Lidar com o estresse é uma parte inevitável do cotidiano. Seja em relacionamentos amorosos, na vida profissional, no dia a dia com familiares ou apenas pela correria da rotina, é comum nos depararmos com situações adversas que desencadeiam alterações emocionais e físicas, como liberação de hormônios e aumento da frequência cardíaca.
“Qualquer coisa que vale a pena fazer terá aspectos de estresse entrelaçados: desafio, desconforto, risco. Não podemos mudar isso. Mas o que podemos mudar é nossa resposta a eles”, afirma a psicóloga e diretora do Centro de Envelhecimento, Metabolismo e Emoções da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, Elissa Epel, em comunicado.
A especialista explica que nem sempre esse estresse é ruim, muitas vezes sendo necessário para a própria sobrevivência do ser humano em situações de vida ou morte. Porém, destaca que quando ele está presente em excesso, e o indivíduo não sabe lidar com ele, há riscos para a saúde, como maior probabilidade de doenças cardiovasculares devido à liberação constante do cortisol, hormônio conhecido como “do estresse”.
Por isso, ela lançou recentemente seu novo livro “A prescrição do estresse” (sem edição brasileira) em que orienta sete medidas práticas que as pessoas podem adotar no dia a dia para melhor a maneira de lidar com as situações adversas. Confira abaixo:
Na grande maioria das vezes, nossos planos não acontecem exatamente como imaginávamos. Elissa diz que isso é parte natural da vida, e por isso é importante aprender a tolerar a incerteza e diminuir a rigidez das expectativas sobre o futuro.
“Fortes expectativas podem nos prejudicar, sejam elas positivas (algo que esperamos) ou negativas (algo que tememos). Melhor afrouxar nossas expectativas o máximo que pudermos”, diz.
Ela cita que algumas pessoas podem acreditar que antecipar uma situação negativa vai deixá-la mais preparada. Porém, na realidade, apenas dá início à liberação prejudicial de cortisol mais cedo e prejudica a resposta às situações futuras.
A psicóloga diz ainda que uma das formas de praticar essa postura mais focada no presente é a meditação de atenção plena.
Não se preocupe com o que você não pode controlar
Em algumas situações, o estresse é gerado por acontecimentos sobre os quais não temos qualquer influência. Um acidente, o resultado de uma eleição, decisões alheias, o que os outros pensam de você, são eventos que temos pouco controle sobre, diz a especialista, o que torna a preocupação desnecessária.
Ela sugere que o foco seja em aceitar o que não pode ser mudado e trabalhar sobre o que de fato você consegue alterar.
Aproveite a resposta ao estresse do corpo para enfrentar os desafios
O estresse é uma resposta natural ao organismo, uma espécie de estado de alerta para algo que nosso corpo entende como uma ameaça. Mas ela defende que esse mecanismo físico pode ser treinado para depender da nossa atitude frente às adversidades da vida: em vez de ser algo que nos tire do eixo, ser uma fonte de energia.
“Quando nos concentramos nos benefícios do estresse, sentimos menos estresse sobre o estresse, prestamos atenção a sinais positivos em vez de sinais ameaçadores e abordamos as situações com mais confiança em vez de evitá-las”, afirma.
Ela defende que esse tipo de reformulação pode ser útil para entender que falhas e estresse são parte importante do caminho para alcançar objetivos. Com isso, esse caminho pode ser levado menos a sério, o que ao mesmo tempo diminui as chances de desistências.
Treine suas células para metabolizar melhor o estresse
Elissa lembra que os picos de estresse gerados pela atividade física ajudam a construir resiliência no nível celular e melhorar o preparo para estressores futuros e inesperados.
Embora todos os exercícios sejam positivos para isso, ela aconselha como melhor o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT). O HIIT envolve períodos curtos de atividades intensas, intercalados com momentos de recuperação.
Outras atividades que ajudam a despertar esse mecanismo fisiológico além dos exercícios são banhos frios, diz a especialista.
Use a natureza para recalibrar
Uma série de estudos mostram que estar em contato com a natureza reduz o estresse e aumenta o bem-estar. A psicóloga afirma que se trata de “uma das formas mais poderosas e imediatas de reduzir o estresse”.
Ela explica que isso acontece por algo chamado de “restauração da atenção”. Seria como recalibrar depois da sobrecarga de estímulos e informações que fazem parte da vida cotidiana.
Experimente um descanso profundo
Tempos de relaxamento profundo, segundo a psicóloga, são intervalos de “inatividade protegida, sem tecnologia e focado no descanso para nós mesmos”. Ela explica que é diferente, por exemplo, de passar uma tarde assistindo à televisão ou mexendo no celular.
O descanso profundo seria algo como uma meditação, em que o foco é “apenas ser” e deixar todo o resto de lado por um momento. Para isso, ela sugere exercícios específicos de respiração profunda, que têm sido associados em estudos a uma série de benefícios para a fisiologia.
Encontre momentos de alegria em sua vida
É sempre importante lembrar de incluir espaço na rotina para atividades que nos deixem felizes, orienta a psicóloga. “A ciência da felicidade e da alegria é bastante clara: é bom para a mente, bom para o corpo, bom para a resiliência ao estresse”, diz Elissa.
Ela pontua, porém, que perseguir a felicidade incansavelmente pode deixar a pessoa obsessiva e tirar o lado positivo em apenas desfrutar de momentos simples do cotidiano em que se sentem bem.
“Felicidade e gratidão nos dão essa capacidade de reserva, a carga de nossa bateria. Eles nos fornecem os recursos para diminuir o zoom, adotar uma perspectiva saudável, ver o desafio, permanecer flexíveis e resilientes”, explica.