Barão Vermelho, há 40 anos vendo o dia nascer feliz
“Como vai, Maurício?” “E aí, Guto?” O cumprimento dos dois velhos companheiros de Barão Vermelho, no papo por vídeo com o GLOBO, até parece história de quem não se conhece tão bem. Obviamente não é o caso de dois dos músicos que, ainda na adolescência, começaram a tocar seus (precários) instrumentos na garagem da casa da família de Maurício, no Rio Comprido, no distante ano de 1981: Guto Goffi na bateria, Maurício Barros nos teclados, Roberto Frejat na guitarra e Dé Palmeira no baixo. Eles chegaram a ensaiar com um cantor dançante e topetudo, um goiano de nome Léo Jaime, que achou que a onda stonesiana da banda não era a dele e indicou um amigo, de nome Agenor. Mas na versão do Barão Vermelho que chega aos 40 anos (a contar do lançamento do primeiro disco, em 1982), a intimidade não era tão grande até a interrupção causada pela pandemia.
— O período de ensaios para o especial e o show dos 40 anos foi fundamental para a gente conviver, principalmente com o Suri (Rodrigo Suricato, que canta e toca guitarra no Barão desde 2017, com a saída de Frejat) — avalia Guto. — A banda se reuniu no meu estúdio em Botafogo, pequenininho, onde só cabemos mesmo nós e os instrumentos. Isso foi muito importante. A gente chega, pluga e toca.
Mais jovem do que Guto e Maurício no Barão e na vida, Suricato diz que a formação se tornou, de fato, uma banda — completa por Fernando Magalhães, há 37 anos com o grupo, na guitarra, e o convidado Márcio Alencar no baixo — ao longo da pandemia (quando foi discutido o projeto dos 40 anos) e nos ensaios.
— Foi também uma maneira de lavar a roupa suja, com todos mais à flor da pele — diz ele. — Ali nos tornamos amigos de fato. Eles foram mais receptivos às minhas ideias, de reconstrução dos arranjos, até de músicas como “Bete Balanço”. Hoje acho que tenho a perspectiva do fã, que sempre fui, aliada àquela do integrante.
A camaradagem — e o inevitável clima de zoação que vem junto —está visível nos quatro programas estrelados pelo Barão Vermelho para o canal BIS, com direção de Rodrigo Pinto. A partir da gravação de um show no Teatro Net Rio, a banda conversa, fala de sua história, do repertório escolhido e recebe convidados como Chico César (em “Por você”), Samuel Rosa (“Maior abandonado”) e o velho companheiro Frejat (“Pro dia nascer feliz”). Os quatro episódios estão na programação do BIS e disponíveis no Globoplay, além de servirem de base para o show de 40 anos do Barão Vermelho, que chega sábado (1-10) ao Circo Voador.
— A gente conversou e chegou ao formato do especial, separado em EPs (e episódios) chamados “Sucessos”, “Clássicos”, “Acústico” e “Baladas e blues” —conta Maurício. —Os fãs ficaram amarradões, especialmente com o acústico e o de blues.
Como praticamente todo mundo que estava na ativa na época de ouro da MTV, o Barão Vermelho gravou seu especial unplugged, aquele dos violões, instrumentos acústicos e convidados, mas o resultado mal chegou ao mercado.
— O nosso foi um dos primeiros, ainda em caráter experimental, e acabou que não se tornou um produto como deveria ter sido — lembra Guto. — Ficamos devendo um acústico para os fãs, e agora aproveitamos a habilidade do Suri no violão, que ele toca muito bem.
Suri agradece, sem falsa modéstia.
— O folk foi a minha maior expressão durante muitos anos —diz ele, que, além do Suricato, banda que lidera desde 2009, acompanhou artistas do pop-rock como Paulinho Moska e Ritchie. —Sei que toco um violão diferente, me dediquei muito a isso. E acho que muitas vezes essa é a melhor forma de mostrar a força e a atemporalidade de uma canção, sem a necessidade de uma guitarra alta e virtuosa.
No especial de TV e nas plataformas digitais, “Barão 40 (acústico)” traz músicas como “Maior abandonado”, “Sorte e azar”, “Flores do mal” e o novo arranjo de “Bete Balanço”, em que o solo original de Roberto Frejat é substituído por uma melodia vocal. O bloco está garantido no show do Circo.
— Vamos ter a nossa noite de Grateful Dead —brinca Suri, evocando a lendária banda americana dos anos 1970, famosa por seus seguidores fanáticos, os Deadheads, e pelos shows intermináveis. —O Circo Voador é a casa do Barão Vermelho, é bem diferente do resto da tour. Vamos fazer um show bem mais longo do que os que a gente faz por aí. Você sabe, quando o bufê é para os amigos, é melhor sobrar do que faltar.
É possível que nem todas as canções dos quatro EPs (“Acústico” e “Sucessos” já foram lançados; “Blues e baladas” é lançado nesta sexta-feira (30-9); e “Clássicos” vem em outubro) apareçam no show, mas a diversão para os fãs parece garantida. O Barão ainda promoveu um concurso para escolher a atração de abertura, vencido pelo blueseiro Trio Frito. Mas e os convidados, que, segundo os próprios barões, emprestaram tanto brilho à festa dos 40 anos?
— Pode ser que apareça um, de surpresa —diz Guto, que não esquece os companheiros que já partiram. —Com certeza, Cazuza, Ezequiel (Neves, eterno produtor do Barão) e Peninha (percussionista) estarão lá com a gente.
Onde: Circo Voador. Rua da Lapa s/nº. Quando: Sáb (1-10), às 22h. Quanto: a partir de R$ 70 (em eventim.com.br). Classificação: 18 anos.