PM pretende aumentar de 120 para 650 o número de câmeras de reconhecimento facial
A Polícia Militar do Rio quer aumentar para 650, até o fim do ano, o número de câmeras de reconhecimento facial em todo o estado.
Desde que o sistema foi implantado, há três meses, as 120 câmeras ajudaram a prender mais de 100 pessoas com mandados de prisão em aberto.
A centésima prisão foi no domingo (14). Com um mandado em aberto por roubo, Edson José dos Santos foi identificado e detido durante um passeio por Bonsucesso, na Zona Norte.
O total de presos chegou a 105:
- 44 deles deviam pensão alimentícia, mas a maioria é formada por pessoas que tinham condenação criminal
- 30 por roubo ou furto
- 10 por tráfico de drogas
- 4 por estupro ou violação sexual
- 3 por homicídio
- 3 por receptação
- 2 organização criminosa
- 2 por feminicídio
As câmeras também levaram à prisão de outras pessoas por crimes menos violentos.
“As câmeras fazem parte de um novo pacote de investimento tecnológico da PM. Esse sistema que monitora toda a orla, desde a Zona Sul à Zona Oeste da cidade, as principais estações de metrô e trem e os principais pontos de concentrações de público no Rio”, diz o porta-voz da PM, major Maicon Pereira.
Erro em Sergipe
No mesmo fim de semana da centésima prisão no Rio, o sistema de câmeras do estado de Sergipe cometeu um erro de identificação.
Durante a final do campeonato sergipano, um personal trainer, que não devia nada à Justiça, foi confundido com um criminoso condenado.
Ele foi conduzido pela polícia no meio da multidão e chegou a atravessar o gramado escoltado e com as mãos para trás.
Nesta segunda (15), o governo de Sergipe suspendeu o uso das câmeras até que um novo protocolo de abordagem seja criando para evitar constrangimentos assim.
No Rio, o uso de câmeras de reconhecimento facial estreou durante a festa de ano novo em Copacabana. Equipes usaram drones para monitorar a multidão no réveillon. Na época, o sistema ajudou a prender uma pessoa com mandado de prisão em aberto.
Dias depois, o sistema foi expandido para outras regiões da cidade. O início das operações teve problemas: ainda em janeiro, duas pessoas foram levadas à delegacia por engano, porque o banco de dados estava desatualizado, e os mandados de prisão já não tinham validade.
Na época, um argentino, preso na Praia de Copacabana, chegou a ficar dois dias na cadeia injustamente e só foi solto na audiência de custódia.
Regulamentação mais rígida
Um especialista em segurança e tecnologia defende uma regulamentação mais rigorosa para evitar erros e abusos.
“É uma tecnologia que tem gerado muita polêmica nos últimos anos. De fato, se você pegar os testes de precisão, tem uma curva de ascendência muito boa. Os sistemas que foram usados nos testes lá atrás pela Polícia Militar, em 2019, são bem mais precisos”, fala o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Daniel Edler.
“A questão 1 é sobre o banco de dados. A maioria desses sistemas, inclusive o usado pela PM, é do CNJ, esse banco tem muitos problemas. Tem gente que tá nesse banco e já pagou o que deveria para a Justiça. Então não deveria estar lá. Tem muitas entradas nesse banco que são de fotos de pouca qualidade, o que atrapalha o cruzamento que o sistema faz.”
“E tem uma questão operacional. Se você usa um espaço aberto com muitos rostos a serem processados, com variação de luminosidade, a pessoa se mexendo, a precisão é muito ruim. Então existem problemas operacionais e problemas de banco de dados.”
“O sistema compara similaridade, com a pessoa que está na rua com o banco de dados. Se tem mandado ativo ou não, isso tem que ser observado na delegacia e na identificação”, fala o porta-voz da PM.
Atualmente, o reconhecimento facial é feito por equipamentos próprios de batalhões e outros sistemas que têm convênio com a PM, em 120 pontos de identificação. O próximo passo é equipar as viaturas com o sistema, chegando a um total de 650 câmeras.