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Um terço dos adultos acima de 35 anos tem gordura no fígado e maior risco para diabetes

Um terço dos adultos com mais de 35 anos apresenta gordura no fígado e tem maior risco de desenvolver diabetes do tipo 2.

Além disso, a chance de ter um diagnóstico de diabetes por apresentar o acúmulo de gordura no fígado foi cerca de 38% maior em mulheres e 29% maior em pessoas com uma circunferência abdominal elevada.

O estudo foi o primeiro a caracterizar a doença gordurosa do fígado não alcoólica (ou Nafld, na sigla em inglês) como um fator de risco para o diabetes, que vem crescendo no Brasil. Ele foi conduzido por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), do Hospital das Clínicas da UFMG, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e da USP (Universidade de São Paulo).

Para avaliar a incidência de diabetes na população, os cientistas analisaram dados do ELSA (estudo longitudinal da saúde adulta), uma pesquisa iniciada em 2008 por universidades e um instituto de pesquisa em seis capitais no país: UFMG (Belo Horizonte), Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo – Vitória), USP (São Paulo), UFBA (Universidade Federal da Bahia – Salvador), UFRGS (Porto Alegre) e Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz – Rio de Janeiro).

No total, 8.166 participantes, escolhidos entre funcionários ativos ou aposentados desses locais com idade de 35 a 74 anos, foram acompanhados por um período de três anos.

De acordo com a pesquisa, 35,1% dos participantes foram diagnosticados com gordura no fígado, ou esteatose hepática. Destes, 20% apresentavam a chamada esteatohepatite, uma inflamação não alcoólica também conhecida como Nash, na sigla em inglês.

A prevalência de esteatose hepática foi maior nos indivíduos com baixa escolaridade (41% em quem tinha até o ensino fundamental completo contra 33,4% naqueles com ensino superior completo) e nas pessoas com sobrepeso (44%) ou obesidade (34,5%).

A presença de gordura no fígado aumentou em 30% o risco de se desenvolver diabetes, segundo o estudo. Já a incidência acumulada de diabetes (número de diagnósticos dividido pelo total de participantes ao longo do tempo) foi de 5,25% na população geral. Em indivíduos com doença da gordura no fígado, a incidência observada foi de 7,83%, contra 3,88% em quem não tinha o acúmulo de gordura.

Para Luciana Costa Faria, gastroenterologista e professora de hepatologia na Faculdade de Medicina da UFMG, a descoberta da esteatose hepática como fator de risco para diabetes preocupa pois ela pode estar associada também a outros problemas de saúde, como hipertensão e alterações no colesterol. “Sabemos hoje que os indivíduos com doença da gordura no fígado não irão morrer por isso, mas eles têm alta mortalidade por doenças cardiovasculares, e tanto o diabetes quanto os outros componentes aumentam o risco de problemas cardiológicos”, explica.

A esteatose hepática pode ser diagnosticada por meio dos exames de imagem, como ultrassonografia, mas muitas vezes os pacientes buscam o exame para investigar outra condição. “Em geral, as pessoas encontram a gordura no fígado e pensam que é só gordura no fígado, mas não é bem assim. Em um quinto dos casos ela evolui para a esteatohepatite, que já apresenta lesões e inflamação do órgão, e em 20% destes casos pode evoluir para uma fibrose ou cirrose hepática”, afirma.

Como a gordura no fígado é reversível pela mudança de hábito de vida e perda de peso, Faria explica que é melhor procurar conter os sinais da doença antes que ocorra a progressão.

“A perda de 5% do peso já pode levar à regressão da esteatose, enquanto é preciso perder de 7% a 10% para reduzir a esteatohepatite ou a fibrose. A gordura no fígado pode ser revertida e inclusive atuar diminuindo os riscos de desenvolver diabetes e outros problemas de saúde“, explica.

Uma dieta rica em alimentos naturais e a prática regular de atividade física são boas saídas para evitar o acúmulo de gordura. “Se alimentar mal, com o consumo elevado de ultraprocessados, e o sedentarismo são fatores de risco não só para a esteatohepatite mas também para as doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, e câncer”, afirma.

 

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