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Como o Olympia virou maior campeonato de fisiculturismo do mundo

Muitas vezes descrito como a “Copa do Mundo do fisiculturismo”, o Olympia é o maior campeonato da modalidade. Organizado pela Federação Internacional de Fitness e Bodybuilding (IFBB), o evento é uma criação do empresário canadense Joe Weider, em 1965, para rivalizar com o Mr. Universo, promovido pela Associação Nacional Britânica de Fisiculturistas Amadores (NABBA). Na época, a ideia das duas competições era simples: eleger o homem com o melhor físico do mundo, sem qualquer divisão de peso ou categoria como existe hoje. Conheça a história do Olympia nesta reportagem.

O norte-americano Larry “The Golden Boy” Scott venceu as duas primeiras edições do Olympia, em 1965 e 1966, seguido pelo cubano Sergio Oliva nas três edições seguintes.

O recorde de títulos é de uma mulher, a norte-americana Iris Kyle, dona de dez troféus na Ms. Olympia. Entre os homens, Lee Haney e Ronnie Coleman, ambos dos Estados Unidos, são os maiores vencedores – oito vezes.

História do Olympia

Filho de judeus poloneses que migraram para Québec, o criador do Mr. Olympia é um dos mais importantes empresários da indústria fitness de todos os tempos.

Em 1935, com apenas 16 anos, Joe Weider lançou uma primeira publicação, a revista Your Physique, que depois seria rebatizada como Muscle & Fitness, na qual divulgava métodos de treinamento físico, dieta e suplementação.

A capacidade dele de comunicar sobre o universo da musculação para o público leigo renderia ainda outras publicações com o passar das décadas, como as revistas FlexMen’s Fitness e Shape. Ao promover os exercícios com pesos de maneira sistematizada, Joe fez os protocolos de treino serem amplamente seguidos por diversos fisiculturistas.

Ben e Joe Weider: irmãos fundaram a IFBB e criaram o Mr. Olympia — Foto: Reprodução/Site oficial de Joe Weider
Ben e Joe Weider: irmãos fundaram a IFBB e criaram o Mr. Olympia

Na década de 1940, Joe e o irmão Ben, na intenção de organizarem e padronizarem as regras para o esporte que apenas começava a crescer, cofundaram a Federação Internacional de Fisiculturistas, significado original atribuído à sigla IFBB. O nome atual, que manteve as iniciais, seria adotado em 2004. Entre os principais objetivos da entidade estavam a profissionalização e a internacionalização da modalidade.

Durante as duas primeiras décadas, a organização presidida por Ben organizava shows locais, como o Mr. America, enquanto Joe utilizava as publicações editoriais para difundir o estilo de vida da musculação e promover o bodybuilding como uma modalidade estruturada.

Primeiros anos de Olympia

Em 1965, surgiu o Mr. Olympia com o objetivo de coroar o melhor físico do mundo fitness, uma forma de definir quem seria o campeão mundial da modalidade. Ocorre que a principal concorrente da IFBB, a NABBA, já organizava a sua versão da “Copa do Mundo do fisiculturismo”, o Mr. Universo, desde o final da década de 1950 e estava mais bem estabelecido internacionalmente.

Os primeiros anos não foram fáceis para os irmãos Weider. Apesar de o Olympia ser hoje o maior sonho de milhares de atletas pelo mundo, o cenário naquela época era bem diferente.

Sem a mesma visibilidade e com dificuldade para captar patrocinadores e investidores, Joe tirou dinheiro do próprio bolso para fechar as contas do evento nas edições iniciais. A premiação era de apenas US$ 1 mil para o campeão, muito inferior aos mais de US$ 1,5 milhão distribuídos aos top-5 de 2023, mesmo com a correção dos valores pela inflação.

Encontrar atletas para a competição também era uma dificuldade. Em duas edições, o Troféu Eugen Sandow chegou a ser concedido ao único atleta inscrito: Sergio Oliva, em 1968, e Arnold Schwarzenegger, em 1971. Em 1969, os dois também foram os únicos bodybuilders a subirem no palco para disputa do título.

Até aquela época, o Mr. Universo da NABBA era o principal evento da modalidade. O torneio da organização britânica existe até hoje, mas com muito menos exposição midiática e sem a elite do esporte, não possuindo mais forças para competir com o Olympia.

Fator Arnold Schwarzenegger

É pela figura do austríaco-americano, inclusive, que o Olympia começa a virar o jogo. Campeão de powerlifting e vencedor do Mr. Universo, Schwarzenegger já despontava como uma estrela no meio fitness quando trocou a NABBA pela IFBB e estreou no torneio em 1969.

Depois do vice na primeira participação, Schwarzenegger empilhou seis vitórias seguidas, antes de anunciar a primeira aposentadoria do bodybuilding competitivo. Ele voltaria para competir, ganhar mais uma vez e se aposentar de novo na edição de 1980.

Arnold Schwarzenegger é figura-chave para o crescimento do Olympia e do próprio fisiculturismo — Foto: Reprodução/Instagram
Arnold Schwarzenegger é figura-chave para o crescimento do Olympia e do próprio fisiculturismo

Com Schwarzenegger, o Olympia teve crescimento notável. Em 1969, o astro competiu apenas com Sergio Oliva por US$ 1 mil. Onze anos depois, quando se despediu, o heptacampeão precisou vencer outros 15 participantes para conquistar o último título de Mr. Olympia, que veio acompanhado dc heque de US$ 25 mil. Este aumento de competidores e premiação seguiria ocorrendo gradativamente durante as décadas seguintes.

O carisma e a dedicação de Schwarzenegger ajudaram no reconhecimento do fisiculturismo como esporte, com o documentário “Pumping Iron” sendo a cereja do bolo. Lançada em 1977, a produção retratou a preparação dele e dos principais concorrentes, Franco Columbu e Lou Ferrigno, para o campeonato.

Foi tanto sucesso que os três tiveram as carreiras em filmes de Hollywood impulsionadas. Eles estrelaram produções como “Conan, o Bárbaro” (1982), “Hércules” (1983) e “Exterminador do Futuro” (1984). Essa época ficou conhecida como a “Era de Ouro do bodybuilding”.

Mesmo após virar astro do cinema, Schwarzenegger continuou sendo figura ativa na promoção do fisiculturismo, com participações em diversos eventos e criação do seu próprio, o Arnold Sports Festival, em 1989.

Aliando o sucesso global conquistado com o seu talento para o marketing, o ator ajudou na expansão do esporte e na consolidação da marca do Olympia durante as décadas seguintes.

Novos ídolos

Além da contribuição midiática de Schwarzenegger, o Olympia se consolidou durante os anos 1980 e 1990 graças ao aumento na quantidade de atletas profissionais da modalidade.

Com maior competitividade, elevou-se o nível de exigências por parte dos jurados e do próprio padrão físico que os fisiculturistas precisavam apresentar no palco. Nesta época, surgiram ídolos do esporte como Lee Haney, octacampeão entre 1984 e 1991, e Dorian Yates, hexacampeão de 1992 a 1997.

Em 1998, Ronnie Coleman, considerado por muitos fãs como o maior atleta da história do fisiculturismo, conquistou o seu primeiro título. Ele seguiria com o título de Mr. Olympia intacto até 2005, igualando o octacampeonato de Haney.

No início dos anos 2000, entretanto, o Rei precisou vencer disputas acirradíssimas com o também norte-americano Jay Cutler. Em 2006, depois de quatro vices, Cutler finalmente destronou o rival, conquistando o primeiro de seus quatro troféus do evento.

Ronnie Coleman e Jay Cutler: rivalidade é considerada a maior da história do esporte — Foto: Reprodução/Instagram
Ronnie Coleman e Jay Cutler: rivalidade é considerada a maior da história do esporte

Nos anos em que estiveram no auge, Coleman e Cutler viajavam o mundo como guest posers em eventos da IFBB e, mesmo sem serem avaliados formalmente, disputavam a coroa do fisiculturismo. A rivalidade entre os dois é considerada a maior da esporte.

Olympia Weekend e as novas categorias

Para atingir mais fãs, o Olympia sofreu uma série de mudanças a partir do final dos anos 1990. Em 1997, seguiu os passos do Arnold Sports Festival e passou a abrigar, além da competição de fisiculturismo, a Olympia Expo, maior feira de fitness e bem-estar do mundo, e eventos menores de outras modalidades, como disputas e demonstrações.

Ao se remodelar com este novo formato, o festival passou a se chamar Olympia Fitness & Performance Weekend, com o título de Mr. Olympia passando a se referir especificamente ao campeão da categoria Open masculina.

Em 1999, uma das novas competições integradas ao festival foi o Fitness Olympia, categoria feminina disputada desde 1995 em que, além de músculos, as atletas precisam demonstrar habilidades físicas em uma apresentação coreográfica de força e elasticidade.

No ano seguinte, a versão feminina do bodybuilding, o Ms. Olympia, que era disputado separadamente desde 1980, também passou a fazer parte do evento.

Na edição de 2008, criou-se também a divisão de 202 libras, posteriormente adaptada para as 212 libras atuais, em que atletas com menor peso e altura buscam atingir os mesmos padrões físicos da Open.

Visando atingir público ainda mais amplo e diversificado, o Olympia criou categorias, em que os objetivos a serem alcançados são outros padrões físicos. Foram os casos de Men’s Physique (2013), Classic Physique (2016) e Wheelchair (2018), entre os homens, e de Figure (2003), Bikini (2010), Women’s Physique (2013) e Wellness (2021), entre as mulheres.

A marca Joe Weider’s Olympia se consagrou mundialmente e inclui ainda outros eventos como o Masters Olympia e o Olympia Amador, que possui uma edição anual brasileira e em 2024 acontece no fim de semana seguinte ao do evento em Las Vegas.

Nos últimos anos, o crescimento do Mr. Olympia acompanhou a explosão da cultura fitness em escala global. No contexto específico do Brasil, ocorreu aumento bastante expressivo no número de atletas profissionais do país, torneios em território nacional e, consequentemente, de fãs.

Este movimento acompanha uma tendência da indústria do ramo, que, entre academias, plataformas de treinamento, suplementos e outros itens relacionados, apresentou expansão de 35% em 2023, de acordo com dados do Itaú Unibanco.

Com o atual contexto de redes sociais, os fisiculturistas se transformaram em influenciadores digitais que compartilham as experiências de treino, dieta e suplementação com milhões de seguidores.

Olympia hoje

Atualmente, o Olympia está consolidado como a maior competição do fisiculturismo. Em 2023, a transmissão das disputas via pay-per-view, somando ao vivo e VT, superou a marca de 2 milhões de visualizações em mais de 100 países. O evento também é sucesso nas redes sociais, com 5,9 milhões de seguidores no Instagram, 2,3 milhões no Facebook e 326 mil inscritos no canal do YouTube.

Na edição 2024, haverá mais de 300 competidores em 11 categorias. Se no início apenas o campeão levava prêmio em dinheiro, hoje a bolsa é estendida a todos os top-5, exceto na categoria Wheelchair. São US$ 1,63 milhão pagos aos melhores colocados, com o maior prêmio sendo entregue ao Mr. Olympia (vencedor da Open), que chegou a US$ 400 mil em 2023. Os vencedores das demais divisões receberam 50 mil dólares cada.

Confira o número de atletas em cada categoria no Olympia 2024:

  • Mr. Olympia: 19
  • 212 Olympia: 19
  • Classic Physique Olympia: 64
  • Men’s Physique Olympia: 61
  • Ms. Olympia: 15
  • Fitness Olympia: 14
  • Figure Olympia: 27
  • Bikini Olympia: 55
  • Women’s Physique Olympia: 19
  • Wellness Olympia: 37
  • Wheelchair Olympia: 9

 

Premiação do Mr. Olympia:

  • Campeão: US$ 400 mil
  • Vice: US$ 150 mil
  • 3º lugar: US$ 100 mil
  • 4º lugar: US$ 40 mil
  • 5º lugar: US$ 30 mil

 

Premiação do 212 Olympia:

  • Campeão: US$ 50 mil
  • Vice: US$ 20 mil
  • 3º lugar: US$ 10 mil
  • 4º lugar: US$ 6 mil
  • 5º lugar: US$ 4 mil

 

Premiação das demais categorias, exceto Wheelchair:

  • Campeão: US$ 50 mil
  • Vice: US$ 20 mil
  • 3º lugar: US$ 12 mil
  • 4º lugar: US$ 7 mil
  • 5º lugar: US$ 6 mil

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