Condenada por morte do filho da empregada, Sari Corte Real é aprovada em curso de Medicina: ‘impunidade’
Condenada pela Justiça de Pernambuco a oito anos e seis meses de reclusão por abandono de incapaz com resultado em morte, Sari Mariana Costa Gaspar Corte Real foi aprovada em uma faculdade de Medicina de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. Então primeira-dama de Tamandaré, no litoral sul de Pernambuco, ela foi apontada como responsável pela morte de Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, morto após cair do 9º andar de um prédio de luxo em Recife, após ser deixado sozinho em um elevador, quando estava sob os cuidados de Sari.
Mãe da vítima, Mirtes Souza afirmou ter sido muito difícil receber a notícia e que o fato de Sari decidir tentar um curso de graduação gera uma sensação de impunidade.
— Eu recebi a notícia na semana passada, e ainda estava tentando assimilar tudo isso, porque, para mim, foi muito pesado. Vi uma publicação em que várias pessoas me marcaram, e aquilo me assustou. Para mim, fica uma sensação de impunidade, por isso ela decidiu fazer o curso de Medicina, pelos privilégios que ela tem, por ser branca, por ser rica, uma pessoa que vem de uma família que tem muita influência na sociedade — afirmou Mirtes.
Procurada, a defesa de Sari ainda não se manifestou. A reportagem não conseguiu contato com a Faculdade Tiradentes Campus Jaboatão dos Guararapes, na qual Sari prestou vestibular.
Sari foi condenada na 1ª Vara dos Crimes contra a Criança e do Adolescente de Recife. De acordo com a sentença, ela inicia o cumprimento da pena em regime fechado. No entanto, Sari recorre em liberdade.
Ela foi denunciada pelo Ministério Público de Pernambuco (MP-PE) por abandono de incapaz com resultado em morte, com as agravantes de cometimento de crime contra criança e em ocasião de calamidade pública.
— Foi chocante receber essa notícia. É muito difícil para mim, dá uma sensação de descredibilidade do Judiciário. Mas eu parei, refleti, e vou continuar acreditando na Justiça, porque não só eu, mas toda a sociedade está em cima desse caso — disse Mirtes, afirmando que a família de Sari não demonstra arrependimento pelo ocorrido. — Isso ela disse a mim, a minha mãe, na frente do juiz e dos meus advogados, que não sente nenhum tipo de arrependimento pelo que fez.
Segundo a sentença do juiz José Renato Bizerra, “não há pedido algum a lhe autorizar a prisão preventiva [de Sari], a sua presunção de inocência segue até trânsito em julgado da decisão sobre o caso nas instâncias superiores em face de recurso, caso ocorra”.
Queda do 9º andar
A ré era primeira-dama de Tamandaré (PE) e estava responsável pelo menino de 5 anos, filho de sua ex-empregada, quando ele caiu do 9º andar de um prédio de luxo em Recife. O caso aconteceu no dia 2 de junho de 2020, quando Mirtes Souza deixou seu filho, Miguel Otávio, com sua ex-patroa enquanto passeava com os cachorros da primeira-dama.
Miguel caiu de uma altura de 35 metros. Em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, Sari disse que errou ao não desconfiar do perigo de deixar o menino sozinho em um elevador.
Eu não achei que seria essa tragédia. Eu acreditei que ele voltaria para o andar, que ele voltaria para o quinto andar, até porque ele sabia o número, eu acreditei que ele voltaria para o andar — disse Sari, que acrescentou: — Eu acho que o meu erro foi fazer igual a eu fazia com o meu filho, de achar que o elevador é seguro.
No dia da morte da criança, Sari foi presa em flagrante por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, e liberada após o pagar fiança de R$ 20 mil. Ela diz que cumprirá a decisão da Justiça sobre o caso, e acredita que não pode ser julgada por Mirtes ou pela população por causa da tragédia.