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Malária: testes da Fiocruz identificam doença em 12 bolsas de sangue e evitam até 48 infecções; entenda

Nesta semana, uma bolsa de sangue com malária foi identificada no Hemocentro do Rio de Janeiro, evitando que cerca de quatro pessoas fossem contaminadas. A detecção na área considerada não endêmica para a doença foi possível graças aos novos kits NAT Plus, desenvolvidos em Bio-Manguinhos/Fiocruz, o primeiro teste que analisa o parasita, junto com outros patógenos, nas amostras para doação.

Durante os cerca de sete meses em que os kits estão sendo utilizados, já foram testadas mais de 500 mil bolsas de sangue e, em 12 delas, foi identificado o agente que causa a doença. Foram seis amostras na Região Norte, onde se concentra a maioria dos estados em que a malária é endêmica; 2 na Região Nordeste e 4 na Região Sudeste – todas no Rio de Janeiro.

Como cada bolsa alcança até 4 pacientes, as análises podem ter evitado até 48 novas infecções. Os kits começaram a ser implementados no Brasil em dezembro do ano passado, e a expectativa da Fundação é que, até 2024, a ferramenta chegue a todos os 14 hemocentros públicos do país.

Antes, era utilizada a primeira geração do Kit NAT, adotada desde 2011, que detecta os vírus HIV, da hepatite B e da hepatite C. Já a nova versão inclui de forma inédita o parasita da malária. Além de ampliar a segurança, o equipamento permite a redução do tempo de espera para doação de alguém que visitou uma área endêmica.

Sem os kits, é necessário uma espera de um ano para poder doar sangue após estar nos locais. Com eles, passa a ser permitido aguardar apenas um mês, já que o teste identifica a presença do patógeno. De acordo com o Ministério da Saúde, 99% dos casos de malária se concentram na região amazônica, composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Especialista Científica em Diagnóstico Molecular de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Patricia Alvarez, explica que a inclusão dos novos testes é importante especialmente para os locais considerados não endêmicos, onde não há testagem de rotina para a população, e o perfil da doença é desconhecido pela maioria.

Ela cita, à Agência Fiocruz, que os casos detectados no Rio de Janeiro foram assintomáticos, ou seja, identificados em pessoas que não sabiam que estavam com malária e, por isso, se consideravam aptas para realizar a doação.

“O NAT Plus está acompanhando as novas tendências no diagnóstico molecular e trazendo para os bancos de sangue uma tecnologia de ponta que aumenta a segurança transfusional. Além disso, a tecnologia utilizada no kit NAT Plus ainda abre a possibilidade de incorporação de novos alvos (de doenças) no futuro, de acordo com a demanda do Ministério da Saúde”, disse o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, à agência.

O diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Mauricio Zuma, destaca ainda que a unidade está envolvida não apenas no desenvolvimento dos kits, mas em todo o processo de implementação no Sistema Único de Saúde (SUS), “até a instalação e treinamento das equipes dos sítios testadores”.

Além de bolsas de sangue, o kit também é indicado para analisar amostras de doadores de órgãos ou de doadores falecidos em parada cardiorrespiratória, o que amplia a proteção de pacientes durante procedimentos de transplante.

Eliminação da malária

A implementação dos novos testes é importante dentro do contexto de meta do Ministério da Saúde de eliminar a doença do Brasil até 2035. A malária é causada pelo parasita Plasmodium e transmitida pela picada do mosquito fêmea Anopheles.

Porém, embora duas vacinas tenham recebido aprovações inéditas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por países africanos, elas são destinadas ao Plasmodium Falciparum, parasita que causa os quadros mais graves de malária e é prevalente na maior parte do mundo, mas não no Brasil.

Aqui, a maior parte dos diagnósticos é provocada por um outro Plasmodium, o Vivax. Ainda assim, a doença tem cura e pode ser tratada com medicamentos disponíveis no SUS.

De acordo com a Fiocruz, os sintomas incluem febre, dor de cabeça e calafrios, aparecem geralmente entre 10 e 15 dias depois da picada e podem ser difíceis de reconhecer. Por isso é importante estar atento ao visitar regiões endêmicas, já que, se não for tratada, a malária pode evoluir para quadros graves e morte.

No ano passado, foram registrados 129,1 mil casos no país, 8,1% a menos que o total de 2021. Em relação aos óbitos, o Brasil registrou 50 mortes em 2022, contra 58 em 2021. Em 2019, foram 37 óbitos no ano, ritmo que subiu com a chegada da Covid-19.

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