OMS confirma mudança de nome da varíola dos macacos para Mpox; entenda por quê
A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou nesta segunda-feira a mudança do nome monkeypox (varíola dos macacos, em inglês) para Mpox. A decisão foi tomada após uma série de deliberações com especialistas globais, afirma a organização. Ela destaca ainda que ambos os nomes poderão ser utilizados durante um período de um ano para que as pessoas se acostumem com a nova nomenclatura. A OMS explica ainda que o termo Mpox pode ser usado em todas as línguas.
“Quando o surto de varíola símia se expandiu no início deste ano, linguagem racista e estigmatizante online, em outros ambientes e em algumas comunidades foi observada e relatada à OMS. Em várias reuniões, públicas e privadas, vários indivíduos e países levantaram preocupações e pediram à OMS que propusesse uma maneira de mudar o nome”, afirma a organização, em comunicado.
Para chegar ao novo nome, a organização ouviu diversos órgãos consultivos, com especialistas que representaram autoridades de 45 países diferentes. “As considerações para as recomendações incluíram justificativa, adequação científica, extensão do uso atual, pronúncia, usabilidade em diferentes idiomas, ausência de referências geográficas ou zoológicas e facilidade de recuperação de informações científicas históricas”, diz a entidade.
O GLOBO antecipou a alteração na última semana, quando o diretor do Centro Colaborador da OMS sobre Legislação Sanitária Global, Lawrence Gostin, afirmou por meio de sua conta no Twitter que a varíola dos macacos passaria a se chamar Mpox.
A organização esclarece que a atribuição do novo nome é formalizada pela Classificação Internacional de Doenças (CID). Com isso, a nova nomenclatura será incluída no CID-10 online, versão atual do documento que é o padrão global para dados de saúde, documentação clínica e agregação estatística, já nos próximos dias. O processo de troca será concluído no lançamento da edição do CID-11, em 2023, quando estará substituindo o termo monkeypox.
Por que mudar o nome?
Ainda em junho, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou que a entidade estava trabalhando com parceiros e especialistas para uma nova nomenclatura ‘não discriminatória’ em relação à varíola dos macacos e às variantes do vírus causador da doença.
Em agosto, quando lançou a consulta pública para o novo termo, uma porta-voz da OMS explicou que “é muito importante que encontremos um novo nome para a varíola dos macacos, porque esta é a melhor prática para não criar nenhuma ofensa a um grupo étnico, uma região, um país, um animal”.
As críticas ao nome começaram devido à menção ao macaco. Assim como a gripe espanhola não surgiu na Espanha, a varíola dos macacos não tem os animais como hospedeiros da doença. Porém em 1958, quando o vírus foi isolado pela primeira vez, cientistas dinamarqueses utilizaram um macaco cinomolgo (Macaca fascicularis), espécie natural da Ásia, para conseguir o feito – o que acabou criando o nome “monkeypox”. No entanto, os principais animais que carregam o vírus são roedores.
A ligação incorreta chegou a ser encarada como a causa de envenenamentos e ferimentos a macacos de uma reserva natural em Rio Preto, no Estado de São Paulo, em agosto, logo após casos da varíola terem sido diagnosticados na região. Na época, a OMS lamentou o ocorrido e reforçou que o surto atual é causado pela transmissão entre humanos.
Além do problema com o nome do animal, em junho, cerca de 30 especialistas ao redor do mundo fizeram uma publicação no virological.org – site em que virologistas compartilham informações sobre vírus em tempo real – pedindo a alteração no nome da doença e das variantes do vírus devido ao estigma criado em relação à África.
Chamada de “Necessidade urgente de uma nomenclatura não discriminatória e não estigmatizante para o vírus monkeypox”, o documento afirma que o patógeno, que se tornou uma emergência de saúde internacional, tem características diferentes daquelas observadas na versão do vírus que era endêmica em 11 países africanos. Além disso, afirmam que o termo reforça uma associação da doença ao continente africano, restrição que não é mais realidade.
“Acreditamos que um nome distinto e conveniente para o vírus causador dessa epidemia facilitaria a comunicação sem maiores conotações negativas”, escreveram à época. Eles pediam ainda, de forma mais urgente, a retirada das regiões africanas nos nomes das variantes do vírus. O pedido foi atendido em agosto, quando o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV), da OMS, oficializou as alterações.
Antes chamadas de Clado do Congo – variante predominante na África Central – e Clado da África Ocidental, agora as linhagens são Clado I e Clado II, respectivamente. O Clado II é dividido ainda em duas sublinhagens, o Clado IIa e o Clado IIb.
O movimento é semelhante ao realizado no ano passado, quando a OMS passou a adotar letras gregas para as cepas da Covid-19, no lugar da referência ao país em que ela foi identificada. Na época, a epidemiologista-chefe da OMS e líder da resposta ao novo coronavírus, Maria Van Kerkhove, destacou que “nenhum país deve ser estigmatizado por detectar e relatar novas variantes”. Foi, por exemplo, quando a antiga “variante indiana” passou a ser chamada de variante Delta.