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Eleição em Duque de Caxias tem polarização e onipresença do discurso evangélico

Com forte tendência à polarização da campanha, Duque de Caxias tem nestas eleições quatro candidatos a prefeito. A cidade da Baixada Fluminense é o segundo maior colégio eleitoral do Estado do Rio, com 674.819 eleitores, e representa 5% do eleitorado fluminense. Estão na disputa José Camilo Zito (PV), Netinho Reis (MDB), Celso do Alba (União Brasil) e Wesley Teixeira (PSB).

Do total de eleitores aptos a votar nas eleições deste ano, 53% são do gênero feminino e 46% do gênero masculino. A maior parte do eleitorado (44%) encontra-se na faixa etária dos 35 a 59 anos. O segundo maior grupo é formado pelos eleitores mais jovens (32%), com idades entre 16 e 34 anos, e o menor deles é composto por idosos (24%), ou seja, pessoas com mais de 60 anos.

Analisando as estatísticas das eleições anteriores, é possível perceber que o percentual de comparecimento às urnas foi de 76% do eleitorado registrado, não muito distante da média do Estado do Rio numa eleição municipal, que foi de 72% em 2020. Em relação aos votos brancos e nulos, foi menor na eleição para o cargo de vereador, tendo sido computados 13% dos votos como brancos ou nulos, enquanto o cargo de prefeito foi de 20%, diferença que não foi percebida na capital, por exemplo, onde a soma de brancos e nulos foi de 19% para ambos os cargos.

Nas eleições em Duque de Caxias, pouco destaque é dado para as candidatas mulheres, seja na disputa pelo Legislativo ou Executivo municipal. Nunca houve uma prefeita. A presença feminina só teve espaço na Câmara Municipal, mesmo assim reduzido numericamente e qualitativamente, já que nunca houve uma mulher eleita presidente da Casa.

Estratégica na Baixada, Duque de Caxias se destaca na economia estadual, tendo ocupado, em 2023, a quarta posição no ranking das maiores receitas orçamentárias do estado (IBGE), chegando a mais de R$ 4 bilhões. A pontuação no IPS Brasil 2024, que avalia a qualidade de vida da população, é de 56,68 pontos. As principais fragilidades que empurram o índice para baixo são o atendimento às necessidades humanas básicas e educacionais, como baixa cobertura vacinal, o alto número de homicídios de homens jovens e a alta evasão no ensino fundamental.

Já de acordo com o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC-BR), pesam negativamente o total da população atendida com esgotamento sanitário e a escassez de espaços culturais e esportivos. Faltam ainda vagas em creche.

Em comum, o discurso evangélico

Nas quatro candidaturas a prefeito de Duque de Caxias, há pelo menos um elemento em comum: a forte presença de expressões evangélicas nos discursos e nas redes sociais. Todos os candidatos possuem ligações com alguma igreja.

Wesley Teixeira, evangélico e filho de um pastor, é o único que traz sua religião no status do Instagram, onde também indica a participação no movimento negro.

Já José Camilo Zito publica com frequência vídeos acompanhando sua filha, a ex-deputada federal e candidata a vereadora Andreia Zito (PV), em igrejas evangélicas. O ex-prefeito sempre faz orações nas reuniões políticas que promove.

Netinho Reis tem usado versículos bíblicos em sua página oficial de campanha, além de postar fotos de visitas a igrejas evangélicas em diversos bairros do município. Seu tio e cabo eleitoral Washington Reis também é evangélico.

Celso do Alba usa um slogan que faz citação direta a Deus, além de mencionar em suas postagens nas redes sociais que é evangélico.

Há que se verificar ao longo da campanha eleitoral como cada um dos candidatos recorrerá à narrativa religiosa e conservadora nessa comunicação com o eleitor em busca de votos.

Quem são os candidatos em Duque de Caxias?

José Camilo Zito (PV). Candidato que lidera as pesquisas de intenções de voto, é o representante do presidente Lula na disputa, polarizando com o bolsonarista Netinho Reis. Ex-deputado estadual, ex-vereador e ex-prefeito por três vezes, alcançou em 2000 a marca de 81% dos votos para o comando do Executivo municipal. À época, ficou conhecido como o “Rei da Baixada”. Com passagens por seis partidos, tem histórico de direita. Nas eleições de 2022, defendeu o nome de Lula na Baixada Fluminense, ficando próximo de caciques petistas.

Netinho Reis (MDB). Nome dos Reis na disputa, tem o apoio da família Bolsonaro. Empresário, é pouco conhecido. A decisão de Washington Reis de indicar seu sobrinho como candidato veio após a impossibilidade legal de o ex-prefeito concorrer devido a problemas com a Justiça Eleitoral. A escolha de um de seus irmãos deputados, Gutemberg e Rosenverg, que possuem mandatos na Câmara Federal e na Alerj, respectivamente, para a vaga foi de pronto descartada, já que a família perderia espaço no Legislativo em caso de vitória.

Celso do Alba (União). Ex-aliado da família Reis até o ano passado, está em seu terceiro mandato na Câmara Municipal, que atualmente preside. Foi próximo do ex-prefeito Washington Reis, ocupando a Secretaria de Meio Ambiente entre 2017 e 2019. Desde 2023, iniciou esforços de lançar sua candidatura a prefeito, recebendo apoio de desafetos de Reis. Sua aliança reúne Novo, PRTB e PMB. Seus principais aliados no estado são o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), e o deputado Márcio Canella (União), candidato a prefeito de Belford Roxo.

Wesley Teixeira (PSB). Sua candidatura tem o apoio da federação PSOL-Rede e da UP, partidos de esquerda que rejeitaram a candidatura de Zito (PV), apoiada por PT e PCdoB. Reúne como principais apoiadoras locais Rose Cipriano e Ivanete Silva, ambas candidatas ao cargo de vereadora pelo PSOL. Wesley possui trajetória pública nos movimentos sociais. Nas eleições de 2022, quando disputou uma vaga na Assembleia Legislativa, terminou o pleito como suplente pelo PSB. Nas pesquisas de intenções de voto, ele aparece na lanterna.

Tamo Junto
O projeto é uma parceria do EXTRA com o Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em que jornalistas e pesquisadores focalizam o processo eleitoral deste ano em dez cidades da Região Metropolitana e do Interior do Rio de Janeiro, abordando problemas, apontando soluções e apresentando os candidatos e seus planos de governo. (Mônica Gonçalves é doutoranda em Ciências Sociais pela UFRRJ. Texto sob a supervisão de Marcelo Remigio)

 

 

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