Indy 500: veja como funciona a corrida, recordes e história
Como já é de praxe, o GP de Mônaco da F1 dividirá o fim de semana de 26 de maio com as 500 Milhas de Indianápolis, outra componente da Tríplice Coroa do Automobilismo. Marcada por tradições e muita contribuição para a história do esporte a motor, a prova realizada no Indianapolis Motor Speedway em Indiana, nos Estados Unidos, é uma das mais antigas do mundo e chega neste ano à sua 108ª edição.
A corrida recebe de 250 a 300 mil espectadores, sendo uma celebração do automobilismo dos Estados Unidos e também dos veteranos de guerra do país. É realizada anualmente no último domingo de maio, um dia antes do Memorial Day, feriado em homenagem aos militares americanos mortos. Seu atual vencedor é Josef Newgarden, da equipe Penske.
Como funciona?
A Indy 500 é sempre realizada no domingo que antecede o Memorial Day – feriado celebrado na última segunda-feira de maio, em homenagem aos veteranos de guerra americanos que morreram. Possui percurso de 500 milhas, cerca de 805 km de distância, totalizando 200 voltas. No decorrer da disputa há muitos pit stops e o número de pilotos na liderança varia, até perto da definição nos giros finais.
A corrida hoje integra o calendário da Fórmula Indy, embora admita inscrições de pilotos apenas para ela. O vencedor fatura 50 pontos para a temporada da categoria além de prêmio que pode passar de US$ 3 milhões (ou R$ 15 milhões). Os 12 primeiros colocados no grid inicial recebem até 12 pontos; o piloto que liderar uma volta recebe mais um ponto, e o que liderar em mais giros fatura outros dois.
Maio é o mês da Indy 500. Após o GP de Indianápolis, no traçado misto do IMS, os primeiros treinos são realizados ao menos uma semana antes da largada das 500 Milhas, com duração chegando a 5h.
No sábado da semana anterior à prova são definidos, em uma classificação, os 33 carros que correrão – quando a quantidade de inscritos excede o número. Foi neste contexto que, em 2019, Fernando Alonso acabou eliminado (“bumpado”) pelo novato Kyle Kaiser.
No dia seguinte os 12 pilotos restantes definem quem será o pole position. Mais treinos são promovidos na semana final, incluindo o último (Carb Day) na última sexta-feira antes da prova.
Histórias da corrida e do IMS caminham juntas
A história da prova remonta ao início do século XX: em 1909, o empresário Carl G. Fisher convocou outros três acionistas e o piloto Lewis Strang e adquiriu um terreno na área rural de Indianápolis para a construção do Indianapolis Motor Speedway.
O projeto inicial da pista já concebia dois traçados: um oval, e um misto. A proposta de adicionar inclinações de 9,2º às curvas foi inspirada pelo circuito de Brooklands na Inglaterra. Indianapolis foi inaugurada oficialmente em 12 de agosto de 1909 com uma corrida de motos.
O circuito, porém, foi fechada até 1911 após uma série de acidentes fatais que obrigaram a realização de reformas no circuito – a pista era feita de brita, piche e óleo, gerando muita poeira. Foi, então, coberta de tijolos. Parte dela, uma faixa na linha de chegada, foi mantida até os dias de hoje.
Primeira edição em 1911
A primeira Indy 500 foi em 30 de maio de 1911, em uma terça-feira depois do Memorial Day; como a pista recebia corridas perto de feriados americanos, como o Dia do Trabalho ou da Independência, os proprietários do IMS quiseram criar uma grande corrida anual, que ganhou o nome de International Sweepstakes, valendo US$ 10 mil.
Com 500 milhas ou 805 km de distância, era, na época, a maior do mundo. A edição inaugural foi vencida por Ray Harroun, que completou a prova em sete horas. Harroun também fez história na prova por outro motivo: popularizar o uso do espelho retrovisor. Buscando auxílio para a visão periférica no carro, instalou um espelho de bolso acima do volante.
A Indy 500 seguiu nos anos que sucederam, exceto em 1917 e 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, porque o circuito serviu como base da Força Aérea dos EUA, e de 1941 a 1941 pela Segunda Guerra Mundial.
O circuito ganhou novos donos uso depois do conflito vencido pelos Aliados, o IMS foi adquirido por Tony Hulman por US$ 750 mil. Sua família permaneceu gerenciando a pista até Roger Penske, fundador da equipe de mesmo nome na Fórmula Indy, comprá-lo em novembro de 2019.
De 1950 a 1960, a Indy 500 passou a integrar o calendário da recém-criada Fórmula 1. Porém, não contabilizava pontos para o Mundial e, pela distância e periculosidade, o interesse se foi.
Interesse europeu e egressos da F1
O primeiro piloto a atravessar o Oceano Atlântico para vencer em Indianápolis foi o francês Jules Goux, em 1913. Uma longa ausência, no entanto, sucedeu até a integração com a F1 entre os anos de 1950 e 1960, embora poucos pilotos da Europa se aventurassem nas 500 Milhas. Nenhum competidor do Velho Continente chegou a vencer no período.
Dentre as exceções no grid esteve Alberto Ascari, que correu em 1952 com apoio de Enzo Ferrari, mas sofreu uma quebra. Nino Farina, em 1956, e Juan Manuel Fangio, em 1958, sequer se classificaram.
Rodger Ward foi o primeiro piloto da F1 a vencer a Indy 500, em 1959 e 1962. Depois dele, Graham Hill correu e venceu em 1966, ano em que foi bicampeão na Europa; Jim Clark venceu em 1965 e quase, em 1966.
A lista de vencedores que competiram dois continentes cresceu: Mario Andretti (1969); Mark Donohue (1972); Danny Sullivan (1985); Emerson Fittipaldi (1989 e 1993); Jacques Villeneuve (1995); Eddie Cheever (1998); Juan Pablo Montoya (2000 e 2015); Alexander Rossi (2015); Takuma Sato (2017 e 2020) e Marcus Ericsson (2022).
Jack Brabham, Jochen Rindt, Jackie Stewart, Denny Hulme, Roberto Guerrero, Nelson Piquet, Nigel Mansell, Christian Fittipaldi, Sebastien Bourdais, Enrique Bernoldi, Jean Alesi, Rubens Barrichello, Fernando Alonso e Romain Grosjean são outros nomes da F1 que disputaram as 500 Milhas da década de 1960 até os dias atuais.
Recordista criou tradição do leite; Fittipaldi quebrou tabu
Nas edições entre as Grandes Guerras, Tommy Milton se tornou o primeiro a vencer duas vezes as 500 Milhas, em 1921 e 1923. Quem superou sua marca foi Louis Meyer, primeiro a vencer três vezes: em 1928, 1933 e 1936, e a estrear a icônica celebração com leite, ao invés de champanhe.
Depois do terceiro triunfo, o piloto recebeu um pequeno vidro de leitelho, um hábito oriundo de sua infância para combater o calor. A cena foi capturada por fotógrafos e agradou um empresário do setor de laticínios, que pediu que os vencedores da Indy 500 recebessem a garrafa de leite.
Entre 1947 e 1954, porém, o presidente do IMS e ex-piloto Wilbur Shaw concedia água em um cálice prateado aos vencedores, mas o leite retornou em 1956 – com um adicional de US$ 450 ao piloto e seu mecânico chefe.
Hoje, dois fornecedores da Associação Americana de Laticínios são escolhidos para premiar o vencedor com leite integral, desnatado ou semi-desnatado – além de leite sem lactose.
Emerson Fittipaldi venceu a Indy 500 em 1989, nove anos após deixar a F1, e voltou a triunfar no Indianapolis Motor Speedway em 1993 – com a presença de outros nomes da categoria: o tricampeão Nelson Piquet e o campeão de 1992, Nigel Mansell.
O brasileiro, entretanto, celebrou sua segunda conquista bebendo suco de laranja e não leite, promovendo seus negócios no ramo agrícola.
A mudança não foi bem vista nos EUA. O bicampeão da F1 explicou-se posteriormente e se desculpou através de uma nota oficial; doou a quantia de US$ 5,500 recebida pela Penske da Associação Americana de Laticínios para instituições beneficentes e até bebeu leite.
Tradições da Indy 500
O pré-corrida, por si só, já é carregado de tradições – das homenagens aos veteranos mortos, ao hino americano e a música “Back Home Again in Indiana” (“De volta ao lar, em Indiana” em tradução). A canção foi composta em 1917 e teria sido ouvida na corrida pela primeira vez em 1919, mas registros oficiais apontam 1946 como o ano da estreia da música na abertura das 500 Milhas.
Dentre as mais importantes tradições da corrida está o copo de leite dado ao vencedor, a coroa de flores desenvolvida pelo florista de Indianápolis Bill Cronin em 1960 e o grande troféu Borg Warner, concedido aos vencedores desde 1936. Feito de prata, a taça possui os rostos de cada vencedor esculpidos em uma versão maior; uma miniatura é entregue ao piloto que fatura a prova.
Outro costume das 500 Milhas é o beijo nos tijolinhos; piloto vencedor, família e equipe beijam, no chão, a faixa de tijolos que restou da pista original do circuito. Esta é mais recente, originada pelo piloto da NASCAR Dale Jarrett em 1996.
Recordes da Indy 500
– Os pilotos com mais vitórias da Indy 500, um total de quatro, são A.J Foyt, Al Unser, Rick Mears e o brasileiro Hélio Castroneves – em 2001, 2002, 2009 e 2021;
– O país com mais vitórias das 500 Milhas são os Estados Unidos, com 77. Logo atrás vem o Reino Unido, com oito conquistas, empatado com o Brasil, terceiro colocado;
– A equipe mais bem-sucedida da Indy 500 é a Pesnke, que venceu 19 vezes: a primeira em 1972 e a última em 2023, com Josef Newgarden;
– Hélio Castroneves foi o primeiro piloto a romper a barreira dos 305 km (190 milhas) na corrida em 2021;
– Das 107 edições já concluídas da corrida, só 21 foram vencidas pelo pole position;
– O maior detentor de poles em Indianápolis foi Rick Mears, com seis; Scott Dixon, ainda em atividade, vem em segundo lugar.
– Em 1977, ano da morte do proprietário do IMS Tony Hulman, a Indy 500 estabeleceu alguns marcos notáveis:
- Tom Sneva foi o primeiro pole position a passar dos 300 km/h no circuito;
- Janet Guthrie foi a primeira mulher classificada para a prova;
- A.J Foyt tornou-se o primeiro piloto a vencer quatro vezes (1961, 1965, 1967 e 1977).