Covid-19: impacto nas crianças e jovens pode resultar numa geração perdida, afirma estudo do Banco Mundial
A pandemia de Covid-19 prejudicou o desenvolvimento de milhões de crianças e jovens em países de renda baixa e média – incluindo o Brasil -, segundo dados globais do Banco Mundial. O novo relatório constatou que o déficit cognitivo nas crianças pequenas de hoje pode se traduzir em uma queda de 25% nos rendimentos em suas vidas adultas. Além disso, os estudantes de hoje podem perder até 10% de seus ganhos futuros devido aos choques na educação provocados pela pandemia.
A pandemia fechou escolas e locais de trabalho e interrompeu outros serviços essenciais que protegem e promovem o capital humano – o conhecimento, as competências e a saúde que as pessoas acumulam ao longo de suas vidas –, como a assistência médica materna e infantil, além da capacitação profissional.
Intitulado Collapse and Recovery: How Covid-19 Eroded Human Capital and What to Do About It (Colapso e Recuperação: como a pandemia de Covid-19 deteriorou o capital humano e o que fazer a respeito), o documento analisou os impactos da pandemia nas crianças e nos jovens, nos principais estágios do desenvolvimento: primeira infância (0 a 5 anos), idade escolar (6 a 14 anos) e juventude (15 a 24 anos).
Os resultados mostraram que crianças em idade pré-escolar perderam mais de 34% da aprendizagem de linguagem e alfabetização e mais de 29% da aprendizagem em matemática, em comparação aos índices pré-pandemia. Em muitos países, mesmo após a reabertura das escolas, as matrículas na pré-escola não haviam se recuperado até o final de 2021; tendo caído mais de 10 pontos percentuais. As crianças também enfrentaram maior insegurança alimentar durante a pandemia.
Para crianças em idade escolar, o estudo constatou que, entre março de 2020 e março de 2022, uma criança havia perdido um ano de escolaridade presencial devido ao fechamento da escola. Na América Latina, as crianças perderam 1,7 ano por causa de fechamentos escolares particularmente longos.
No Brasil, entre 1º de abril de 2020 e 31 de março de 2022, as escolas ficaram totalmente fechadas por 44% do tempo e foram parcial ou totalmente fechadas por 90% do tempo no mesmo período. Além disso, as crianças mais novas sofreram interrupções de serviço relacionadas à Covid-19 enquanto ainda estavam no útero, enquanto suas mães se preparavam para o nascimento.
As matrículas na pré-escola diminuíram e mantiveram-se em baixa em mais de 13 pontos percentuais no final de 2021 no Brasil, face ao que teria sido previsto na ausência da pandemia. Além disso, os declínios nas matrículas escolares foram maiores entre crianças em famílias de menor nível socioeconômico.
“Fechamento de escolas, lockdowns e interrupções nos serviços durante a pandemia ameaçaram acabar com décadas de progresso na construção de capital humano de várias gerações”, disse o presidente do Grupo Banco Mundial, David Malpass, em comunicado.
“Os países precisam traçar um novo rumo para maiores investimentos em capital humano para ajudar os cidadãos a se tornarem mais resilientes às ameaças de choques na saúde, conflitos, crescimento lento e mudanças climáticas e também estabelecer uma base sólida para um crescimento mais rápido e inclusivo”, complementa.
Entre as crianças em idade escolar, em média, para cada 30 dias de fechamento das escolas, os alunos perderam 32 dias de aprendizagem. Em países de renda baixa e média, quase um bilhão de crianças perdeu pelo menos um ano inteiro de ensino presencial devido ao fechamento de escolas e mais de 700 milhões perderam um ano e meio. Como resultado, a pobreza de aprendizagem – que havia atingido 57% antes da pandemia – aumentou ainda mais nesses países, e cerca de 70% das crianças de 10 anos são incapazes de entender um texto básico.
Impacto nos jovens
A Covid-19 desferiu um duro golpe no emprego jovem. Quarenta milhões de pessoas que teriam emprego não fosse a pandemia, estavam desempregadas no final de 2021, o que piorou as tendências de desemprego no segmento. Os rendimentos dos jovens diminuíram em 15% em 2020 e em 12% em 2021.
No Brasil e no México, a queda no emprego jovem foi mais acentuada no início da pandemia, com uma redução de 6% e 7%, respectivamente. No Brasil, o número de jovens que não estavam empregados nem matriculados em escolas ou em cursos de capacitação aumentou substancialmente e chegou a 22% no último trimestre de 2021.
Estar desempregado ou ter um emprego mal remunerado quando se entra no mercado de trabalho pode deixar marcas. Estima-se que o impacto pode perdurar por até 10 anos. No final de 2021, o emprego jovem recuperou os níveis anteriores à pandemia, mas a tendência de médio e longo prazo deste indicador continua a ser relativamente baixa.
Os recém-ingressados no mercado de trabalho com escolaridade mais baixa terão rendimentos 13% menores durante sua primeira década. Evidências do Brasil, Etiópia, México, Paquistão, África do Sul e Vietnã mostraram que 25% de todos os jovens não estavam estudando, trabalhando nem fazendo cursos de capacitação em 2021.
A janela para lidar com reveses na acumulação de capital humano é pequena, pois as lacunas nos estágios iniciais do ciclo de vida tendem a se ampliar com o tempo. Sem uma ação urgente, a pandemia também ameaça aprofundar a pobreza e a desigualdade.
Para mudar esse cenário. co curto prazo, os países devem apoiar campanhas de vacinação e suplementação nutricional das crianças pequenas; aumentar o acesso à pré-escola e expandir a cobertura das transferências de renda para famílias vulneráveis. Para crianças em idade escolar, os governos precisam manter as escolas abertas e aumentar o tempo de instrução; avaliar a aprendizagem e adequar o ensino ao nível de aprendizagem dos alunos; além de simplificar o currículo para se concentrar na aprendizagem básica.