Fim da emergência da Covid: países relaxam exigências para turistas; veja o que dizem especialistas
Desde a última semana, a apresentação de comprovantes de vacinação contra a Covid-19 deixou de ser obrigatória para entrar nos Estados Unidos. Trata-se de uma decisão que vem na esteira do fim da emergência de saúde púbica de emergência internacional pelo coronavírus, declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o que demonstra o evidente enfraquecimento da doença globalmente. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por outro sua vez, retirou a obrigatoriedade da apresentação do mesmo tipo de documento para cruzeiros no país , também nos últimos dias. Para os especialistas, o fim desse tipo de obrigação casa com o novo capítulo da doença em que a cautela ainda se faz necessária, mas que medidas mais extremas podem ser flexibilizadas com maior tranquilidade.
As restrições mais duras passaram a cair de maneira gradual desde o ano passado, quando outros países começaram a eliminar limitações do tipo, caso do Reino Unido e da França, para ficar em dois exemplos. Em São Paulo, qualquer obrigatoriedade do tipo foi retirada no mês de fevereiro deste ano, sob a justificativa de que 90% dos paulistas já tinham cumprido o esquema inicial de vacinação completo. Ideia que não é refutada por especialistas.
— Como medida de prevenção coletiva, no estágio atual da pandemia não faz mais sentido fazer essa exigência para entrada (no país). As combinações, inclusive, dos esquemas vacinais estão mais complexas. Há, por exemplo, pessoas com doses, vacinas diferentes. Como classificar um esquema completo? É muito mais difícil fazer isso hoje em dia — diz o epidemiologista Wanderson de Oliveira, ex-secretário do Ministério da Saúde. — É preciso lembrar, porém, que estamos no inverno do Hemisfério Sul, o que traz o aumento das doenças respiratórias. Então é bom que as pessoas fiquem em casa se notarem algum sintoma para doenças respiratórias, higienizem as mãos, ventilem os ambientes. Sobretudo as pessoas com comorbidades, que devem ficar atentas diante de qualquer sinal de adoecimento.
A ideia ecoa o que pensa o infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Julio Croda, que vê o fim da emergência pela OMS como ponto de inflexão para obrigatoriedades do tipo.
— Com o fim da emergência de saúde pública, essas condicionantes, como o pedido do passaporte vacinal, devem deixar de ser obrigatórios. Pois elas estão (normalmente) vinculadas à existência dessas emergências. A própria OMS deixa claro que a vacina da Covid-19 deve ser incorporada ao calendário habitual. Deixa de ser para toda a população e foca em um público específico — diz o especialista. — Num cenário de pandemia, a vacina não tem o objetivo reduzir a transmissão de uma nova variante, por exemplo. O imunizante tem impacto na redução de hospitalização e óbitos. Quando temos, porém, um volume grande da população protegida, seja pela vacina ou pela infecção prévio, vamos vendo o risco de hospitalização reduzido. Prova disso é que não estamos vendo as novas variantes causarem pressão no sistema de saúde. Por isso a doença deixou de ser uma emergência de saúde — conclui Croda.
Apesar da movimentação interna dos estados e internacional, o Brasil ainda mantém a obrigatoriedade de apresentação de vacina ou testes para viajar, por meio de uma portaria interministerial. Embora muitos viajantes relatem passar livremente pelos guichês sem a checagem.
Em cenário diferente, porém, está a febre amarela. Para essa doença, dezenas de países pedem o Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia (CIVP). Entre eles estão a África do Sul, China, Colômbia, Bolívia e Angola para atravessar suas fronteiras. Os especialistas explicam que as duas doenças (gripe e Covid) estão em patamares diferentes de controle e disseminação, o que explica a diferença entre as obrigatoriedades.
— Muitos países pedem essa vacinação da febre amarela para que a doença não cheguem lá. Isso porque nessas localidades pode haver o mosquito Aedes aegypti (o agente transmissor), mas não as pessoas infectadas. Com a ausência de alguém com a doença não há a transmissão, mesmo que o local tenha a presença do mosquito. Então esse passaporte, essa restrição, faz sentido — afirma Wanderson Oliveira, que lembra ainda que a mortalidade da febre amarela chega a 30%, enquanto da Covid-19, no atual patamar, não alcança 1%
Nova etapa
A esta altura do campeonato, o passaporte da vacina não resolve um problema crônico para as campanhar de imunização: a baixa adesão às doses de reforço. Prova disso é que a vacinação com o imunizante bivalente, da Pfizer, foi aberto para todos os adultos, diante da sobra de doses dedicadas aos públicos prioritários.
Nesse sentido, em entrevista recente ao GLOBO, o novo diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Éder Gatti, afirmou que o Ministério da Saúde pensa em novas estratégias para os programas recorrentes de vacinação no país, para todas as doenças. Neles, haverá maior foco nos municípios, que poderão orientar as estratégias de aplicação de vacina conforme suas necessidades. Com isso, a vacinação em escolas, com horários estendidos e ambientes públicos, serão mais utilizadas. O que pode turbinar as taxas vacinais para todas as doenças, além da Covid-19.