POLÍTICA

Campanha de Bolsonaro manteve contato com hacker da Lava Jato

hacker Walter Delgatti, famoso por ter invadido contas de Telegram de procuradores da Lava Jato, teve encontros nesta semana com integrantes da campanha e aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Interlocutores disseram à Folha que Delgatti se reuniu na terça (9) com Valdemar da Costa Neto, presidente do PL. Segundo aliados do dirigente partidário, o encontro foi intermediado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP).

Integrantes da campanha bolsonarista dizem que a deputada levou Delgatti sem aviso prévio ao partido e alegam que Valdemar não deu continuidade às conversas. Ainda de acordo com membros da campanha, Valdemar descartou aproximar o hacker da campanha por não ter gostado do teor do encontro.

Nesta sexta (12), reportagem da revista Veja exibiu imagens de um veículo, no qual estaria o hacker, entrando e saindo do Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. De acordo com a publicação, um carro de um agente da Polícia Legislativa da Câmara foi visto, às 6h12 de quarta, no prédio em que Zambelli mora. Pouco depois, o veículo deixou o local e, às 6h40, buscou Delgatti em um hotel em Brasília.

O encontro, segundo a Veja, foi articulado por Zambelli, uma das parlamentares mais próximas do mandatário. Na quarta, ela publicou uma foto com Delgatti nas redes sociais. Na postagem, chamou-o de “o homem que hackeou 200 autoridades, entre ministros do Executivo e do Judiciário brasileiro”.

“Muita gente deve realmente ficar de cabelo em pé (os que têm) depois desse encontro fortuito”, escreveu.

De acordo com a revista, o objetivo da suposta reunião entre o presidente e Delgatti foi tentar engajar o hacker na cruzada de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas. O chefe do Planalto realiza frequentes ataques contra o sistema eleitoral, e sua retórica golpista é apontada por críticos como um argumento que pode ser usado pelo mandatário para questionar o resultado das eleições, caso saia derrotado.

Procurada, Zambelli não confirmou o encontro com Bolsonaro. O Palácio do Planalto não respondeu se de fato houve a reunião e o que teria sido tratado. O advogado de Delgatti também não respondeu à Folha.

Delgatti foi preso em julho de 2019 pela Polícia Federal na Operação Spoofing, que apurava a existência de uma quadrilha responsável por “crimes cibernéticos”. Segundo a corporação, ele liderou um ataque hacker contra autoridades e acessou trocas de mensagens dos procuradores da Lava Jato pelo Telegram.

O então chefe da força-tarefa da operação, Deltan Dallagnol, foi um dos hackeados. Assim, foram tornadas públicas mensagens dele com outros investigadores e também com o então juiz do caso, o ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro e hoje candidato ao Senado Sergio Moro (União-PR).

Delgatti admitiu à PF ter entrado nos celulares dos procuradores e repassado as mensagens ao site The Intercept Brasil, que revelou o caso posteriormente conhecido como Vaza Jato. Outros veículos participaram da divulgação das informações obtidas, entre os quais a Folha.

Os diálogos vazados indicaram atuação conjunta dos procuradores com Moro nos processos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na operação. O material teve papel central nos julgamentos no STF (Supremo Tribunal Federal) que declararam a suspeição de Moro nas condenações contra o petista.

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