Ato em defesa da Democracia espera reunir nesta quinta 8 mil pessoas com presença de artistas, juristas e empresários
Os atos em defesa da democracia marcados para hoje na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, em São Paulo, devem reunir cerca de 8 mil pessoas, segundo a organização e a Secretaria de Segurança Pública. O evento consagra a mais organizada reação da sociedade civil ao discurso autoritário d o presidente Jair Bolsonaro (PL). Os dois manifestos que serão lidos no local foram organizados depois que o presidente reuniu embaixadores no Palácio da Alvorada para repetir ataques sem provas às urnas eletrônicas e ao Tribunal Superior Eleitoral. Ambos os textos, embora não citem Bolsonaro diretamente, defendem o Judiciário.
Paralelamente, centrais sindicais e movimentos sociais realizarão atos de apoio ao evento no Largo de São Francisco em ao menos 25 estados. Além disso, dezenas de universidades pelo país devem transmitir o ato realizado na USP e promover suas próprias leituras de manifestos.
Os dois documentos a serem lidos na USP movimentaram os mundos jurídico, empresarial, artístico e político nas últimas semanas e foram criticados pelo presidente Bolsonaro, que chamou os signatários de “sem caráter”.
Às 10h, no salão nobre da Faculdade de Direito da USP, um grupo de empresários e representantes de movimentos sociais vai ler o manifesto “Em defesa da democracia e da Justiça”. O texto reuniu 107 adesões institucionais e foi organizado pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, e pelo Comitê de Defesa da Democracia, um grupo de intelectuais e investidores.
Estão previstos discursos de 14 pessoas nesse primeiro ato, entre eles o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, o ex-presidente da Fiesp Horacio Lafer Piva, a presidente da OAB-SP, Patrícia Vanzolin, e o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias. Também falam representantes das três maiores centrais sindicais: Telma Aparecida, CUT-SP; Miguel Torres, presidente da Força Sindical; e Enilson Simões, vice-presidente da UGT.
Às 11h30, no pátio da faculdade, será lida a “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito”, organizada por juristas e que recebeu mais de 913 mil assinaturas. Entre as adesões, estão as de dez ex-ministros do Supremo Tribunal Federal e três ex-presidentes da República —Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Michel Temer—, além de grandes empresários, artistas e políticos. Os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Luis Felipe D’Ávila também assinaram o documento.
O texto é a reedição da “Carta aos Brasileiros”, lida em agosto de 1977 pelo professor de Direito Goffredo Telles Junior no Largo de São Francisco. À época, a carta denunciava o autoritarismo e a ilegitimidade da ditadura e o estado de exceção no qual o país se encontrava.
A leitura da nova carta será feita por quatro pessoas ligadas ao mundo jurídico em um palco montado pelas diretoras de teatro Daniela Thomas e Bia Lessa. Também confirmaram presença a cantora Daniela Mercury e o ex-jogador de futebol Walter Casagrande.
Poderão entrar no prédio da Faculdade apenas cerca de 1.400 convidados. A restrição ocorre devido ao espaço limitado do edifício e por recomendação da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP). Do lado de fora, são esperadas 6 mil pessoas, que devem acompanhar o evento em telões instalados na frente da faculdade. Outras universidades e faculdades de direito em todo o país planejam transmitir o evento da USP ou fazer suas próprias leituras do texto que já tem mais de 913 mil assinaturas.
Segundo a SSP, o policiamento no Largo de São Francisco e nos arredores será reforçado. A Polícia Militar acompanhará duas caminhadas até o local, uma de mil advogados organizada pela OAB-SP, que parte da sede da entidade, no centro de São Paulo, e outra do movimento estudantil, que parte da Avenida Paulista. Ambas terminam em frente à Faculdade de Direito da USP.
Entre as ausências notáveis estão o governador paulista, Rodrigo Garcia (PSDB), e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Eles foram convidados, mas não confirmaram presença.
As organizações que integram a campanha Fora, Bolsonaro!, entre elas o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e a Coalizão Negra por Direitos, e centrais sindicais, como a CUT, farão manifestação na Avenida Paulista às 17h.
As mesmas organizações prometem realizar eventos de apoio à carta em 25 estados. Além de São Paulo e Rio de Janeiro, estão programados atos em Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins.