Ato de Lula em Curitiba tem esquema especial de segurança
Quase três anos após deixar a cela da Superintendência da Polícia Federal, onde passou 580 dias preso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) volta neste sábado a Curitiba para um comício da sua campanha presidencial em meio a um clima de preocupação dos organizadores do evento.
Apesar de o apoio ostensivo à Lava-Jato não ser mais tão visível nas ruas da capital paranaense, o histórico de hostilidades ao PT faz que o ato seja marcado pelo excesso de cuidados por parte dos simpatizantes do partido. Na época em que a Polícia Federal rotineiramente acordava acusados de corrupção com operações, adesivos com a frase “Eu apoio a Lava-Jato” eram comuns nos carros da “República de Curitiba”, alcunha legada pela força-tarefa à cidade. Hoje, não são mais vistos.
Uma das lideranças do movimento Curitiba Contra Corrupção, a historiadora Narli Resende admite que o entusiasmo com a operação diminuiu. Ela diz que “as decisões das altas Cortes provocaram um sentimento de que os poderosos sempre conseguem o que querem”. Figura carimbada em manifestações de apoio à Lava-Jato durante depoimentos de investigados importantes, a historiadora resolveu se manifestar exclusivamente pela internet durante a passagem de Lula por Curitiba para, segundo suas palavras, “evitar o aumento da polarização”.
As preocupações com o ato fizeram com que a direção estadual do PT se reunisse com a Secretaria de Segurança Pública para pressionar a Polícia Militar a dar atenção especial ao comício. O pedido era que a corporação se comprometesse a evitar a aproximação de bolsonaristas que quisessem provocar os apoiadores de Lula.
Além disso, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) mobilizou 130 ônibus que saíram de diversas regiões do estado rumo à capital. A presença de integrantes da organização, afirmaram petistas locais, também é uma forma de assegurar a segurança de Lula.
O local escolhido para o comício, a Boca Maldita, no centro de Curitiba, também gerou preocupações. A área é cercada por prédios, alguns deles a pouco metros de distância de onde o petista vai discursar.
Lula volta ao Paraná em um momento em que os dois principais integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) e o ex-procurador Deltan Dellagnol (Podemos), pretendem testar nas urnas a popularidade colhida nos tempos da operação. O primeiro, depois de não conseguir se viabilizar como candidato a presidente, quer ser senador, mas aparece nas pesquisas atrás de Álvaro Dias (Podemos), que busca a reeleição. O segundo disputa uma vaga na Câmara dos Deputados.
— O candidato do PT já foi investigado e condenado por dez juízes em três instâncias pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Esse é exatamente o perfil que queremos afastar da política para mudar o Brasil — afirma Deltan.
Diferentemente de Narli Resende, o ex-procurador não acredita, no entanto, que o apoio à Lava-Jato tenha se reduzido no estado:
— O Paraná, onde nasceu a Lava-Jato, sempre apoiou massivamente a operação, e eu tenho observado e sentido este apoio nas ruas ao rodar (em campanha) todo o estado.