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Lula inicia mandato com mais apoio na Câmara do que Bolsonaro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai iniciar seu terceiro mandato com uma base maior na Câmara dos Deputados do que a de Jair Bolsonaro (PL), mas com o menor apoio dos últimos três governos petistas. Apesar do potencial apoio inicial entre congressistas ser maior do que sua primeira passagem pelo Palácio do Planalto, em 2003, o arco de sustentação é menor do que o de seu segundo mandato e dos inícios das gestões de Dilma Rousseff em 2011 e 2015.

Os dados foram compilados pelo GLOBO com base no número de deputados integrantes das coligações partidárias que elegeram os presidentes desde 2003, somados aos partidos que assumiram ministérios indicando apoio na Câmara em troca. No caso do novo governo Lula, ele conta ainda com promessas de sustentação de partidos que não foram contemplados no primeiro escalão da Esplanada, como Avante, PV e Solidariedade.

Com 282 deputados em partidos que integram e apoiam o governo, Lula terá de largada uma base cinco vezes maior que a de Bolsonaro em 2019. O ex-presidente iniciou seu mandato pelo PSL e contava apenas com o apoio inicial dos 52 deputados de seu próprio partido. Apesar de políticos do DEM e do Novo entrarem em ministérios de Bolsonaro, as indicações foram individuais, e não dos próprios partidos para composição de governo.

O discurso de Bolsonaro era de que ele representaria a “nova política”, sem governar usando a negociação de cargos como barganha política. A postura, porém, não durou muito tempo e já no segundo ano de governo ele havia entregado cargos importantes na administração pública a um bloco de partidos formados principalmente pelo PL, PP e Republicanos — que passaram a formar o núcleo duro do Centrão em seu mandato.

Para formar a base mais ampla possível no Congresso, Lula negociou fatias de seu governo com partidos que não o apoiaram nas eleições, mas que possuem forte influência no Legislativo, como o MDB, PSD e União Brasil. Juntos, eles somam uma bancada de 143 deputados.

De olho nos votos dos parlamentares em matérias de interesse do governo, o petista entregou pastas ministeriais para indicados dessas legendas, mirando garantir a governabilidade de sua gestão.

Porém, esse eventual apoio é apenas virtual e vai depender da fidelidade dos congressistas às orientações de seus partidos. O União Brasil, por exemplo, resultado da fusão do DEM e do PSL (partido que elegeu Bolsonaro em 2018), é formado em sua maior parte por deputados à direita no espectro ideológico.

Já o MDB e o PSD são legendas com forte fragmentação e cujos parlamentares muitas vezes atendem mais a interesses de lideranças políticas dos estados do que do comando nacional. Por outro lado, Lula vem buscando atrair o apoio de integrantes de partidos independentes, como Republicanos, PP e Cidadania.

Apesar de seus esforços até o momento, ele inicia o novo governo com uma sustentação maior apenas que a de seu primeiro mandato, em 2003 (214 deputados), quando comparado aos outros governos do PT.

Cientista política do Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP), Carolina Botelho destaca que a base de largada de Lula parte de um bom patamar, mas ainda não chega aos 308 deputados necessários para aprovar uma PEC, por exemplo. Dessa forma, o petista terá que fazer um esforço maior de costura política para garantir sua governabilidade.

— Lula é especialista e tem feito a troca de cargos para ampliar sua base de apoio. É a retomada da negociação política baseada num sistema de presidencialismo de coalizão, como acontece no Brasil desde 1985 e no mundo todo. Mas ele terá uma tarefa difícil, porque as forças de oposição são muito mais beligerantes do que a gente viu no passado — analisa Botelho.

Após deixar a presidência em 2010, Lula conseguiu eleger sua sucessora, Dilma Rousseff, com o recorde de base governista deste período, formada por 351 parlamentares. Já em 2015, após uma disputa apertada contra o PSDB de Aécio Neves e o encolhimento da bancada do PT na Câmara, Dilma iniciou o segundo mandato com o apoio de 305 deputados — sustentação que seria desfeita com as crises políticas de seu governo, levando ao impeachment em 2016.

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