O acordo de R$ 10 mil com PMs para livrar atropelador de Rafael Mascarenhas
Quando o Túnel Acústico, na Zona Sul do Rio, era fechado ao trânsito de veículos, de madrugada, virava pista perfeita para skatistas. Com asfalto liso e bom ângulo de inclinação, a via permitia a praticantes desse esporte essencialmente urbano descer da galeria em direção à Gávea, executando curvas em ziguezague, enquanto os operários trabalhavam nas obras de manutenção. Nas primeiras horas de 20 de julho de 2010, uma terça-feira, o estudante Rafael Mascarenhas, de 18 anos, andava de skate no túnel quando foi atropelado pelo Fiat Siena conduzido por Rafael Bussamra. Segundo a polícia, o motorista violara a interdição e apostava um “pega” com um amigo num Honda Civic.
O rapaz, filho da atriz Cissa Guimarães e do saxofonista Raul Mascarenhas, foi levado para o Hospital Miguel Couto, com traumatismo em várias partes do corpo. Ele passou por cirurgias, mas não resistiu. Apaixonado por música desde pequeno, o jovem, que cantava e tocava guitarra, integrava o programa “Geleia do Rock”, do canal Multishow. Ele estava no último ano do Ensino Médio da Escola Parque, na Gávea, mas já tinha sido aprovado para o curso de Engenharia Civil na PUC-Rio (ao lado do túnel). O caso voltou à tona esta semana, 13 anos depois, quando os principais envolvidos foram presos.
De início, uma nota oficial da PM divulgada à imprensa afirmava que Bussamra fora liberado porque os policiais não perceberam que o carro estava com a lataria amassada. Porém, quando o automóvel foi localizado e levado até o pátio da 15ª DP (Gávea), que investigava o caso, ficou claro que a alegação não parava em pé. A avaria na parte dianteira do veículo era gritante. Então, a corporação reconheceu o erro de conduta dos policiais, que foram afastados e passaram a ser investigados. No dia seguinte, o pai do atropelador, Roberto Bussamra, afirmou, em depoimento, que os PMs liberaram o Fiat Sena após ele concordar em pagar R$ 10 mil em propina e que já tinha entregue R$ 1 mil desse total.
Ainda segundo o depoimento de Roberto Bussamra, ele recebeu um telefonema do filho por volta de 2h da madrugada e saiu de casa. O empresário encontrou o atropelador e um amigo conversando com dois PMs na Rua Pacheco Leão, no Jardim Botânico, distante do local do crime. Os policiais, então, teriam exigido os R$ 10 mil de propina, afirmando que haviam “ajudado” o atropelador. Na sequência, o Fiat Siena teria sido deixado, às 4h30, numa oficina de lanternagem em Quintino, na Zona Norte, para que as avarias fossem reparadas às pressas. Horas depois, disse o empresário, todos se encontraram na Praça Mauá, no Centro, para o pagamento, mas Roberto só entregou R$ 1 mil do total.