O que muda no nosso corpo quando está frio?
O frio chegou e o nosso corpo já começa a perceber alguns efeitos. É comum enfrentar dificuldade para despertar de manhã, sentir mais fome e ter menos disposição para exercícios físicos. Até mesmo a concentração no trabalho pode ser afetada. Mas por que isso acontece?
Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, a temperatura ambiente interfere diretamente em nosso metabolismo. Quando está muito frio ou muito calor, o funcionamento do corpo sofre adaptações e, consequentemente, a forma como reagimos a atividades cotidianas tende a mudar.
Além disso, a estação do ano também provoca alterações no padrão de umidade no ar (no inverno, fica mais baixa) e exposição à luz do sol (o dia se torna mais curto e a noite mais longa no inverno, e vice-versa). Tudo isso impacta o nosso organismo e humor.
Outono e inverno
Relógio biológico e a luz
A luz (ou a falta dela) é o que regula o nosso ciclo circadiano – ritmo em que o organismo executa suas funções ao longo do dia.
Por isso, a diminuição ou o aumento da exposição à luz pode alterar o horário em que normalmente sentimos sono, despertamos naturalmente, temos vontade de ir ao banheiro ou sentimos um pico de energia, entre outras atividades.
Como o frio afeta o nosso sono?
Segundo Erika Treptow, médica e pesquisadora do Instituto do Sono, a produção de melatonina aumenta no início da noite. Isso, junto à queda da temperatura que naturalmente ocorre no organismo neste período, sinaliza ao corpo que é hora de desacelerar e se preparar para dormir.
Assim, é comum que a gente comece a sentir vontade de dormir mais cedo e desperte mais tarde no inverno, já que a duração do dia é menor.
A temperatura em si e o conforto térmico também influenciam, diz Daniel Suzuki Borges, psiquiatra especialista em medicina do sono. Isso porque, quando dormimos, o metabolismo desacelera e perdemos temperatura naturalmente.
Se o ambiente está mais frio, é mais fácil perder calor. “Extremos de temperatura e umidade são ruins para o sono”, resume.
No verão, quando está muito quente e úmido, transpiramos mais e, por isso, podemos acordar no meio da noite incomodados com o suor. Já no inverno, se não estivermos aquecidos corretamente, também podemos ter dificuldade para dormir.
Uma dica para equilibrar a temperatura é tomar banho – frio no calor, e quente no inverno – antes de ir para cama. E como perdemos calor principalmente pelas mãos e pés, usar meias pode ajudar a manter a temperatura corporal no inverno.
É normal comer mais no inverno?
O frio pode levar o corpo a gastar mais energia para se manter na temperatura ideal. Por isso, é comum sentir mais fome no inverno, diz a nutricionista Valéria Machado, da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição.
“Além disso, a gente quer comer alimentos mais quentinhos, como caldos, fondues, entre outros pratos que geralmente são bastante calóricos”, diz ela. A recomendação para quem não quer engordar nesse período é seguir um plano alimentar individualizado feito por um profissional da nutrição.
Quais exercícios físicos são melhores no frio?
Se, por um lado, o aumento do gasto energético por conta do frio gera mais fome, favorecendo o ganho de peso, por outro, potencializa a queima de calorias quando você se exercita. Ou seja: é mais fácil emagrecer fazendo exercícios no frio.
Segundo a fisioterapeuta Ana Paula Monteiro, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o ideal é procurar por atividades de baixo impacto e que possam ser feitas em locais fechados, como musculação, ioga e pilates.
“O problema de atividades físicas de alto impacto em locais externos, como correr na rua, é que, no inverno, a umidade do ar fica muito baixa. Isso gera ressecamento das mucosas nasais, fazendo com que a pessoa se sinta cansada mais facilmente. Por isso também é importante beber bastante água”, afirma.
Outro problema relacionado à baixa umidade é o aumento da concentração de poluentes no ar. Assim, inalamos mais substâncias tóxicas. “Ao longo do dia, até o pôr do sol, é quando o ar está mais seco e essa concentração fica maior. Por isso, se for fazer atividades em ambientes externos, é melhor escolher o período da manhã ou da noite”, diz Ana Paula.
Nem tudo é culpa do frio
Temperatura, luz do sol e umidade do ar não são os únicos aspectos que influenciam em nossas atividades diárias. Segundo Erika Treptow, a exposição noturna a aparelhos eletrônicos, como TV, celulares e computadores, também afeta o relógio biológico.
“O tipo de luz emitida por esses aparelhos é a chamada luz azul. Ela é capaz de estimular áreas do cérebro que nos mantêm alertas e, por isso, reduz a secreção do hormônio melatonina (facilitador do sono). Assim, pode ocorrer dificuldade para começar a dormir”, diz. Por isso, deve-se evitar esses aparelhos próximo ao horário de ir para cama.
Outra questão importante é a prática diária de atividade física, que acelera o metabolismo e estimula o corpo a compreender que é hora de trabalhar a todo o vapor. Quanto mais você se mexer – de preferência durante o dia –, melhor.
Em resumo, dá para tentar driblar a preguiça no inverno: basta manter uma rotina. Desse modo, ir para a cama, comer e realizar outras atividades sempre nos mesmos horários faz com que o seu organismo se acostume e sofra menos com as influências externas.