Terremoto na Turquia e Síria: frio agrava buscas pela terceira noite, e número de mortos não para de crescer
A esperança de encontrar mais sobreviventes é cada vez menor nas zonas afetadas pelo terremoto de segunda-feira, um dos mais potentes em décadas na região, que provocou mais de 20 mil mortes, sendo 17.134 na Turquia e 3.162 na Síria. As temperaturas abaixo de zero agravam a situação dos sobreviventes e dificultam o trabalho desesperado das equipes de emergência.
Mais de 72 horas após o terremoto, o período com mais possibilidades de encontrar sobreviventes, as autoridades temem um aumento dramático do número de vítimas devido ao elevado número de pessoas que, calculam, continuam presas nos escombros.
Após o choque inicial, o descontentamento é cada vez maior entre a população com a resposta das autoridades ao terremoto que, segundo admitiu o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, teve “deficiências”.
Vários sobreviventes foram obrigados a procurar alimentos e refúgio por conta própria. Sem equipes de resgate em vários pontos, alguns observaram impotentes os pedidos de ajuda dos parentes bloqueados nos escombros até que suas vozes não fossem mais ouvidas.
— Meu sobrinho, minha cunhada e a irmã da minha cunhada estão nos escombros. Estão presos nas ruínas e não há sinais de vida — afirmou Semire Coban, professora de uma creche na cidade turca de Hatay. — Não conseguimos chegar até eles. Tentamos falar com eles, mas não respondem.
‘Deficiências’
Erdogan visitou na quarta-feira duas áreas muito afetadas pelo tremor, a cidade de Kahramanmaras (epicentro do terremoto) e a região de Hatay, na fronteira com a Síria.
— Claro, há deficiências. É impossível estar preparado para um desastre como este.
No dia da visita, o Twitter ficou inacessível na Turquia por quase 12 horas, de acordo com correspondentes da AFP e a organização NetBlocks, que monitora a liberdade de acesso à internet. A polícia anunciou a detenção de 18 pessoas por publicações consideradas “provocações” nas redes sociais, quase todas críticas à resposta do governo.
O frio agrava a situação. Apesar da temperatura de -5ºC, milhares de famílias em Gaziantep passaram a noite em carros ou barracas, impossibilitadas de retornar para suas casas ou com medo de voltar para os imóveis. Os pais caminhavam pelas ruas da cidade do sudeste da Turquia com os filhos no colo, enrolados em cobertores, para tentar reduzir os efeitos do frio.
— Quando sentamos, dói. Tenho medo pelas pessoas presas nos escombros — disse Melek Halici, com a filha de dois anos coberta por uma manta.
A União Europeia prepara uma conferência de doadores em março para mobilizar ajuda internacional para os dois países atingidos:
— Estamos correndo contra o tempo para, juntos, salvar vidas — disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. — Ninguém deve ficar sozinho quando uma tragédia como essa atinge uma população.