Marta conta como vive última Copa, promete competir com ‘novinhas’ e já se imagina como torcedora
Maior nome do futebol feminino na história, Marta ligou o sinal de alerta na seleção brasileira durante a preparação para a estreia na Copa do Mundo após precisar ser poupada em treinos por conta de um problema no músculo posterior da coxa direita.
Integrante do grupo F no Mundial disputado na Austrália e na Nova Zelândia, o Brasil estreia na próxima segunda-feira (24), às 8h (de Brasília), e terá como rival o Panamá, no Hindmarsh Stadium, em Adelaide.
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Mas mesmo com o susto, a Rainha garantiu que não há motivos para alardes. “Estou bem”, disse Marta em entrevista exclusiva à ESPN.
A camisa 10 não esteve nos dois jogos-treinos que a equipe fez em Gold Coast, nos dias 13 e 17 de julho, contra China e a seleção sub-15 masculina do estado de Queensland.
Eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo e defendendo a seleção brasileira desde 2002, Marta não escondeu a felicidade de ir novamente a uma Copa do Mundo pela equipe nacional, com a chance de conquistar o título inédito na história do futebol feminino do Brasil.
Para isso, a técnica Pia Sundhage tem feito uma preparação diferente com as 23 convocadas para a competição na Oceania.
“A preparação está sendo diferente. Estamos tendo um conforto maior para trabalhar. Mas na questão do pensamento, de como a gente tem que agir, a preparação é a mesma. Sempre fui muito competitiva, gostei muito de treinar, principalmente com bola. Mas mesmo nos físicos, como sou muito competitiva, gostava, e gosto até hoje, de me destacar. Procuro sempre manter um patamar elevado”, disse Marta, que ainda detalhou o problema muscular que fez com que a atacante perdesse alguns treinamentos com o elenco na preparação.
“Com relação a não estar treinando, é que tomei uma pancada na posterior, que causou um edema. Mas sem muitas preocupações, e estamos trabalhando isso gradativamente. Já fiz pique, bola longa, não senti nada. Foi necessário, mas muito em breve espero estar treinando com a equipe normalmente”.
Preparação para a última Copa é diferente?
“Muita coisa passa pela cabeça, e acho que a gente tem que estudar bastante o momento. Desde o primeiro momento que fui convocada e estava sendo cotada para mais uma Copa, deixei claro que não sou mais aquela de 20 anos atrás. Tenho que me adaptar ao momento de agora.
“Como falei, eu sou muito competitiva, quero estar envolvida nos treinos, quero competir com as ‘novinhas’ também. E acho que isso é superimportante, se sentir assim, porque elas me carregam de alguma forma, elas me inspiram de alguma forma. Se eu inspiro elas de alguma maneira, pela minha história, por tudo que a gente já viveu, eu vejo a vontade que elas têm no treino e isso me impulsiona. É uma energia muito boa, que está me fazendo muito bem”.
“Mas a preparação sempre foi voltada ao momento, ao que estamos vivendo agora. Estamos tendo a oportunidade de nos reunir mais cedo, estar em um ambiente só nosso, com estrutura a nível mundial. Digamos que só víamos no futebol masculino. E estamos usufruindo disso, fruto de muitas lutas, de muitas coisas que a gente reivindicou. Isso é importante falar, porque a preparação está sendo especial”.
Como é estar vivendo a última Copa?
“Estou pensando nisso também, mas estou lidando muito bem com isso. Sou muito consciente de tudo que já fiz até aqui, tenho que aproveitar a cada momento. Estou fazendo isso da melhor maneira possível. Está sendo muito bacana”.
“Última Copa como atleta, com certeza, mas vou ser como torcedora ou outras situações. Então não será minha última Copa. Vou estar aplaudindo, fazendo alguma coisa, de alguma maneira, acompanhando esse processo que está sendo feito, e espero realmente que daqui uns anos a gente possa ter cada vez mais a certeza de que o futebol feminino veio para ficar, que não é algo de momento, passageiro, só por causa de Copa do Mundo ou Olimpíada”.
Já se imagina ‘só’ como torcedora assistindo a uma Copa?
“Lógico que consigo imaginar. Acordar logo cedo pensando naquele jeito brasileiro, de já fazer um churrasco, reunir amigos, torcer sem medo de ser feliz. Nunca tive essa oportunidade de ver o futebol feminino jogar uma Copa do Mundo, Olimpíada. Logo vou estar nessa posição de fazer churrasco com os amigos, festejando o futebol feminino. Vou ser ‘corneta’”.
Como outras jogadoras estão lidando com a ‘despedida’ da Marta?
“O carinho, a maneira como elas estão interagindo com isso, é muito legal, gratificante de ver. Não é algo que eu preciso, estou tendo a oportunidade, e espero concretizar, mas o que me deixa mais segura, contente, é ver que evoluímos. Temos uma geração que pode levar esse legado e fazer muito mais do que fizemos. Isso me deixa tranquila”.
“Ver isso nos treinos, no ambiente do dia a dia, não me dá essa responsabilidade, essa pressão tão grande: ‘Ah, tem que ganhar’. Não, temos que seguir fazendo o que estamos fazendo, um trabalho bem feito, para que próximas gerações possam usufruir, e a gente possa evoluir. Não é um título que vai definir o que está sendo feito. Está certo ou errado. ‘Ah, a Marta não ganhou uma Copa’ – digamos, né, porque vamos ganhar. ‘Então não valeu de nada’. E está valendo muito”.
“A gente olha para trás e vê o quanto evoluímos, melhoramos, é devido à luta constante. A realidade que estamos tendo hoje é o que me dá a tranquilidade de estar aqui sem pressão. Pressão de jogar, pressão é normal. Estou há 20 anos na seleção, isso é normal, consigo lidar bem com isso”.
Sobre a frase ‘chorar no início, sorrir no final’ dita na última Copa do Mundo
“Estou mais sorrindo agora, não chorei até agora. A gente vê que alguma forma, essa frase que saiu do nada, no improviso, que saiu do meu coração, vem fazendo efeito. As meninas hoje estão em outro patamar, de responsabilidade, disciplina, saber o que é importante fazer para competir com grandes equipes, questão física, psicológica, sou privilegiada de ter sido de alguma forma um instrumento para mostrar que não adianta fazer o básico, tem que fazer aquele algo mais sempre. Para que a gente possa ter uma carreira longa, jogar sempre em alto nível. Tem muita coisa que você precisa abrir mão, não é só talento”.
Problemas de lesões em outras seleções podem ‘ajudar’ o Brasil?
“O que está acontecendo externamente é algo que não podemos nos apegar muito. Uma competição como a Copa do Mundo é decidida em detalhes, e temos que saber jogar um jogo após o outro. A França pode ter problemas de lesões, mas tem muitas jogadoras de qualidade. A Inglaterra, Espanha… E chega no momento de grandes jogos, esses times esquecem os problemas, se juntam e vão para cima”.
“Não podemos nos apegar nesses detalhes, o que vai fazer a diferença é o que estamos fazendo aqui, o que acreditamos que pode dar certo com a equipe bem conectada, fazer as coisas juntas, como a Pia sempre fala, precisamos fazer as coisas juntas, que é um grande passo para o sucesso. Precisamos concentrar na nossa equipe. Antes da Finalíssima, jogo contra a Alemanha, acho que estávamos brigando por fora, muita gente não acreditava que poderíamos chegar e agora estão acreditando. Temos que estar focadas no nosso trabalho”.