SAÚDE

Meningite: surto da doença no México sem causa identificada deixa 35 mortos

Neste domingo, a secretaria de Saúde do estado de Durango, no México, registrou mais uma morte pelo surto de meningite que a região enfrenta desde o fim do ano passado – levando o total a 35 óbitos e 79 pessoas diagnosticadas com a doença. Embora se saiba que os casos estão ligados a procedimentos de anestesia peridural em quatro clínicas particulares, investigações ainda buscam identificar o agente exato da infecção, e como ela aconteceu.

A meningite é um quadro de inflamação das meninges, camadas que revestem e protegem o sistema nervoso central (SNC), formado pelo cérebro e pela medula espinhal. Trata-se de uma doença grave, especialmente quando as causas são bacterianas mais comuns – para as quais há vacinas que impedem a ocorrência.

Porém, apesar do alto número de mortes (quase metade dos casos), a meningite que provoca o surto no estado mexicano é chamada de asséptica, quando as causas não são as bactérias mais conhecidas e, por isso, não são imunopreveníveis. Com isso, podem ser motivadas por um fungo, um vírus, uma reação alérgica, entre outros fatores.

As quatro clínicas particulares da capital do estado já foram fechadas, e os donos estão foragidos da Justiça. Uma delas, inclusive, atuava sem alvará. Um profissional de saúde que trabalhava em três dos locais falou ao El País sob condição de anonimato.

— Eram lugares sombrios. Uma era mais ou menos boa, mas a menor era praticamente uma casa adaptada para atender doentes. Nunca ficou claro quem era o dono, acho que nem os próprios funcionários sabiam — disse.

Segundo um comunicado da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), o Instituto de Diagnóstico Epidemiológico e Referência do México identificou a presença do fungo Fusarium solani, um dos conhecidos por causar meningite, em amostras de líquido cefalorraquidiano de dois casos analisados.

Inicialmente, suspeitou-se de que os lotes de bupivacaína, um anestésico local usado em cesáreas e outras operações curtas, estivessem contaminados – o que explicaria porque a grande maioria dos afetados são mulheres jovens, 34 das 35 mortes.

No entanto, a farmacêutica que produz o medicamento, a Pisa, faz a distribuição para todo o México, além de parte do continente, e só foram registrados casos da meningite em Durango.

Em dezembro, a Comissão Federal de Proteção contra Riscos Sanitários (Cofepris) realizou uma análise dos lotes do medicamento em busca do fungo, mas não encontrou nenhum traço de contaminação. No entanto, identificou a presença de fungos e bactérias nas dependências das quatro clínicas.

A investigação ainda não chegou a nenhuma conclusão, e os especialistas consideram algumas hipóteses: desde a reutilização de seringas até a má conservação e gestão de medicamentos nos quatro hospitais privados. Mas sabe-se que a doença não é contagiosa, devido à ligação com as cirurgias, e correm risco apenas os pacientes que foram atendidos desde maio nas quatro clínicas particulares.

As autoridades estão tentando concluir um estudo para identificar e notificar as mais de 1,8 mil pessoas que podem ter sido expostas, já que, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a taxa de mortalidade por meningite pode diminuir 50 % a 10% se o tratamento for administrado antes do aparecimento dos primeiros sintomas.

A secretaria de Saúde garante que já têm cerca de 70% de progresso, e que para os pacientes que sobreviverem o tratamento continuará por pelo menos mais seis meses. Enquanto isso, a investigação na Justiça segue paralisada e os infectados, aos poucos, continuam morrendo.

O desespero se espalha entre os familiares e os pacientes ainda internados, que temem que tenha começado uma contagem regressiva no dia em que foram infectados com a doença. Muitos dos que faleceram mantiveram uma situação estável por meses, outros até conseguiram evoluir positivamente antes de morrer, o que causa medo mesmo naqueles em que o tratamento parece funcionar.

Os familiares convocaram uma manifestação — mais uma — para a próxima sexta-feira para exigir justiça, com o lema: “Por quem já não está, por quem continua lutando e por nós que corremos risco”. Já os familiares das vítimas denunciam que as investigações não estão levando a lugar nenhum e temem que a impunidade acabe prevalecendo. Sete supostos culpados fugiram e estão com mandados de busca e prisão desde o início de dezembro.

Marta Esmeralda León, de 33 anos, professora e mãe de dois filhos, de 8 e 13 anos, morreu às 23h deste domingo, horário local, após mais de três meses internada. Ela sofreu dois microinfartos cerebrais nos dias 5 e 6 de janeiro que a levaram aos cuidados intensivos. Entrevistada pelo El País no início de dezembro, a professora havia protestado contra sua situação.

— É um processo doloroso e desesperador estar aqui. Sem estar em casa com meus filhos, trabalhando, levando uma vida normal… É injusto. A dor é incrível, não sei te explicar em que magnitude, não me deixa nem levantar. Tudo é difícil: ficar tanto tempo na cama do hospital, ficar separada dos filhos… — disse na época.

— Todos queremos que os responsáveis ​​sejam punidos, mas acho muito difícil — complementou o pai dela, Diego León, que permaneceu no hospital onde a filha estava internada durante todo o processo.

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