POLÍTICA

Disparos sobre plano fake para barrar Bolsonaro crescem e indicam nova investida contra TSE

Uma mensagem que cita um trio de pessoas em Brasília que deseja impugnar a chapa de Jair Bolsonaro (PL) e uma pesquisa “interna não falsa” dizendo que o ex-presidente Lula (PT) tem só 17% dos votos foi enviada mais de 92 mil vezes a grupos de WhatsApp em um período de 20 dias.

Ela inclui ainda a convocação para atos no 7 de Setembro, data usada por Bolsonaro e apoiadores no ano passado para atacar ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e ir às ruas pedir o que chamam de “voto auditável”, iniciativa que deve se repetir neste ano pelo presidente e por seus aliados.

O envio massivo dessa mensagem sobre uma possível impugnação da chapa indica que parte do bolsonarismo busca, por meio dos militares, afastar o discurso de fraude na urna eletrônica. Mas isso sem diminuir a desconfiança a membros do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), já que o Judiciário tem sido a principal barreira aos retrocessos empreendidos por Bolsonaro ao longo de seu mandato.

Há indicativo de envio coordenado. Ao todo, o texto foi enviado para 228 grupos e teve alcance estimado, apenas dentro do universo pesquisado, de 42,6 mil integrantes —com base na média de 187 usuários por grupo. Nos cinco grupos em que a mensagem mais foi compartilhada, ela apareceu cerca de 900 vezes.

Desde antes de ser eleito, Bolsonaro fomenta a desconfiança nas urnas em discursos recheados de mentiras. Ele já chegou a colocar a própria realização do pleito em dúvida.

Em entrevista ao Jornal Nacional na segunda (22), o presidente foi cobrado pelos apresentadores a assumir um compromisso de que respeitará o resultado das eleições. Bolsonaro, entretanto, colocou como condição que elas “sejam limpas” e na sequência citou o envolvimento dos militares como determinante. “E quem vai decidir essa questão de transparência ou não serão, em parte, as Forças Armadas, que foram convidadas a participar da comissão de transparência eleitoral.”

O Ministério da Defesa foi chamado pelo TSE para participar de uma comissão de transparência das eleições e tem questionado a corte em alinhamento ao discurso do presidente.

No fim de julho, a pasta designou dez militares das três Forças para participar da fiscalização das eleições. Recentemente pediram, com carimbo de “urgentíssimo”, para inspecionar o código-fonte da urna que estava disponível para análise desde outubro do ano passado.

Os militares insistem em mudanças no processo eleitoral e, nesta terça-feira (23), o ministro da Defesa teve uma reunião com o atual presidente do TSE, Alexandre de Moraes.

“BOMBA EM BRASÍLIA: O TRIO QUER IMPUGNAR A CHAPA DE BOLSONARO” é o início da mensagem disparada nos grupos. As três pessoas à frente de tal estratégia não são explicitadas nominalmente. De acordo com o texto, elas estariam sendo pressionadas por “Lula, Zé Dirceu e PCC”.

Também no Telegram e em grupos de Facebook a narrativa de que haveria um movimento para impedir Bolsonaro de concorrer foi compartilhada em diferentes variações desde o dia 4 de agosto.

Em parte delas o trio é nomeado: “O TRIO (FACHIN, BARROSO E XANDINHO DO PCC) QUER IMPUGNAR A CHAPA DE BOLSONARO”, conforme postagens em grupos públicos no Facebook.

Além de Moraes, que estará à frente da corte durante a eleição, seus antecessores, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, tornaram-se alvos preferenciais de Bolsonaro em seus discursos de cunho golpista contra as urnas eletrônicas e de questionamento da Justiça Eleitoral.

Em sua posse na corte, no dia 16, a que Bolsonaro esteve presente, o ministro deu fortes recados ao chefe do Executivo, assim como fez na sessão em que foi julgada a cassação da chapa Bolsonaro Mourão.

Nessas eleições, o PDT move dois processos para impugnar a chapa de Bolsonaro e Braga Netto, usando como motivação o evento com embaixadores em que o presidente atacou as urnas e uma live do presidente com pedido de votos a aliados. Já o PT não chegou a apresentar nenhuma ação com pedido de derrubada da chapa da campanha atual. Por outro lado, nesta semana, o partido recorreu ao TSE em ação sobre disparos em massa no WhatsApp na campanha de 2018.

Os advogados apontam que haveria contradições no julgamento feito pelo TSE e solicitam que o presidente fique inelegível. Embora o julgamento tenha sido concluído em 2021, os acórdãos, documentos que contêm o teor da decisão e os votos do plenário da corte, só foram publicados na semana passada.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *