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Jovem que perdeu o Enem por estar sem RG teve mochila queimada por torcedores do Flamengo

Circula nas redes sociais um vídeo que mostra torcedores do Flamengo ateando fogo na mochila de um estudante de 17 anos, que perdeu a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2024) após ter o item roubado com os documentos. A bolsa tinha o escudo do Fluminense. O caso aconteceu no domingo, próximo ao Maracanã, na Zona Norte do Rio, quando Thierry Muniz Soares estava a caminho do local do exame. No dia acontecia a partida da final da Copa do Brasil contra o Atlético Mineiro.

No vídeo é possível ver torcedores do Flamengo comemorando o feito enquanto ateiam fogo na mochila. Um dos homens que filma a ação diz: “proibido passar hoje. Aqui é Flamengo, rapa. Passou aqui é fogo, esquece”.

— Apareceu na internet a torcida comemorando o que fizeram com o meu filho e o fim da mochila dele. Triste e lamentável vê-los comemorando enquanto meu filho sofre — disse Luiz Pierre Soares, pai do jovem, ao GLOBO.

Ao GLOBO, o jovem contou que o episódio aconteceu porque sua bolsa tinha o escudo do Fluminense. O celular e uma quantia em dinheiro que estavam no bolso da vítima não foram levados. Os dois amigos que o acompanhavam também não foram assaltados.

Os documentos do estudante foram deixados na rua pelos torcedores. Um guardador de carros que trabalha na Rua General Canabarro, onde ocorreu o caso, encontrou o passaporte e o RG do estudante e os deixou em um estabelecimento próximo.

Entenda o caso

O roubo aconteceu quando o estudante, que mora na Vila Isabel, estava a caminho do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), no Maracanã, onde faria a prova.

— Quando passei com os meus amigos indo para o local de prova, vários homens me abordaram pelas costas falando “Tricolor aqui não”. Juntou uma multidão e pegaram minha bolsa. Eu disse que estava indo fazer o Enem, mas fiquei desnorteado e só entreguei a mochila com medo — relatou Thierry, que prestaria o Enem para tentar uma vaga no curso de Design Gráfico.

O pai levava Thierry e dois amigos de carro, mas os orientou, por volta de 12h30, a seguir a pé até a instituição, visto que algumas ruas da região estavam fechadas por conta do jogo e o horário de fechamento dos portões estava próximo — os candidatos são proibidos de entrar após às 13h.

Dentro da mochila roubada estavam o RG, passaporte, a inscrição do Enem, além de lanches para se alimentar durante o exame. Os dois amigos que estavam com Thierry não tiveram nada levado.

RG autenticada negada
Mesmo abalado, Thierry conta ter seguido até o Cefet para tentar fazer o Enem. No caminho, ele comunicou ao pai o ocorrido, que chegou a levar uma cópia autenticada do RG para o filho. No entanto, o jovem foi barrado porque esse tipo de documento não é aceito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

— Eu corri para levar o documento autenticado, mas o funcionário disse que não era válido. Estamos atordoados ainda com essa situação. Ele fez o certo de manter a calma e entregar a mochila, mas é triste pensar que meu filho pode perder um ano de estudo — disse Luiz Pierre ao GLOBO.

O caso foi registrado pelo aluno e o pai na 18ª DP (Praça da Bandeira).

Esperança na reaplicação

Ao GLOBO, Thierry disse que a esperança agora é tentar conseguir fazer a reaplicação do Enem, que acontece nos dias 10 e 11 de dezembro.

— Espero muito conseguir fazer a reaplicação para não perder um ano de estudo — disse o jovem, que almeja uma vaga na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ou bolsa de estudo na Universidade Veiga de Almeida (UVA).

A reaplicação do Enem pode ser solicitada pelos candidatos que tiverem problemas logísticos, incluindo furto e roubo, falta de energia, questões de desastres naturais, ou em casos de doenças infectocontagiosas. A depender da situação relatada pelo candidato ao Inep, será preciso apresentar boletim de ocorrência expedido por órgão policial ou laudo médico.

O prazo para fazer o pedido de reaplicação é de 11 a 15 de novembro.

Barulho atrapalha alunos próximo ao Maracanã
Alunos alocados para fazer a prova do Enem no Cefet próximo ao Maracanã encontraram churrasco na calçada, som alto, cantoria de torcida e explosão de bombas. O local fica a apenas 250 metros de distância de onde foi realizado o jogo e é um conhecido ponto de passagem e concentração de torcedores.

O Cefet costuma receber as provas do Enem todo ano. Normalmente, há algum impacto dos jogos na realização da prova. No entanto, essa foi a primeira vez que no mesmo dia do Enem é realizada também uma final de campeonato, o que amplificou a mobilização dos torcedores.

Nas redes sociais, pais e alunos também reclamaram da confusão no entorno do local de prova. “Fui entregar minha irmã pra fazer o Enem no Cefet Maracanã e está a maior muvuca, encontro de organizada e som alto bem do lado”, escreveu um internauta reclamando da partida com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), organizadora do jogo, e o governador Cláudio Castro.

Na semana passada, o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) enviou um pedido à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), pra que as datas ou os horários do torneio fossem reajustados, o que não atendido.

“Essa coincidência de datas, especialmente nas cidades de Belo Horizonte e Rio de Janeiro, pode acarretar dificuldades logísticas para os participantes do exame, como congestionamentos e agitação de torcedores, prejudicando o deslocamento e o ambiente adequado para a realização das provas”, avisaram os secretários de Educação na sexta-feira da semana passada.

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