“ProSub é o mais importante projeto de cooperação em defesa”, diz Lula ao lançar submarino em parceria com Macron
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da França, Emmanuel Macron, participaram nesta quarta-feira, 27 de março, do batismo e lançamento ao mar do submarino “Tonelero” (S42), no Complexo Naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro. A embarcação foi fabricada inteiramente no Brasil e integra o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (ProSub), resultado da Parceria Estratégica Brasil-França, firmada em 2008, cujo orçamento gira em torno de R$ 40 bilhões.
“O ProSub é o maior e mais importante projeto de cooperação internacional em assuntos de defesa do Brasil. Ele garante a soberania brasileira no nosso litoral, fortalece a indústria naval, com geração de emprego e renda, e promove o desenvolvimento do setor com muita inovação”, afirmou o presidente Lula durante a cerimônia.
O líder brasileiro destacou que o “Tonelero” é o terceiro da série de submarinos convencionais desenvolvidos em parceria com a França a partir de 2008. ”O Brasil já conta com dois submarinos da classe Scorpène, o ‘Riachuelo’ e o ‘Humaitá’. Em 2025, ano do bicentenário das relações com a França, lançaremos ao mar um quarto, o ‘Angostura’”, disse. Também está prevista a fabricação do submarino brasileiro com propulsão nuclear: o “Álvaro Alberto”.
Em seu discurso, o presidente francês expressou o orgulho de presenciar o lançamento do submarino ‘Tonelero’: “Vocês o batizaram com o nome de uma grande vitória da história brasileira. E, de fato, esse submarino é uma vitória, nem que fosse apenas pelo seu berço, aqui mesmo, pois há apenas 16 anos este lugar de Itaguaí era apenas florestas e pântanos. Mas, hoje, é um dos estaleiros de construção de submarinos mais modernos no mundo e o único no hemisfério Sul”.
Com o complexo instalado na Baía de Sepetiba (RJ), o Brasil se posiciona dentre um pequeno grupo de países que domina a construção de submarinos. Lula também ressaltou que a cooperação entre o Brasil e a França na área de defesa não se limita à dimensão naval e inclui helicópteros produzidos em Itajubá (MG) — única fábrica de helicópteros da América Latina e resultado do consórcio Helibras/AIRBUS.
“A continuidade de suas operações e possível expansão para aeronaves de uso civil estão em linha com a política brasileira de neoindustrialização. O presidente Macron e eu concordamos em ampliar esse esforço com a criação do Comitê Bilateral de Armamentos, com foco no desenvolvimento de sinergias e promover maior equilíbrio em nosso comércio de produtos de defesa”, anunciou Lula.
POTÊNCIAS PACÍFICAS — O presidente Lula assegurou que o governo brasileiro não quer usar os conhecimentos da tecnologia nuclear para fazer guerra. “Nós queremos ter o conhecimento para garantir, a todos os países que querem paz, que saibam que o Brasil estará ao lado de todos, porque a guerra não constrói, a guerra destrói. O que constrói é desenvolvimento, é conhecimento científico, é conhecimento tecnológico e é nessa área que nós queremos fortalecer a nossa parceria com o povo francês”, esclareceu.
“Nós queremos ter o conhecimento para garantir, a todos os países que querem paz, que saibam que o Brasil estará ao lado de todos, porque a guerra não constrói, a guerra destrói. O que constrói é desenvolvimento, é conhecimento científico, é conhecimento tecnológico e é nessa área que nós queremos fortalecer a nossa parceria com o povo francês”
EMMANUEL MACRON Presidente da França
Por sua vez, Macron ressaltou as afinidades entre a França e o Brasil, que levarão os dois países a ampliarem a parceria em diferentes áreas, como defesa e proteção do meio ambiente. “Para as próximas décadas, nós queremos ir ainda mais longe, queremos lançar projetos novos, ambiciosos. Queremos consolidar essa amizade inabalável”, afirmou.
“Nós temos, no fundo, a mesma visão do mundo e dos seus equilíbrios. As grandes potências pacíficas, como a França e o Brasil, devem reconhecer que, nesse mundo cada vez mais desorganizado, nós temos que falar com firmeza e força, porque somos as potências que não querem ser os lacaios de outros. Nós temos que saber defender com credibilidade a ordem internacional”, declarou o líder francês.
TECNOLOGIA — O projeto do “Tonelero” incorpora a modernidade das embarcações francesas da classe Scorpène, com adaptações e incrementos para atender às necessidades específicas das operações da Marinha do Brasil. A primeira-dama brasileira, Janja Lula da Silva, foi escolhida como madrinha de batismo do novo submarino, que contribuirá para a defesa da imensa faixa de mar costeira do Brasil, a chamada “Amazônia Azul”.
Maior que o modelo francês, o “Tonelero” tem mais de 71 metros de comprimento e possui deslocamento submerso de 1.870 toneladas. Após colocado na água, o “Tonelero” dá início ao processo de testes para avaliar as condições de estabilidade no mar e os sistemas de navegação e de combate.
Equipados com sensores modernos, mísseis e torpedos, os submarinos construídos no âmbito do ProSub possuem alta capacidade dissuasória por serem armas letais de difícil localização quando submersos. A possibilidade da presença de submarinos em uma área marítima obriga qualquer força naval oponente a mobilizar muitos meios e esforços para a localização e o combate a essas embarcações.
No lançamento do novo submarino, o ministro da Defesa, José Mucio, destacou que a indústria de defesa é responsável por aproximadamente 2,9 milhões de postos de trabalho formais e responde por 4,78% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. “Em 2023, as exportações autorizadas relativas à indústria da defesa foram 127% maiores do que as de 2022, atingindo o segundo melhor desempenho desde o início desse acompanhamento, em 2001”, disse.
PROSUB — Estruturado como um programa de desenvolvimento científico e tecnológico, o ProSub integra capacitação de mão de obra especializada e incentivo à indústria brasileira, uma vez que prioriza a aquisição de componentes fabricados no país. Além de representar um dos maiores programas estratégicos da Defesa, o ProSub tem impacto significativo na economia, com geração de mais de 60 mil empregos diretos e indiretos e envolvimento de 700 empresas.
O programa tem como meta, além da fabricação do primeiro submarino armado com propulsão nuclear (SCPN), a construção de um complexo de infraestrutura industrial e de apoio à operação dos submarinos, que engloba estaleiros, a Base Naval e a Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (UFEM) no município de Itaguaí (RJ). Em fevereiro de 2018, o estaleiro de Construção foi inaugurado.
Em função da transferência de tecnologia entre os países envolvidos, o Brasil terá a capacidade de projetar, construir, operar e manter seus próprios submarinos convencionais e com propulsão nuclear. O impacto na tecnologia, proporcionado pelo desenvolvimento e aprimoramento das inovações embarcadas no submarino, estimulará não só a área de Defesa, mas também setores nacionais civis nos campos de Ciência, Tecnologia e Inovação.