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Enredo e Samba: Grande Rio leva pra Sapucaí a onça como símbolo de luta e resistência

Campeã do carnaval de 2022, a Acadêmicos do Grande Rio vai apostar na beleza, na força e na garra da onça brasileira para encantar torcedores e jurados na Marques de Sapucaí.

Com o enredo ‘Nosso destino é ser onça’, os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora foram buscar inspiração na mitologia indígena da tribo Tupinambá, que tem no animal um símbolo divino e poderoso.

Guiados pelo livro de mesmo nome do escritor Alberto Mussa, os carnavalescos da escola de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, propõem uma reflexão sobre a simbologia da onça no cenário artístico-cultural brasileiro, tocando em temas como antropofagia e encantaria.

“A gente pretende apresentar diferentes brasilidades ao longo da apresentação da Grande Rio. Há uma visão para a criação de tudo que existe, que é um mito Tupinambá, que possui a onça como símbolo central. É esse ser criador, perfeito, divino. Um ser mais poderoso, pois é aquele que tudo come, que tudo devora, da criação, recreação e destruição”, explicou Leonardo Bora.

Gabriel Haddad lembrou também sobre a força da onça como símbolo de lutas atuais, como a preservação das florestas brasileiras e contra o preconceito.

“A onça ganhou uma força muito grande como símbolo de luta, como símbolo de resistência, como símbolo na luta da demarcação de terra indígena, a onça como símbolo da população LGBTQIA+. Então você fazer a diferença, ou fazer a ‘diferonça’, é a gente unir esse grupo todo e lutar contra o fim do mundo”, explicou Haddad.

O samba-enredo que a escola levará para a Sapucaí foi escolhido em uma festa na quadra no dia 30 de setembro. O escolhido é uma composição de Derê, Marcelinho Júnior, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Tony Vietnã e Eduardo Queiroz.

Confira a letra:

Trovejou! Escureceu!
O velho onça! Senhor da criação
É homem fera! É brilho celeste, devora e se veste de constelação
Tudo acaba em fogaréu e depois transborda em mar
A terceira humanidade
Cuaraci vem clarear
Ê Sumé nas garras da sua ira
Enfrentou Maira
Tanto perseguiu
Seus herdeiros vivem esta guerra
Povoando a terra
O bicho mais feroz rugiu

É preta, parda, é pintada feita a mão
Sussuarana no sertão que vem e vai
Maracajá, jaguatirica ou jaguar
É jaguarana, onça grande mãe e pai

Yawalapiti, Pankaruru, Apinajé
Na voz do povo Wareté
Na flecha de tupinambá
Do tempo que pinta pedra
A fé de ser encantada
Onça loba, onça alada
Na memória popular

Kiô… kiô kiô kiô kiera
É cabocla e mão torta
Pé de boi que o chão recorta
Travestido de pantera
Kiô… kiô kiô kiô kiera
A folia em reverência
Onde a arte é resistência
Sou Caxias bicho fera

Werá werá aue naurú wera que
A aldeia Grande Rio ganha a rua
No meu destino a eternidade
Traz no manto a liberdade
Enquanto a onça não comer a lua

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