POLÍTICA

CPI do 8 de janeiro: governistas planejam mirar em Anderson Torres para emparedar Bolsonaro

Enquanto o cerco judicial se fecha para o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, preso desde 14 de janeiro, o governo pretende usar a CPI dos Ataques Golpistas para atingir o ex-auxiliar de Jair Bolsonaro, emparedar o ex-presidente e tomar as rédeas da investigação. O trabalho dos parlamentares deve começar na próxima semana, com a expectativa de que o assunto domine a pauta do Congresso. Nesta sexta-feira, Torres teve mais um pedido de liberdade negado, desta vez pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O magistrado manteve decisão de Alexandre de Moraes, que elencou alguns motivos para mantê-lo preso. Um deles é justamente o tema que deve ser levado à CPI: as blitzes promovidas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno da eleição presidencial do ano passado.

Além de ser suspeito de usar a máquina pública para interferir no resultado do pleito, com o planejamento de barreiras policiais para atrapalhar a locomoção ou impedir eleitores de votar em Luiz Inácio Lula da Silva, Torres é investigado por ter sido conivente com os ataques às sedes dos três Poderes. No dia 8 de janeiro, ele estava à frente da Secretaria de Segurança do Distrito Federal, mas encontrava-se nos Estados Unidos, onde tirava férias. Em sua casa também foi encontrada uma minuta golpista que previa a intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Para enfrentar a CPI, a avaliação no Palácio do Planalto é que as apurações não podem ficar restritas ao dia das invasões. As ações da PRF no segundo turno ocorreram principalmente no Nordeste, e são investigadas pela Polícia Federal por suspeita de ação deliberada para dificultar o transporte de eleitores. Dias antes da eleição, Torres viajou para a Bahia e se reuniu com a cúpula local da Polícia Rodoviária.

Pelo plano definido pelo governo, a cronologia das investigações da CPI começará com as operações nas estradas, passará pelos ataques ocorridos em Brasília no dia 12 de dezembro, data da diplomação de Lula, abordará ainda os acampamentos em frente aos quartéis do Exército e chegará ao dia da tentativa de golpe.

Em reunião de Lula com ministros na última quinta-feira, a avaliação foi que a comissão pode ser mais célere que a Justiça para tomar medidas como a quebra de sigilos bancários e telefônicos, o que pode incriminar bolsonaristas e derrubar a a versão de que o governo foi conivente com os ataques de 8 de janeiro.

Nas palavras de um ministro, a CPI será “um tiro no pé para os bolsonaristas”. A gestão Lula acredita que as informações colhidas pela comissão podem ser compartilhadas com a Justiça e acelerar o inquérito que corre sob supervisão do Supremo.

Na última quarta-feira, após receber laudo médico, a defesa de Torres tentou pedir a sua liberdade ao alegar que o ex-ministro estava mais magro e deprimido. Também foi citado o risco de ele cometer suicídio. Ontem, o ministro Alexandre de Moraes deu 48 horas para que a Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal informe se tem as condições necessárias para garantir a saúde de Torres ou se ele deve ser encaminhado a um hospital penitenciário.

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