Rosalía canta Elis Regina, faz o quadradinho e é ovacionada em estreia no Brasil
O barulho da plateia parecia de um show de boy band. O coro era tão alto que era difícil ouvir a voz da artista. O público berrava até as partes instrumentais e ia abaixo só de ver ela mascar chicletes ou botar óculos escuros.
Rosalía estreou no Brasil sob essa comoção. A cantora espanhola fez um show único e lotado, para 8 mil pessoas, no Espaço Unimed (antigo Espaço das Américas) na noite desta segunda-feira (22).
O melhor é que ela consegue isso sem ir pelo caminho fácil. O show é a cara das músicas dela: pop, vibrante e esquisito, fazendo certo por linhas tortas. O visual é impressionante, estiloso e simples.
O show estava marcado para uma casa com capacidade para quatro mil pessoas, e teve que mudar para uma com o dobro do tamanho. Mesmo assim, os ingressos se esgotaram rapidamente.
O show começou às 21h40 e durou quase duas horas. Ela cantou poucas dos dois primeiros álbuns, “Los Ángeles” (2017) e “El mal querer” (2018), e todas as faixas do aclamado “Motomami” (2022).
A cantora de Barcelona apareceu há cinco anos com uma releitura eletrônica do flamenco. Nos dois álbuns seguintes, em especial “Motomami”, ela abriu o leque para reggaeton, mambo, bolero, funk carioca e mais.
Ela é acompanhada por oito ótimos dançarinos e só mais um músico no palco: um tecladista, que complementa as bases eletrônicas das músicas.
Outra figura importante é um câmera que a segue fazendo imagens intimistas projetadas nos telões – e às vezes fica na frente de todo mundo, mas pelo menos as cenas são boas.
Até o meio do show é difícil cravar que Rosalía canta bem, dado o volume dos fãs. Ela parece fazer uma melodia ainda mais bonita em “La Fama”, mas quase não dá pra ouvir.
Quando chegam os momentos mais introspectivos de “Motomami”, como “G3 N15” e “Sakura”, a voz sobressai, com a mesma performance emocionante de estúdio.
Outro ponto alto é “Hentai”, com Rosalía ao piano, em uma interpretação ao mesmo tempo emotiva, sexy e cômica, que supera a do álbum.
No meio do show, ela soltou: “Amo Elis Regina, ela é uma inspiração para mim”. Rosalía cantou um trecho de “Águas de Março”, música de Tom Jobim que também estava no repertório de Elis.
Ela emendou com um trecho de outra menos óbvia de Tom Jobim, “Você vai ver”, mas não citou o nome dele.
A cantora tinha feito vídeos no Instagram mais cedo comendo pão de queijo, e mudou a letra da música “Abcdefg” para exaltar o quitute mineiro quando chegou na letra P.
Outra referência brasileira vem de um dos dançarinos, brasileiro, que faz um “L” com a mão, gesto de apoio ao ex-presidente Lula, aplaudido pelo público. Em outros dois momentos do show os fãs fizeram coro de apoio a Lula.
Em “Yo x ti, tú x mí” ela fez o quadradinho do funk, emendou com um samba e deu a deixa para alguns fãs subirem no palco e pularem junto no novo hit “Despechá”.
O final tem o mesmo clima festivo do início, encerrado com o sample de bateria de samba em “CUUUUuuuuuute”. Não foi específico para o Brasil, já que ela costuma encerrar todos os shows da turnê assim. Mas fez os fãs daqui se esbaldarem ainda mais.