Brasil retoma produção de insulina depois de duas décadas
Depois de 23 anos, o Brasil volta a produzir insulina. Para marcar esta retomada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta sexta-feira (26/4) da cerimônia de inauguração da planta de produção de insulina da Biomm, em Nova Lima, Minas Gerais. A produção tem potencial para atender 1,9 milhão de pacientes.
Com investimento de R$ 800 milhões, a fábrica tem capacidade para suprir a demanda nacional de insulina e favorecer o acesso dos pacientes com diabetes ao tratamento. O Brasil é um dos países com maior incidência de diabetes no mundo, com 15,7 milhões de pacientes adultos, segundo o Atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF). A iniciativa é parte da nova estratégia para orientar a produção e a inovação nacional em saúde para atender ao Sistema Único de Saúde (SUS) e para cuidar das pessoas, gerando emprego, renda e investimento no Brasil.
Durante o evento, o presidente disse que a fábrica de insulina em Minas Gerais é a primeira de uma série de empreendimentos na área da saúde e defendeu o SUS.
“O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que tem uma coisa extraordinária como o SUS, que tem um poder de dar escala a qualquer empreendimento na área da saúde. Um pais soberano precisa de uma indústria nacional forte. Um país soberano precisa, sobretudo na área da saúde, produzir aquilo que falta. A Biomm vai estar no mercado, oferecendo insulina ao nosso SUS a um preço acessível, para que a gente possa distribuir de graça aos brasileiros que sofrem de diabetes”, disse o presidente Lula
A fábrica terá capacidade para 20 milhões de unidades de carpules (refis) de insulina glargina por ano – e, na sequência, de canetas de insulina. Além disso, poderá fabricar 20 milhões de frascos de outros biomedicamentos, como a insulina humana recombinante. A estimativa é de que a unidade, de 12 mil metros quadrados de área construída, gere 300 empregos diretos e 1,2 mil indiretos, num benefício para mais de seis mil pessoas.
Lucas Galastri, vice-presidente da Associação de Diabetes Juvenil, destacou o investimento realizado. “O Brasil é um país gigantesco, e a gente tem que investir sempre na questão de tecnologia. Agora acredito que a gente vá conseguir distribuir essa insulina para não faltar para todo o território nacional. Esse é o meu sonho, e aposto que o sonho de todas as pessoas com diabetes”, disse.
Fiocruz
Durante o evento, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Biomm assinaram um protocolo de intenções para desenvolver um programa de cooperação mútua, voltado para plataformas de produção de medicamentos para o tratamento de doenças metabólicas. O objetivo é desenvolver projetos alinhados com políticas que busquem o fortalecimento do Complexo Econômico e Industrial da Saúde e maior autonomia do Brasil na produção de medicamentos para o Sistema Único de Saúde.
Complexo Econômico-Industrial
A Estratégia Nacional para o Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), lançada pelo Presidente Lula em setembro de 2023, tem como objetivo expandir a produção nacional de itens prioritários para o SUS, reduzir a dependência do Brasil de insumos, medicamentos, vacinas e outros produtos de saúde estrangeiros e assinala o compromisso com as demandas da sociedade brasileira, integrando uma nova proposta de industrialização do país, voltada à inclusão de todas as pessoas, com sustentabilidade social e ambiental e geração de emprego e renda. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, ressaltou a estratégia.
“Para ter uma política de ciência e tecnologia em saúde que leve os produtos à população, temos que ter uma politica industrial. E isso é que marca esse conjunto de parcerias. Com a nova estratégia, nós temos certeza que vamos avançar juntos com tantos outros empreendimentos públicos e privados. Para isso precisamos fortalecer o Estado e sua capacidade de políticas públicas”, afirmou a ministra da Saúde
O SUS oferece medicamentos de forma gratuita para tratar o diabetes no Brasil e todas as insulinas do SUS são financiadas com recursos federais.
No âmbito do CEIS, foi lançada a Matriz de Desafios Produtivos e Tecnológicos em Saúde, que é composta pelos desafios no setor e soluções produtivas e tecnológicas apresentadas em blocos. Uma das prioridades do SUS na matriz é o diabetes, e há uma série de soluções produtivas e tecnológicas sendo implementadas:
. Plataforma produtiva para insumos e produtos de base química destinada ao desenvolvimento e produção de insulinas e seus análogos
. Plataforma produtiva de inteligência artificial (destinada ao desenvolvimento e produção local de tecnologias de informação e conectividade para o monitoramento da diabetes)
. Plataforma produtiva para testes diagnósticos in vitro (destinadas ao desenvolvimento e produção de testes diagnósticos e dispositivos médicos para tratamento de úlceras no pé diabético)
. Plataforma produtiva para dispositivos médicos e biomateriais.
O papel dos investimentos públicos no estímulo à inovação foram destacados pela ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.
A ministra citou que das 11 chamadas públicas do Programa Mais Inovação, que prevê R$ 66 bilhões de investimentos em projetos de inovação das empresas até 2026, dois são da área de saúde e biotecnologia. Segundo a ministra, R$ 250 milhões estão sendo investidos para empresas nacionais desenvolverem projetos inovadores de risco tecnológico na área da saúde, e outros R$ 250 milhões para Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) em projetos no setor. “Estamos vendo a ciência e tecnologia de ponta sendo usada para cuidar das pessoas e desenvolver o nosso país”, afirmou.
Finep
A farmacêutica Biomm obteve R$ 203 milhões de crédito (Finep, BNDES E BDMG), além de R$ 133 milhões aportados via equity (BNDES e BDMG) para implantar a unidade Industrial biofarmacêutica em Nova Lima (MG).
Autossuficiência
A Biomm é considerada uma pioneira no setor de biomedicamentos no Brasil e está inserida na estratégia do Complexo Econômico-industrial da Saúde. A empresa participa do Programa de Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) do Ministério da Saúde. A parceria visa a autossuficiência na produção e o acesso ao tratamento em todo o país. A companhia é 100% nacional, fundada em 2001 e atua na oferta de fármacos acessíveis para o tratamento de doenças crônicas no país.