Conheça a história da Bíblia hebraica mais antiga do mundo, que vai a leilão em maio
A mais antiga e completa Bíblia hebraica do mundo, com mais de mil anos, vai a leilão em maio, anunciou a Sotheby’s nesta quarta-feira. A expectativa é que o manuscrito alcance US$ 50 milhões, o que o tornaria o livro ou documento histórico mais caro já vendido.
O manuscrito Sassoon, que recebeu o sobrenome de seu proprietário mais conhecido, David Solomon Sassoon (falecido em 1942), data de 900 dC. Segundo Richard Austin, diretor de livros e manuscritos antigos da Sotheby’s, ela é “a mais completa bíblia hebraica (…), avaliada entre US$ 30 e US$ 50 milhões, um dos manuscritos mais caros já vendidos”.
O leilão está marcado para maio, durante a clássica temporada de ofertas de pinturas contemporâneas, modernas e impressionistas organizadas por gigantes do setor em Nova York. Quanto aos possíveis compradores, Austin considera que a lista é “um poço sem fundo”. É um texto “fundador da civilização. Difícil encontrar um texto que tenha tido mais influência que a Bíblia na história da humanidade”.
As origens do manuscrito remontam a cerca de 1.100 anos atrás, quando um escriba na atual Israel ou Síria copiou o texto completo da bíblia hebraica em cerca de 400 grandes folhas de pergaminho. O texto está escrito em letras quadradas, semelhantes às que podem ser encontradas nos rolos da Torá em qualquer sinagoga hoje.
Após mudar de mãos algumas vezes, o manuscrito acabou em uma sinagoga no nordeste da Síria. O prédio, no entanto, foi destruído por volta do século 13 ou 14 e o texto ficou desaparecido por quase 600 anos. A cópia da Bíbilia reapareceu em 1929, e desde então está em coleções particulares.
O Codex Sassoon, segundo a Sotheby’s contém todos os 24 livros da Bíblia Hebraica — estão faltando cerca de cinco folhas, incluindo os 10 primeiros capítulos do Gênesis.
O livro mede cerca de 30 x 35 centímetros e pesa cerca de 11 quilos. Tem uma encadernação nada atraente de couro marrom do início do século XX e traz gravado na lombada o número 1053 — seu número de catálogo na coleção de David Solomon Sassoon, o colecionador e estudioso britânico que o comprou em 1929. O atual proprietário é o financista e colecionador suíço Jacqui Safra.
O Codex Sassoon conta várias histórias – não apenas aquelas contadas em suas páginas, mas também a história da própria Bíblia hebraica e como seu texto foi corrigido e transmitido na forma que conhecemos hoje.
Os manuscritos hebraicos mais antigos conhecidos são os Manuscritos do Mar Morto, que datam do terceiro século a.C. até o primeiro século d.C. A partir daí vem um período descrito pelos estudiosos como de quase 700 anos de silêncio, com apenas alguns fragmentos de texto sobreviventes.
Durante esse período, a Bíblia hebraica teria sido preservada e transmitida oralmente. Embora os cristãos tenham começado a usar o códice (a forma do livro que conhecemos hoje) já no segundo século, os códices completos da Bíblia hebraica não aparecem até o século IX.
“Você tem sete séculos de nada”, diz Sharon Liberman Mintz, consultora de história judaica da Sotheby´s. “E então você tem todo esse texto oficial, padronizado e preciso da Bíblia hebraica”. Idêntico, disse ela, ao lido e estudado em todo o mundo hoje.
O texto preservado nessas Bíblias é conhecido como texto massorético, em homenagem aos massoretas, escribas estudiosos que viveram na Palestina e na Babilônia entre os séculos VI e IX e desenvolveram sistemas de anotação para garantir que o texto fosse lido e transmitido corretamente.
As Bíblias massoréticas apresentam um sistema de pontos vocálicos sob as letras, conhecido como nikud, para indicar como as palavras hebraicas (que são escritas sem vogais) devem ser pronunciadas e compreendidas. Outro sistema de acentos, os te’amim, funcionam como notas musicais e também indicam como analisar uma frase.
De acordo com a lei rabínica, os rolos da Torá devem ser escritos sem tais marcas para serem adequados para uso ritual na sinagoga. Esse tipo de códice, com seu formato mais amigável, disse Mintz, “foi feito para estudo”.