CULTURA E EDUCAÇÃO

Saiba 20 curiosidades sobre ‘Cidade de Deus’, filme que completa duas décadas nesta terça-feira (30)

Lá se vão 20 anos desde que “Cidade de Deus” foi lançado nas salas de cinema, pontuando um período áureo da produção audiovisual brasileira. Com um elenco de desconhecidos, o filme de Fernando Meirelles encantou público e crítica, alcançou feitos inéditos – como as quatro indicações ao Oscar – e se colocou no hall dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Num espaço de tempo compreendido entre os anos 1960 e 80, o filme conta a história da Cidade de Deus, comunidade na Zona Oeste do Rio, bem como a ascensão do crime organizado no local, que se tornou um dos mais perigosos da cidade. Confira 20 curiosidades sobre o longa:

1. “Cidade de Deus” é o segundo filme de fora dos Estados Unidos mais visto do mundo, segundo levantamento da Preply com base nos dados do IMDB. O longa de Meirelles só fica atrás do francês “Intocáveis”, de Olivier Nakache e Éric Toledano, e aparece na frente de “O fabuloso destino de Amélie Poulain”, de Jean-Pierre Jeunet, também da França.

2. O longa aparece bem ranqueado em listas de veículos internacionais. Aparece como sexto melhor filme de ação de todos os tempos de um ranking feito em 2010 pelo jornal britânico The Guardian, além de figurar entre os 100 maiores filmes de todos os tempos classificados pela revista americana The Time. Também já foi eleito quarto melhor filme estrangeiro pela revista Paste, dos EUA. No Brasil, foi considerado oitavo melhor filme nacional de todos os tempos segundo a Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).

3. O elenco de “Cidade de Deus” foi composto por uma maioria de jovens vindos de comunidades do Rio de Janeiro que nunca haviam trabalhado como atores. Para chegar nos nomes escolhidos, a produção entrevistou mais de 2 mil candidatos. No fim, foram contratados 60 atores principais, 150 secundários e 2 600 figurantes.

4. Foi o diretor pernambucano Heitor Dhalia — de “Serra Pelada”, “O cheiro do ralo” e “Tungstênio” — quem presenteou Fernando Meirelles com o livro homônimo ao filme, de Paulo Lins, que serviu de inspiração para o projeto. Também foi Dhalia que conveceu Meirelles a adaptar a obra. No início, Meirelles recusou a ideia alegando que, por ser de São Paulo, não tinha muito conhecimento sobre o universo das favelas e do tráfico.

5. O diretor americano Alexander Payne, responsável por títulos como “Sideways” (2004) e “The descendants” (2011), aparece nos créditos do filme como colaborador do roteiro. Payne foi um dos consultores internacionais que leram o primeiro tratamento do roteiro de Bráulio Mantovani. Consta que ele gostou bastante do que viu, tendo acompanhado o desenvolvimento do texto até o fim, inclusive dando pitacos, que foram aceitos por Mantovani.

6. Buscapé existiu, mas era branco. No livro de Paulo Lins, ele era apenas um amigo do autor, sem importância central na história. No roteiro, entretanto, ele virou personagem principal, deixando de ser um mero observador e se tornando participante ativo da trama.

7. Foi na Fundição Progresso, na Lapa, que a produção do filme montou uma verdadeira escola de atores para trabalhar com o elenco do filme. A preparação dos atores não seguiu métodos teatrais tradicionais, dando muito espaço para a improvisação, o que acabou imprimindo uma elogiada naturalidade no resultado final.

8. Antes de filmar, a preparadora de elenco Fátima Toledo pediu para Renato de Souza, que interpretava Marreco, intimidar Douglas Silva, o Dadinho, por alguns dias, para criar a tensão entre os personagens. Contam que em uma das cenas, quando Dadinho leva um tapa de Marreco, Douglas chegou a chorar e ameaçou abandonar o filme.

9. Leandro Firmino, que interpreta Zé Pequeno, não tinha ambições de trabalhar no longa. Despretensiosamente, ele foi acompanhar um amigo nas audições e acabou fazendo o teste também. O resto é história.

10. A guerra entre os bandidos Mané Galinha e Zé Pequeno, travada na Cidade de Deus, de fato existiu e o filme é relativamente fiel aos personagens. Consta que Manoel Machado Rocha, o Mané Galinha (interpretado por Seu Jorge), era mesmo um bandido querido na comunidade. Chegou a servir ao Exército, onde foi o melhor atirador da sua unidade, e depois se especializou em roubos maiores, que lhe deram condição de comprar armamento mais pesado para o seu bando. Ele rivalizava com José Eduardo Barreto Conceição, o Zé Pequeno (Leandro Firmino), temido na Cidade de Deus.

11. A mãe do Manoel Machado Rocha, o Mané Galinha da vida real, participa do filme. Ela é a primeira pessoa que se aproxima do personagem vivido por Seu Jorge para parabenizá-lo quando ele mata alguém pela primeira vez.

12. A equipe precisou de nove semanas para rodar “Cidade de Deus” entre junho e agosto de 2001. O filme custou R$ 8,2 milhões e faturou mais de US$ 30,5 milhões, tendo levado mais de 3,3 milhões de espectadores aos cinemas brasileiros.

13. “Cidade de Deus” performou muito bem no circuito de festivais de cinema mundo afora. Venceu a categoria “melhor filme” em alguns deles, como os de Havana, Toronto, Guadalajara, Cartagena e Santo Domingo. No Oscar, o mais cobiçado, foi indicado em quatro categorias em um feito inédito no cinema brasileiro: melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia. Também concorreu ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro e no BAFTA e, neste último, venceu na categoria melhor edição.

14. Fernando Meirelles não era um diretor com vasta experiência em longas-metragens antes de “Cidade de Deus”. Ele só havia dirigido dois filmes: “Menino Maluquinho 2” (1998) e “Domésticas” (2001). Na televisão, Meirelles dirigiu o icônico programa infantil “Rá-Tim-Bum” (1989), da TV Cultura.

16. Segundo reportagens da época, parte dos jurados do Oscar, tidos como mais conservadores, deixaram a sala de exibição de “Cidade de Deus” antes do filme acabar, horrorizados com as cenas de violência. Uma cena específica, difícil de assistir, marcou a crítica especializada na época: quando o personagem Filé é obrigado por Zé Pequeno a matar uma criança da Caixa Baixa. Depois, Zé atira no pé de outra criança, em um momento bastante lembrando pelos espectadores tamanho foi o realismo passado pelos atores.

Buscapé (Alexandre Rodrigues) e Angélica (Alice Braga) — Foto: Reprodução

Buscapé (Alexandre Rodrigues) e Angélica (Alice Braga) — Foto: Reprodução

17. “Cidade de Deus” pontuou o fim do período que ficou conhecido como a “retomada do cinema brasileiro”, um período fértil que começou com “Carlota Joaquina, Princeza do Brasil” (1995) após a criação da Lei do Audiovisual, que fortalecia o setor, e entrou em vigor no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso. “Central do Brasil” (1998), “O Quatrilho” (1995) e “O que é isso, companheiro?” (1996) fazem parte do mesmo período.

18. Em 2008, a graphic novel “Coringa”, da DC Comics, reproduziu em um dos quadrinhos uma cena clássica do personagem Dadinho. Em 2006, o anime japonês Tekkonkinkreet também buscou referências no filme de Fernando Meirelles.

20. Em 2012, o diretor Cavi Borges lançou o documentário “Cidade de Deus – 10 anos depois”, que mostrava a realidade dos atores do longa uma década após o lançamento do filme.

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