ocorrer mais.
O pai contou que a menina dormia ao lado dele e da mãe, quando foi baleada. Os outros irmãos estavam em um segundo quatro. Segundo o mototaxista, a bala atravessou a janela do quarto entrou pela perna direita, altura do joelho, e se alojou na coxa esquerda. Na ocasião, a Polícia Militar informou que equipes policiais foram alvo de disparos de arma de fogo enquanto um veículo blindado se deslocava pelas comunidades. Uma base da UPP também sofreu ataques, segundo a PM, mas sem revide por parte dos agentes.
Família que mora em frente à base da UPP não pretende se mudar, por falta de condições financeiras. Mas, para aumentar segurança, mudou móveis do lugar. Segundo Júlio, ele tirou as camas da direção das janelas, trocando-as de posição com os armários.
— Segurança a gente não tem (de continuar morando no mesmo lugar). Meus filhos estão traumatizados, mas a gente não tem escolha.
Júlio contou que tem se revezado com a mãe, Amanda Carolina Gomes, de 29 anos, nos cuidados com a filha no hospital, sendo que a mulher ficar mais tempo na unidade, porque a menina ainda está amamentando e o pai precisa cuidar dos outros filhos. Como ele trabalha como mototaxista na comunidade onde vive fica mais fácil conciliar o trabalho com o cuidado com as crianças.
Crime denunciado pelas lentes
A comunidade onde a menia foi baleada é a mesma denunciada há 17 anos pela aposentada de codinome Dona Vitória, que, da janela de seu apartamento, filmou ações do tráfico e levou à prisão de criminosos e de policiais. Em fevereiro deste ano, Joana Zeferino da Paz morreu aos 97 anos e a sua identidade foi revelada.
A história foi descoberta pelo então repórter Fábio Gusmão, do EXTRA, durante uma “ronda”, em que buscava novidades que pudessem virar reportagens. À época, um agente contou a ele que uma aposentada tinha acabado de deixar oito fitas na Coordenadoria de Inteligência da Polícia Civil (Cinpol).
Em 2023, 17 anos após as filmagens de Dona Vitória, a comunidade ainda continua influenciada pela mesma organização criminosa. Próximo ao Pavão-Pavãozinho, o Tabajaras é considerado estratégico pelo grupo criminoso que controla boa parte do tráfico no Rio, pois, a partir da comunidade, pode tentar dominar também o Chapéu Mangueira.