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Julho Amarelo: campanha alerta sobre os riscos das hepatites virais

A pensionista R.S., de 50 anos, nunca imaginou que uma dor abdominal mudaria a vida dela de uma hora para outra. Após dar entrada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Campina Grande (PB), ela foi diagnosticada com hepatite C, uma doença silenciosa que afeta milhões de pessoas no mundo. “No começo, parecia uma virose. Quando saiu o resultado dos exames, foi uma surpresa. Eu não esperava e até relutei um pouco a aceitar”, relatou.

A paciente, que preferiu não se identificar, está em tratamento médico no Hospital Alcides Carneiro (HUAC), da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). “Eu vejo que não é bom ignorar as dores que sentimos, pois podem ser sinal de um problema mais grave, como foi a minha situação. O ideal é sempre procurar um médico”, sugeriu.

O caso da pensionista está longe de ser uma exceção. No Brasil, segundo dados de 2023 do Ministério da Saúde, estima-se que 520 mil pessoas tenham hepatite C, mas ainda sem diagnóstico e tratamento. Sim, é isso mesmo: você que está lendo esta reportagem pode estar com a doença sem saber.

Por este motivo, os hospitais que integram a Rede Ebserh, que são referências no diagnóstico e tratamento das hepatites virais, abraçam a campanha Julho Amarelo, que busca conscientizar a sociedade sobre estes cinco tipos de vírus que podem atingir o fígado e causar complicações: A, B, C, D e E.

 

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Importância do fígado

O fígado é responsável por diversas funções vitais, como metabolismo, armazenamento de nutrientes e desintoxicação. “Quando o órgão está comprometido pelas hepatites virais, essas funções essenciais são afetadas, podendo levar a complicações sérias”, explicou a médica hepatologista Rosângela Teixeira, coordenadora do Ambulatório de Referência em Hepatites Virais, ligado ao Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas (HC-UFMG). Criado há 24 anos, o espaço é um centro de excelência em atenção secundária e terciária para pacientes com hepatites virais crônicas avançadas.

 

Sinais de alerta

Os principais sinais das hepatites virais agudas são cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras, em intensidades que variam de leve a grave. Muitas vezes, porém, nenhum sintoma é notado nos pacientes. “As hepatites B e C, particularmente, podem evoluir para formas crônicas e, em grande parte dos casos, são assintomáticas até os estágios avançados da doença. Ou seja, após a instalação de cirrose e suas complicações devastadoras, como o câncer do fígado. Por isso que o tratamento é importante”, afirmou Rosângela Teixeira, que também é professora da Faculdade de Medicina da UFMG e consultora técnica em Hepatites para o Ministério da Saúde.

 

Tipos da doença

As hepatites virais são inflamações no fígado provocadas por diversos vírus. No Brasil, os tipos mais prevalentes são A, B e C. “Menos comuns, porém também presentes, são o vírus da hepatite D, mais frequentemente encontrado na região Norte do país, e o vírus da hepatite E, cuja incidência é menor no Brasil, sendo mais comum na África e na Ásia”, pontuou Bárbara Borba, médica gastroenterologista do Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT).

 

Tratamento no SUS

O diagnóstico e o tratamento das hepatites virais são assegurados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os medicamentos são administrados por via oral, com prescrição especializada. Os diagnósticos são feitos por testes rápidos, sorológicos, e a infecção é confirmada por exames de biologia molecular. Fazer testes com frequência é fundamental para identificação precoce e intervenção eficaz. O SUS também garante a vacinação desde a infância contra as hepatites A e B, essenciais na prevenção da cronificação da doença.

Além disso, nos hospitais universitários federais geridos pela Ebserh, há serviços especializados de Infectologia e Hepatologia para acompanhamento de pacientes com essas doenças, segundo o médico infectologista Jaime Araújo, chefe da Divisão Médica do Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC), da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). “Nossos hospitais estão em constante evolução no tratamento dessas infecções”, destacou.

Referência em Hepatites Virais desde a década de 1980, o HUAC está em fase de planejamento para habilitar um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e um Serviço de Atenção Especializada (SAE), que terão atendimento para pacientes com hepatites virais. A unidade hospitalar oferece, atualmente, biópsias hepáticas, um novo procedimento disponível graças à abertura do serviço de Radiologia Intervencionista.

 

Erradicação

Para os próximos sete anos, o Brasil assumiu o compromisso de eliminar 14 doenças, incluindo as hepatites virais. Em relação às hepatites B e C, a meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é diagnosticar 90% das pessoas com hepatites virais, tratar 80% das pessoas diagnosticadas, reduzir em 90% novas infecções e em 65% a mortalidade. “É um objetivo ambicioso, mas possível, especialmente para certos tipos de hepatite, por meio de uma combinação de estratégias de saúde pública, prevenção, diagnóstico e tratamento eficazes”, garantiu o médico Jaime Araújo.

 

Estatísticas

Segundo o Ministério da Saúde, entre 2000 e 2022, foram diagnosticados 750.651 casos de hepatites virais no Brasil. Desse total, o maior percentual é de hepatite C (39,8%), seguido de hepatite B (36,9%) e hepatite A (22,5%). Em relação à mortalidade, de 2000 a 2021, foram 85.486 óbitos por hepatites virais. A infecção pelo vírus C é o de maior letalidade, concentrando 76,1% dos óbitos, seguido pela hepatite B (21,5%) e, muito abaixo, está a hepatite A (1,5%).

 

Sobre a Ebserh

Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.

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