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No adeus a Mujica, Lula exalta exemplo de política ‘digna, respeitosa e humana’

Presidente brasileiro partiu de Pequim direto a Montevidéu para homenagear o colega e amigo: “Uma pessoa como Pepe Mujica não morre”, disse

 

Na tarde desta quinta (15/5), o presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva compareceu ao velório do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, na cidade de Montevidéu. Lula chegou direto de Pequim, após aproximadamente 25 horas de voo. A primeira-dama Janja Lula da Silva participou da cerimônia.

Lula falou com jornalistas presentes. Acompanhe:

“Eu estou vindo de uma viagem de Pequim. Eu ontem fiquei sabendo da morte do companheiro Pepe Mujica e imediatamente liguei para o presidente Yamandú pra saber que horas ia ser o velório, porque eu não queria que o Pepe fosse cremado ou enterrado sem que eu pudesse me despedir do Pepe Mujica. Foram 25 horas de voo até aqui para prestar uma homenagem a um político que eu não o respeito apenas como político. O Pepe Mujica é mais do que isso. Pepe Mujica é um ser humano muito, muito especial, para quem pensa no passado, para quem pensa no presente, para quem pensa no futuro.

“O que é gratificante para nós seres humanos é que uma pessoa como Pepe Mujica não morre. Se foi o corpo dele, a carne dele se vai, mas as ideias que Pepe Mujica plantou em todos esses anos, inclusive a generosidade de um homem que passou 14 anos no cárcere, e que conseguiu sair para a liberdade sem nenhum ódio das pessoas que o aprisionaram, das pessoas que o torturaram. Isso é uma dádiva de Deus, que só é concedida a seres humanos superiores, e o Pepe Mujica é um ser humano superior. É uma pessoa que tem poucas no mundo com a similaridade, com a competência política, com a capacidade de falar, sobretudo com a juventude, como Pepe Mujica.

“Eu conheci na minha vida muita gente, muitos políticos, muita gente que eu gosto, muita gente que eu respeito, mas o Pepe era aquela figura especial. O Pepe era aquela figura mais carinhosa, aquela figura em que eu aprendi a respeitar, admirar e a seguir cada passo que o Pepe dava depois que ele assumiu a Presidência do Uruguai. Então não podia de deixar de vir me despedir dele e da esposa dele, que tanto quanto Pepe, é uma figura muito admirável.

“Eu saio daqui com muita tristeza porque nós tivemos nesses últimos 15 dias duas perdas irreparáveis: o papa Francisco, que era uma ser humano muito, muito, muito especial, com uma concepção humana muito grande, com uma generosidade acima da média da humanidade, e agora o Pepe Mujica o acompanha.

“E eu espero que os dois juntos, onde eles estiverem no céu, não deixem de olhar e consigam abençoar para que a humanidade seja melhor, para que a humanidade seja mais fraterna, para que a humanidade seja mais generosa, e que a política possa ser feita de forma mais digna, mais respeitosa e mais solidária. Por isso eu me vou agora para o Brasil tendo a certeza de que a minha vinda aqui foi dar um abraço numa das pessoas que eu aprendi a respeitar como poucas vezes eu respeitei alguém na minha vida. Um beijo para vocês”.

 

Biografia de Pepe Mujica

José Alberto Mujica Cordano nasceu em Montevidéu, em 20 de maio de 1935. Ele completaria 90 anos na próxima terça-feira. De família de origem humilde, Mujica entrou para a política ao fundar o Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, grupo guerrilheiro urbano que operou nos anos 1960 e 1970 e enfrentou a ditadura civil-militar no Uruguai (1973-1985).

Nesse período, foi ferido em quatro ocasiões em confrontos com policiais. Foi preso, fugiu duas vezes até ser recapturado definitivamente, em 1972.

Foram 14 anos de prisão onde passou por torturas. Em 1985, com o fim da ditadura e aprovação de um projeto de anistia, Mujica foi libertado. Em seguida, entrou para a política, ajudou a fundar o partido Movimento de Participação Popular (MPP) , pelo qual foi eleito deputado, em 1994. Em 1999 foi eleito senador e, depois, foi ministro da Agricultura durante o governo de Tabaré Vázquez, de 2005 a 2010.

O auge de sua carreira política ocorreu em 2010, quando foi eleito presidente do Uruguai. Ele era conhecido como “presidente mais pobre do mundo”, por seu estilo de vida simples. Morava em um sítio modesto nos arredores da Montevidéu, dirigia seu próprio Fusca ano 1987 diariamente até a sede do Executivo e doava parte do salário para projetos sociais.

Na Presidência, Pepe Mujica chamou atenção por promover uma legislação considerada progressista com a descriminalização do aborto, a lei do casamento igualitário, que permitiu casais homossexuais adotarem filhos, além da legalização da maconha.

Após deixar a Presidência, voltou ao Senado, cargo que ocupou até 2020, quando renunciou por motivos de saúde, em meio à pandemia de covid-19.

Em abril do ano passado, Mujica anunciou ter recebido diagnóstico de câncer no esôfago. Desde então, passou a ter uma vida mais reclusa, com raras aparições. O tumor acabou se espalhando para outras partes do corpo.

Em 5 de dezembro do ano passado, durante visita a Montevidéu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condecorou Pepe Mujica com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais alta condecoração oferecida pelo Brasil a cidadãos estrangeiros. Na ocasião, o presidente da República referiu-se ao ex-Presidente Mujica como “a pessoa mais extraordinária” entre os presidentes com quem conviveu.

Em junho de 2018, Mujica visitou Lula, que estava preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Já em outubro de 2022, às vésperas das eleições, o uruguaio participou de ato da campanha de Lula, em São Paulo, e reforçou que a eleição representaria um retorno da democracia no Brasil.

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